O poeta

O

Silvia C.S.P. Martinson

Era um domingo de sol intenso. O céu de um azul profundo não albergava nuvens brancas ou negras que ousassem toldar na beleza daquele momento.
 
A beira mar as pessoas caminhavam alheias ao que acontecia à sua volta e estavam imersas em seus pensamentos, ânsias, desejos ou talvez, até, frustrações.
 
E assim caminhando e pensando em como resolveria todos os problemas que tinha em sua vida, cansado, ele sentou-se na cálida areia.
 
Ali sentado permaneceu por um longo tempo relaxando o corpo, descontraindo e ao mesmo tempo usufruindo das benesses que lhe ofertavam ao físico e à visão, as ondas do mar, onde as gaivotas pousadas procuravam seu alimento, bem como, o calor reconfortante do sol que lhe banhava com sua luz, fazendo com que seu pensamento voasse a outras paragens que não às tensões do dia a dia.
 
Nestes momentos esqueceu-se da família, de seu desamor para com ele, de quanto eles o julgavam insignificante e sem valor e o tinham, junto a si, somente para que provesse às necessidades constantes de todos eles.
A indiferença de todos às suas necessidades e aos seus sentimentos lhe doíam profundamente.
 
Muitas vezes pensou em suicidar-se, porém sua educação e respeito pela vida lhe tolheram atos mais drásticos neste sentido.
 
Tão ensimesmado se encontrava na observação e contemplação deste momento junto à natureza que só agora percebeu a presença de um homem bem próximo a si. Este o observava atentamente. Trazia nas mãos um caderno e uma caneta com a qual fazia algumas anotações.
 
A curiosidade dele se apoderou e também começou a observar aquele homem.
Aquele escrevia rápido e com alguma sofreguidão.
 
A curiosidade foi mais forte que a discrição e aproveitando um intervalo de tempo em que o outro não escrevia lhe perguntou o que fazia com tanto empenho e obstinadamente.
 
O outro trazendo ao rosto um sorriso amigo lhe respondeu que era escritor, mais precisamente um poeta.
 
Luiz, pois que assim se chamava o caminhante, perguntou então ao poeta, não contendo mais sua curiosidade, se poderia ler aquilo que estava escrevendo, ao que o interpelado lhe respondeu que sim, porém que o poema ainda necessitava ser burilado e por certo ainda estava inacabado.
 
Em ato seguinte lhe estendeu o caderno onde estava escrito o mencionado poema:
EXALTAÇÃO
 
Autor:.....
Traduzido por:....
 
Mil cores a água cristalina espelha
Nas ondas a espraiarem-se.
É o Sol que nos brinda
no céu azul deste dia.
A alma alegre exulta
e na beleza intensa se extasia,
se funde em tudo e nesta magia
voa com os pássaros e em alegria
ao infinito se alça e paira...
Despede-se do que a angustia,
vibra, dança, canta e em hosanas,
agradece o pão nosso à Vida.
 
Luiz emocionado e com lágrimas nos olhos agradeceu ao estranho poeta, de quem nem o nome sabia, por lhe haver permitido ler e trazer, naquele momento, à sua vida uma nova visão.
 
O poeta lhe sorriu e lhe estendeu a mão em despedida e lhe disse que aquele poema era para ele, o caminhante, uma vez que lhe sentiu a dor ao vê-lo sentar-se ali.
Luiz levantou-se, olhou mais uma vez ao poeta, ao mar e às gaivotas que agora levantavam voo.
 
Emocionado ainda, seguiu lentamente a caminhar deixando as marcas de seus pés na areia úmida da praia.

Sobre el autor/a

Silvia Cristina Preissler Martinson

Nasceu em Porto Alegre, é advogada e reside atualmente no El Campello (Alicante, Espanha). Já publicou suas poesias em coletâneas: VOZES DO PARTENON LITERÁRIO lV (Editora Revolução Cultural Porto Alegre, 2012), publicação oficial da Sociedade Partenon Literário, associação a que pertence, em ESCRITOS IV, publicação oficial da Academia de Letras de Porto Alegre em parceria com o Clube Literário Jardim Ipiranga (coletânea) que reúne diversos autores; Escritos IV ( Edicões Caravela Porto Alegre, 2011); Escritos 5 (Editora IPSDP, 2013) y en español Versos en el Aire (Editora Diversidad Literaria, 2022)
Participou de concursos nacionais de contos, bem como do GRUPO DE ARTISTAS E ESCRITORES DO GUARUJA — SP, onde teve seus poemas publicados na coletânea ARAUTOS DO ATLANTICO em encontros Culturais do Guarujá.

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