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Uma manhã

U

Silvia C.S.P. Martinson

Quando as ondas se rompem na praia
e o mar ilumina meus olhos com sua majestade,
eu me sinto tão pequena ante tanta magnitude.
E por suposto a minha gratidão
é só e somente,
por tudo com que a vida me há presenteado:
por todas as coisas boas que há semeado,
pelas sementes que em minhas mãos há deixado,
por todas as alegrias que tive.
Elas com seus movimentos,
seus indos e vindos
recordam-me que sou como um barco
ao capricho do vento,
navegando através do tempo.
Debaixo do sol em calorosos dias.
Debaixo da lua em sua beleza pura.
Com força e coragem,
superando as dificuldades
nas noites mais escuras.

Sou muito más além de mim

S

Silvia C.S.P. Martinson

 
Sou muito mais, além de mim,
verdade... Eu sou assim!
Quando a luz do dia
morre e a noite enfim
vem toldar as esperanças,
eu ressurjo das cinzas
e me cubro com a alegria
de saber que sou eterna,
que estou somente passageira
nesta barca, que vagueia
por ondas necessárias, pequeninas,
desta transitória carne,
nesta inevitável vida.

A tua ausência

A

Silvia C.S.P. Martinson

Pelas ruas solitária caminhava
a sentir como punhaladas
o vazio, incongruências,
em meu coração assinaladas.
Hás partido e o que hás vivido,
nos caminhos deixaste esquecido,
deixastes sem remorsos:
o tão grande carinho
e todo o amor recebido.
A vida te roubou,
a terra que te encontrou
de mim usurpou
a alegria, a esperança,
deixando à tua ausência
somente do amor
só dor. E de ti total carência.
Como dói!
A tua ausência...

Canções

C

Silvia C.S.P. Martinson

Canção de pássaro
morto na alçada
do voo que liberta,
tal qual guerreiro oprimido,
que se desacorrenta
e audaz,
inocente,
levanta a espada
pela última vez.
Canção de pobre
rastejante andrajo,
de gente esquecida,
pois humana não é.
Passou das escalas
e na vida não conta.
O zero lhe é muito
e em nada se faz.
Canção de inconscientes
e falazes, de egoístas
e traidores,
são a nata e a ralé
de toda a sociedade.
Com esquadro
não se medem,
e na tortuosidade
se integram.
Canção de todos
os bons
que trabalham e enobrecem,
que constroem,
baseificam e enaltecem
os sentimentos mais puros
e as ações mais retas
em benefício do Homem,
da verdade e do amor.
Canção de todos,
para todos,
é a vida que surge
sedenta, nos olhos
da criança em flor,
pródiga e boa
em cada dia
que nasce, para o fitar
de um sonhador.

Sei

S

Silvia C.S.P. Martinson

 
Sei que lembrarás de mim,
no vento que passa,
na flor que se abre,
na primavera que chega,
na chuva que se vai.
Lembrarás eu sei,
na saudade que fica,
no verde do mar,
no profundo sentido,
da onda que se esvai,
no ciclo dos tempos
e na lágrima que cai.
Sei que lembrarás, eu sei,
em cada dia que nasce,
em cada tarde que morre,
na noite que chega silente,
como a gota,
compassada, dolente,
nas águas mansas que seguem,
na palmeira que se debruça
e na sombra dos pinheirais.
Na tristeza de mais um sonho,
teu, que na bruma se esvai.
Eu... Sei.

Promessa fracassada

P

Pedro Rivera Jaro 

Traduzido ao portugués por Silvia C.S.P. Martinson

   

Cerquei-me a ti por teu sorriso
que me promete o que teus olhos dizem,
o que adivinho em seu brilho
e que cala tua silenciosa boca.

Isso era ao menos o que eu acreditava
até comprovar que tua promessa desaparecia
e tampouco teus olhos não expressava a verdade
e que seu brilho, hás perdido de imediato
enquanto a tua boca deixou de ser silenciosa
e começou a falar, a falar, a falar.

Cordas

C

Silvia C.S.P. Martinson

No lamento da guitarra
chora a alma do poeta
o Olé do amor perdido,
que no picadeiro da vida
caminhou em outro sentido.
E nas cordas gemendo
dedilha a dor da alma,
no “ pasodoble” das horas
a falta da mulher amada.
Para ela, que não retorna,
chora a dolente canção
dele que, espera
e jamais a alcança.
E na tourada do tempo
perde o homem a espada
e ao beijo, carinho não dado,
ganha a morte, da sorte,
a carta mal lançada.
As cordas num acorde
pungente choram,
pela última vez, agora.

Andrajos de Pátria

A

Silvia C.S.P. Martinson

Nos grilhões
da tirania,
da desonra,
não vibra meu povo
nem clama,
nem grita.
No ostracismo da vontade,
no império da força,
na imprensa muda,
vende-se o homem
e seus ideais maiores
jazem na terra batida,
sem marcas,
sem lágrimas,
rendidos ao tacão
da bota cruel.
Arrasta-se o povo, meu povo sedento
de paz e de amor,
impelido aos extremos
sem armas, sem pão
e sem fé.
Não vibra meu povo,
Não há esperanças.
Não ouve a voz
do jovem protesto
que se eleva da turba
e nela se afoga
ao grito maior
da granada e do algoz.
O mártir não convence
e é injuriado.
O bom se corrompe
e mau se faz.
Potentado à custa
da Pátria oprimida.
Meu povo onde estás?
Teu grito é agora,
necessário se faz!
E nós outros queremos,
somente, únicamente,
a Paz

Paz nos teus olhos

P

Pedro Rivera Jaro

Traducido al portugués por Silvia C.S.P. Martinson

És a paz na tua beleza
És um farol na minha tempestade
Tu que acalmas as minhas loucuras
Com tua paciência tão pura
Cheiras-me a menta
Que tem a hortelã-pimenta
E a minha agitação transformas
Com a PAZ EM TEU OLHAR
Numa jangada de óleo
Porque eu comecei a notar
Agora que voltaste para mim
Zumbido o das tuas abelhas
Entrando pelos meus ouvidos
Noto o perfume que na tua presença
Todo que a meu ser envolve, e colhendo
Um cacho de uvas doces
Mordendo-as uma a uma
Insisto em comer devagar
Roendo-as, rebentando-as, desacelerando
Absorvendo a sua doçura líquida
Devidamente espremendo
As sementes separando-as com cuidado

Fugir

F

Silvia C.S.P. Martinson

À longe vou caminhar
e ninguém me vai encontrar,
porque vou andar
por estrelas e galáxias
nos céus acima daqui.
E por lugares distantes
a alegria e a paz acharei.
A esquecer e apagar
da Terra e de meu lar,
do meu coração o farei,
de um amor desmedido
que quis ofertar,
desprezado por medo,
medo de voltar a renascer.
Vou a muito longe andar
em busca da noite, do luar,
das estrelas, que sobre a tundra
sua luz deixam, ao escurecer,
até que que um novo dia;
a termine por romper.

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