O vigarista

O

Silvia C.S.P. Martinson

 

Havia um ruído intenso. Quase não se podia ouvir o que ele falava. Porém, continuava a fazê-lo sem parar.

O homem não tinha vergonha; pensava-se jovem, apesar dos 78 anos que tinha. Foi casado várias vezes, cinco para ser mais exato. Culpa as mulheres por suas separações. Em sua opinião, todas têm algum defeito: ou físico, intelectual ou moral. Impressionante.

Está bem fisicamente, apesar de não ser um homem atrativo, porque é baixo e de certa forma feio. Relativamente, tem algum charme: é simpático. É europeu, fala bem em francês e espanhol. Como companhia de beira de praia para um bate-papo, é até interessante.

Para seus amigos ricos é especialmente prestativo. Sim, para seus amigos ricos. Em verdade, é o que mais lhe agrada, ou seja, ter amigos e mulheres muito ricas com as quais possa conviver e partilhar de suas festas e ambientes requintados. Aparentemente, é uma pessoa simples e, é claro, quando expõe sua situação financeira, todavia, entre suas palavras e ações, denotam-se verdadeiramente suas intenções.

Aos amigos que estão na mesma situação que ele, quando não tem ninguém, aproxima-se para encobrir sua solidão. No entanto, a estes negligencia na primeira oportunidade quando surge alguém mais aquinhoado. A vida também, às vezes, prega suas peças. E assim se passou.

Por um chat de internet, aonde procura conhecer pessoas normalmente para travar relações pessoais, conheceu uma mulher latino-americana que parecia bem colocada financeiramente. Bonita, de alta estatura e relativamente jovem para ele. A diferença de idade entre os dois se aproximava em 20 anos a mais para ele.

Foi visitá-la em sua cidade, hospedaram-se em um hotel e lá mantiveram relações sexuais que lhe pareceram bastante satisfatórias. Convidou-a para passar uns dias em sua casa na praia.

Ela veio. Chegou toda charmosa, encontrou-o na estação, ele fora buscá-la como costuma acontecer com homens educados. A senhora pensou então que encontrara o homem de sua vida, aquele que haveria de satisfazê-la em todas as suas expectativas, que eram: casar-se com um europeu para obter a cidadania europeia, um homem mais velho que pudesse dominar, rico e proprietário de bens materiais que fizesse com que a vida lhe fosse cheia de regalias e sem problemas com que se preocupar.

Ledo engano. Quando constatou a dura realidade, quando não teve acesso aos restaurantes que pretendia, quando viu que o apartamento em que ele vivia era alugado e que a comida era feita em casa e escassa, pensou em como se descartar da situação criada.

Urdiu então e executou com frieza, calculadamente, seu plano. Começou bebendo todas as cervejas que ele tinha armazenado em sua casa, mais ou menos umas quinze. Depois delas, dormiu toda a noite em sua cama, ocupando o lugar dele inclusive.

No outro dia, foram à praia e depois almoçar em um restaurante simples, onde tomou novamente umas oito ou nove cervejas sem, no entanto, se tornar embriagada. Ante o que via, ele se tornou cada vez mais aborrecido e frustrado em seus desejos de grandeza.

Surtiu efeito o plano dela. Ao final do fim de semana, ela se despediu e lhe disse:

"Adeus, amor! Simplesmente não combinamos em nossos gostos. Eu gosto de Champanhe francês e você? De água. Sinto!"

Sobre el autor/a

Silvia Cristina Preissler Martinson

Nasceu em Porto Alegre, é advogada e reside atualmente no El Campello (Alicante, Espanha). Já publicou suas poesias em coletâneas: VOZES DO PARTENON LITERÁRIO lV (Editora Revolução Cultural Porto Alegre, 2012), publicação oficial da Sociedade Partenon Literário, associação a que pertence, em ESCRITOS IV, publicação oficial da Academia de Letras de Porto Alegre em parceria com o Clube Literário Jardim Ipiranga (coletânea) que reúne diversos autores; Escritos IV ( Edicões Caravela Porto Alegre, 2011); Escritos 5 (Editora IPSDP, 2013) y en español Versos en el Aire (Editora Diversidad Literaria, 2022)
Participou de concursos nacionais de contos, bem como do GRUPO DE ARTISTAS E ESCRITORES DO GUARUJA — SP, onde teve seus poemas publicados na coletânea ARAUTOS DO ATLANTICO em encontros Culturais do Guarujá.

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