Silvia C.S.P. Martinson
Em uma noite quente, de calor escaldante, ele sonhou, sonhou acordado.
Viu uma paisagem longínqua, de muito verde e de flores coloridas.
Criou coragem e pelos bosques caminhou, lentamente, sem pressa.
Movia-lhe uma curiosidade forte que não sabia de onde vinha e nem porque a sentia.
A lua derramava seus raios sobre tudo e as sombras na penumbra se moviam.
Pensou... Seriam elas reais ou fruto de imaginação sua.
Porém com o seu andar pelas cercanias, descobriu que as sombras eram verdadeiras.
Tinham forma, tinham cor, oscilavam, caminhavam.
Eram seres vivos que na noite se entretinham.
As árvores tinham vida a às flores cumprimentavam ais quando estas então lhes sorriam.
O chão por onde pisava ao seu contato exclamava:
- Pisa mais leve, por favor! Se possível voa, para não me causares mais dor!
O pasto sorridente lhe disse:
- Eis-me aqui felizmente! Sirvo para alimentar muita gente.
Ele surpreso então perguntou: a quem das de comer?
- a quem alimentas tu?
Este, ingenuamente respondeu:
- Alimento as formigas, as lagartas, desde a noite dos séculos, para que elas há seu tempo, como borboletas enfeitem os dias com suas cores luzentes.
E as sombras se moviam dando passagem ao intruso que no bosque adentrava cada vez mais espantado.
Os pássaros cantavam saudando a lua que cada vez mais a tudo clareava.
Até que como luz etérea ela, surgiu do nada.
Deslumbrou-o com seu olhar, como se a muito lhe conhecesse.
Ele pasmado, assombrado pelas lembranças, neste momento recordou-se.
Em passado distante a conhecera.
Era a mensageira protetora e amiga, sua fada madrinha, sua eterna companheira. A inspiração de seus dias.
Estendeu-lhe esta, as mãos e o convidou a segui-la.
O sonho virou realidade, para ele, e definitivamente, depois de tanto tempo, de muita dor e sofrimento, na noite eles seguiram, pelo resto de suas vidas.
E neste momento em que os dois finalmente consumam seu amor, com beijos e carícias por tanto tempo guardadas, ouve-se um som de trombetas, são os anjos que se acercam e dizem amém.
Ele então embevecido, ainda, ouve um som mais forte e estremece, é uma campainha a tocar.
Retorna de seu sonho e cambaleando vai à porta atender, não era ninguém.
Dá-se conta que sim, era o telefone que não parava de tocar.
Atendeu-o.
Era sua ex-mulher que por estar, ele, com a pensão atrasada, os filhos com fome, a escola sem pagar, passa então a vituperar maldizendo-o, por incompetente e estar sempre acordado a sonhar.
O idílio tão lindo, agora se desvanece, as ilusões somem da memória e se perdem para sempre, nesta vida, pelo ar.