Silvia C.S.P. Martinson
Caminhava pela rua quando e não sei bem porque, lembrei-me de um fato que ocorreu em minha infância.
Era dia 24 de dezembro. Dia de Natal.
Neste dia às 12 horas da noite o Papai Noel costumava deixar presentes debaixo da árvore de Natal. É o dia em que se comemora o nascimento de Jesus Cristo.
Em minha casa esta tradição sempre foi obedecida. E nas casas de meus vizinhos também.
Naquele tempo não havia lâmpadas próprias para enfeitar a árvore de Natal. Somente existiam bolas coloridas que eram de vidro ou cerâmica e se quebravam facilmente.
Várias vezes ao enfeitar a árvore com estas bolas as deixamos cair e se quebraram em mil pequenos pedaços.
Por muitos anos as tive guardadas como lembrança em minha casa.
As guirlandas de enfeite eram caras e feitas de papel alumínio quando prateadas, ou havia outras de papel tingido de verde e mais baratas.
Os enfeites luminosos se constituíam de pequenas velas de cera coloridas, que eram acesas com fósforos e se queimavam lentamente, proporcionando ao ambiente uma luminosidade bruxuleante que a todos encantava, apesar do perigo que ofereciam.
As ávores sempre eram pinheiros colhidos nas matas locais.
Nosso vizinho o senhor Osvaldo primava por fazer todos os anos uma bela árvore de Natal.
Pelo que me recordo, cada vizinho procurava fazer a sua mai8s bonita b que a dos outros, mais alta, mais iluminada, mais enfeitada e com um lindo presépio em sua base.
Este presépio constituía-se de imagens de cerâmica representando o nasciento do menino Jesus, sua família, o estábulo onde nascera, os reis magos e a paisagem ao seu derredor.
Havia entre os vizinhos e isto hoje me parece uma quase competição, não manifestada, porém evidente, de quem fazia a árvore mais bonita daquela rua. Até porque depois da meia noite tinham o hábito de visitar a casa de um e de outro para os devidos abraços e cumprimentos pela data natalícia, quando então admiravam e elogiavam, não sem um pouco de inveja, os trabalhos executados.
As árvores eram adquiridas em determinadas ruas onde ficavam expostas por vendedores que ali se postavam a fim de vendê-las.
Lembro-me que os preços variavam de acordo com o porte e beleza da árvore exposta.
Os homens da vizinhança saiam cedo para comprá-las.
As mulheres se detinham nas cozinhas a preparar a ceia de Natal, que normalmente se constituía de um peru assado acompanhado de saladas, arroz e frutas cristalizadas por aqueles que as podiam comprar.
A nós crianças, cabia-nos ajudar a enfeitar a árvore o que nos dava muita alegria quando solicitados a fazê-lo.
Pela tarde tomávamos banho e nos arrumávamos para a tão esperada ceia.
Esperada sim, porque depois dela éramos induzidos a sair para a Missa do Galo que se dava as 12 horas da noite.
E para “surpresa” de todas as crianças de minha época o Papai Noel já havia passado por nossas casas e deixado ao pé da árvore um presentinho que variava, hoje sei, de qualidade conforme as posses de cada família.
No entanto, lembro ainda, daquele Natal em especial em que o senhor Osvaldo preparou uma grande árvore e nela colocou muitas velas acesas a arder e foram cear na sala de janta. E ali estavam quando sentiram um forte cheiro de queimado.
Dirigiram-se à sala onde estava a dita árvore e esta simplesmente ardia em chamas já altas queimando quase tudo a sua volta.
A casa era de madeira, as chamas já alcançavam o teto que, felizmente, tinha um “pé direito” muito alto.
Com grande esforço toda família e vizinhos ajudaram a apagar o fogo.
O Natal se quedou triste para todos os amigos da vizinhança que de uma forma ou outra auxiliaram esta família pelo menos no conforto espiritual, já que os festejos para eles estavam acabados.
Eram meus amigos de infância, os pais trabalhavam muito e eram pessoas que se esforçavam para dar o sustento e educação aos seus filhos.
E como tudo na vida...
Assim se passou.