Era um domingo de sol intenso. O céu de um azul profundo não albergava nuvens brancas ou negras que ousassem toldar na beleza daquele momento.
A beira mar as pessoas caminhavam alheias ao que acontecia à sua volta e estavam imersas em seus pensamentos, ânsias, desejos ou talvez, até, frustrações.
E assim caminhando e pensando em como resolveria todos os problemas que tinha em sua vida, cansado, ele sentou-se na cálida areia.
Ali sentado permaneceu por um longo tempo relaxando o corpo, descontraindo e ao mesmo tempo usufruindo das benesses que lhe ofertavam ao físico e à visão, as ondas do mar, onde as gaivotas pousadas procuravam seu alimento, bem como, o calor reconfortante do sol que lhe banhava com sua luz, fazendo com que seu pensamento voasse a outras paragens que não às tensões do dia a dia.
Nestes momentos esqueceu-se da família, de seu desamor para com ele, de quanto eles o julgavam insignificante e sem valor e o tinham, junto a si, somente para que provesse às necessidades constantes de todos eles.
A indiferença de todos às suas necessidades e aos seus sentimentos lhe doíam profundamente.
Muitas vezes pensou em suicidar-se, porém sua educação e respeito pela vida lhe tolheram atos mais drásticos neste sentido.
Tão ensimesmado se encontrava na observação e contemplação deste momento junto à natureza que só agora percebeu a presença de um homem bem próximo a si. Este o observava atentamente. Trazia nas mãos um caderno e uma caneta com a qual fazia algumas anotações.
A curiosidade dele se apoderou e também começou a observar aquele homem.
Aquele escrevia rápido e com alguma sofreguidão.
A curiosidade foi mais forte que a discrição e aproveitando um intervalo de tempo em que o outro não escrevia lhe perguntou o que fazia com tanto empenho e obstinadamente.
O outro trazendo ao rosto um sorriso amigo lhe respondeu que era escritor, mais precisamente um poeta.
Luiz, pois que assim se chamava o caminhante, perguntou então ao poeta, não contendo mais sua curiosidade, se poderia ler aquilo que estava escrevendo, ao que o interpelado lhe respondeu que sim, porém que o poema ainda necessitava ser burilado e por certo ainda estava inacabado.
Em ato seguinte lhe estendeu o caderno onde estava escrito o mencionado poema:
EXALTAÇÃO
Autor:.....
Traduzido por:....
Mil cores a água cristalina espelha
Nas ondas a espraiarem-se.
É o Sol que nos brinda
no céu azul deste dia.
A alma alegre exulta
e na beleza intensa se extasia,
se funde em tudo e nesta magia
voa com os pássaros e em alegria
ao infinito se alça e paira...
Despede-se do que a angustia,
vibra, dança, canta e em hosanas,
agradece o pão nosso à Vida.
Luiz emocionado e com lágrimas nos olhos agradeceu ao estranho poeta, de quem nem o nome sabia, por lhe haver permitido ler e trazer, naquele momento, à sua vida uma nova visão.
O poeta lhe sorriu e lhe estendeu a mão em despedida e lhe disse que aquele poema era para ele, o caminhante, uma vez que lhe sentiu a dor ao vê-lo sentar-se ali.
Luiz levantou-se, olhou mais uma vez ao poeta, ao mar e às gaivotas que agora levantavam voo.
Emocionado ainda, seguiu lentamente a caminhar deixando as marcas de seus pés na areia úmida da praia.