Silvia C.S.P. Martinson
Vivia, quando criança, em um bairro afastado do centro da cidade que era a capital do estado. Na verdade era a última rua habitada daquele bairro que se chamava Passo da Areia.
Levava este nome porque um pouco mais distante, em tempos muito antigos, ali passara um riacho de águas límpidas margeado por areias muito brancas, assim me contaram.
Sobre este riacho pairava uma lenda muito bonita que contava a história de uma índia que em disputa com outra havia perdido o amor de sua vida e por tanto chorar de tristeza, de suas lágrimas, resultou o riacho que ali existe até hoje. Porém por ser tão forte a correnteza e a cidade ter crescido tanto foi o mesmo encanado a fim de unir os bairros que se expandiram.
Resta desta lenda a escultura que mostra Ubirici, a índia, a chorar.
Diante da estátua se localizava um centro de saúde que atendia às necessidades daquela região e ao qual muitas vezes fui levada por meus pais. O bonde então aquela época tinha ali seu fim de linha.
A nós crianças era um prazer seguir até ali para então voltar à casa atravessando um parque arborizado que se encontrava em meio a um condomínio, se assim podemos denominá-lo, chamado de IAPI. Ali foram feitos vários edifícios para habitação e destinados aos assegurados Inativos Aposentados do Instituto de Previdência. Daí o seu nome IAPI.
Esta praça que é dedicada ao lazer e para a prática de esportes chama-se Alim Pedro, pelo que me recordo. É bonita, nela há um declive muito arborizado que permitia uma sombra agradável aqueles que queriam ali desfrutar de momentos de paz e tranquilidade e também uma boa visão do campo de futebol que se localizava mais abaixo e onde aos fins de semana sempre havia um campeonato ao qual os aficionados também compareciam para apreciar e torcer.
Em um edifício deste grande complexo nasceu Elis Regina, cantora desde criança que se apresentava nas matines aos domingos e que ficou famosa por sua voz e estilo inolvidáveis, em todo país e até no exterior.
Lindas músicas gravou e nos deixou até sua morte, infelizmente prematura, restando-nos uma saudade eterna de ouvi-la.
Na última rua da cidade de Porto Alegre – Rio Grande do Sul – Brasil eu nasci e me criei. Chamava-se Dr. Eduardo Chartier em homenagem a um grande médico de antanho.
Ali me eduquei junto a minha família a quem a música e o teatro e a educação eram cultivados com amor e respeito
Ali cresci tendo por hábito sonhar de olhos abertos - em uma casa com amplo pátio, muitas árvores de frutas diversas e flores abundantes cultivadas por minha mãe - pelo que muitas vezes fui chamada a atenção por ela que dizia:
- Silvia para de sonhar e estuda!
Tinha então razão, naquela época, por certo.
Estudei como queriam me tornei advogada, às minhas expensas trabalhando. Formei-me com distinção e exerci minha profissão com denodo e muito trabalho.
Todavia, continuo a sonhar, a imaginar e em mil ilusões a criar meus contos, poesias e personagens.
É por isto que admiro a Natureza, os homens em sua complexidade, a vida em sua total beleza.
Motivo pelo qual sempre escrevo com muita paixão. Talvez o faça até o fim, quem sabe...