Sílvia C.S.P. Martinson
Um amigo me disse que é histórico que os reis da antiguidade se sentavam em uma cadeira, semi aberta em seu assento, para ali fazer suas necessidades fisiológicas ao mesmo tempo em que recebiam seus convidados e embaixadores para conversar.
Estranho, prepotente e imagino estranhamente desagradável aos visitantes o cheiro daquele ambiente.
E me detive, não sei por que, a pensar em tal assunto.
Às vezes um fato nos leva a pensar ou recordar coisas que há muito tempo já se passaram.
Estranho...
Ao pensar nisto recordei-me de uma história que há muito tempo me foi contada.
Dentro do que recordo, agora, passarei a narrar para vós outros...
Ele, tampouco importa seu nome, gostava de viajar e das mulheres também. As teve e muitas por um bom tempo (as mulheres).
Todavia, até então, não havia se prendido com amor a nenhuma delas.
Todas simplesmente satisfaziam seus instintos e enalteciam sua libido.
De nenhuma havia se apaixonado ou deixado de satisfazer seu espírito aventureiro, ou seja, viajar pelo mundo a conhecer novos lugares, apreciar novas paisagens e culturas.
Eis que um dia ao retornar à sua casa, caminhando por uma rua, onde se encontravam muitos turistas em visita, ha viu. Algo inesperado aconteceu. Seus olhares se cruzaram e um magnetismo inexplicável os atraiu.
Ambos pararam em sua caminhada e momentaneamente se esqueceram do que estavam propostos a fazer.
Olharam-se, sorriram um para o outro – como se já se conhecessem há milênios – e cumprimentaram-se, o que deu vaza a que entabulassem uma conversa.
Notara, pelos assuntos que entabularam que tinham muitas ideias e pareceres em comum.
Este encontro, pela vontade de ambos, ensejou novos que foram se sucedendo ao longo do tempo.
Foram viver juntos assim o decidiram.
Intensamente ela o amou.
Criou, ela, um ambiente seguro e agradável onde, ele gozava de toda sua liberdade. Não havia queixas entre os dois.
Foram criativos na convivência do dia-a-dia e também no amor.
Um dia ela foi a uma loja de móveis usados que lhe chamara a atenção e ali comprou uma cadeira de madeira. Esta era velha, porém bem conservada e especialmente cômoda.
Levou-a para casa e a instalou na sala de estar.
Quando ele chegou da rua ela lhe apresentou a compra dizendo que ali, quando ele não estivesse, o esperaria sempre com alegria e na esperança de que chegasse bem, fosse em que tempo fosse.
A vontade de viajar e correr o mundo voltou insistentemente aos pensamentos dele.
Enfim teve coragem de dizer a ela e de executar os seus planos que era viajar sozinho.
Quando soube de tudo ao ouvi-lo, ela simplesmente baixou os olhos e tristemente sorriu e lhe disse que na cadeira que estava ali o esperaria como sempre.
Os anos passaram, ele não tinha o hábito de escrever ou mandar notícias de qualquer forma.
Um dia, já velho, cansou. Sentiu a falta dela, de seu lar, de seu amor, de sua vida anterior. Resolveu voltar.
Chegou à sua cidade e para sua casa se dirigiu, contente e feliz por ali se encontrar.
Entrou na casa e encontrou tudo como havia deixado, porém com um detalhe, estava o ambiente coberto de poeira que, se notava, ali se encontrava depositada há muito tempo.
A cadeira estava em seu lugar como se estivesse à sua espera.
No silêncio que se fazia ali, somente ela o esperava, todavia agora, totalmente vazia.
Lembrei-me da história da cadeira dos reis e pensei que às vezes as visitas ou os embaixadores nunca chegam e os monarcas e sua soberba ficam sós, abandonados e esquecidos.