Me fui

M

María Manuela Asenjo

Traduzido para o português por Sílvia C.S.P. Martinson

E eu me fui.

E, no mesmo instante, você crispou num rictus amargo seu rosto lívido.

E depois vagou, contemplativo, pelas ruas escuras. Sem entender.

Muito tempo depois, ainda chorava lágrimas de aturdimento e regava o jardim com água salgada.

Num canto, num não sei, num porquê.

Inclusive você, ateu convicto, encomendou novenas em meu nome, pela minha alma. Que alma!

Agora, inimigo e ignorante da tecla e da técnica, você aprende Photoshop às pressas.

Retocando minhas melhores fotos, para conseguir a perfeita que presida esse altar.

Com velas, com rosas-chá, daquelas minhas, minhas preferidas, as que nunca conseguimos que crescessem.

Acorda suado de mil pesadelos.

Você, insociável incorrigível, solta frases de amor pela minha pessoa, louvores inúteis e tardios a todo ouvido que queira recolhê-las.

Agora, digo, agora… se eu soubesse, ironia no ar, não teria ido.

Mas eu me fui, e nunca cheguei a ver os altares, nem a me molhar com as lágrimas, nem a cheirar as rosas, nem a escutar as palavras que, por outro lado, você nunca teria dito se eu não tivesse ido.

Assim, a meu pesar… eu me fui.

Sobre el autor/a

María Manuela Asenjo

Maria Manuela Asenjo Ferrer, a Manoli, nasceu em 1956, no mesmo ano em que a TV apareceu na Espanha. Desde os anos 60, já escrevia. Com apenas 8 anos, junto com três amigas da escola, Cristina e Pili, escreveu seu primeiro conto. Era como uma Chapeuzinho Vermelho, mas ao contrário. Lia e escrevia às escondidas; seu pai era daqueles que diziam: "a menina deve estudar e ajudar em casa". Mas ela desobedeceu. Lia tudo o que caía em suas mãos. Escrevia de tudo: diários, contos, pensamentos, cartas a pessoas imaginárias. Com quarenta anos, inscreveu-se em oficinas; com mais de 50 anos, participou de um primeiro livro, e depois em mais quatro livros, com contos. Agora está trabalhando em uma obra muito especial: sua autobiografia.

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