Pedro Rivera Jaro
Traduzido para o português por Sílvia C.S.P. Martinson
Pinto em 1946 é uma cidade localizada ao sul da capital madrilenha, cujo ponto mais importante era, e ainda é, o Colégio de Guardia Jóvenes Duque de Ahumada, onde os jovens que queriam se tornar membros da Guarda Civil eram treinados.
Naqueles anos da Fome, assim chamados porque a Espanha havia acabado de sair de uma guerra entre irmãos, que havia durado quase três anos, meu sogro Fermín, que estava preso há um ano e meio por ter sido membro do exército republicano, circunstância que explicarei em outro lugar e em outro momento, conseguiu montar uma pequena peixaria na praça de Pinto, e viajava todas as manhãs de trem para Madri, onde comprava no Mercado de Peixes que estava então na Porta de Toledo, e pelo mesmo meio de transporte voltava com a mercadoria para Pinto, onde Maria, minha sogra e Fermín, as vendiam aos habitantes da cidade. Desta forma, eles começaram a reorganizar sua vida familiar para criar seus três filhos, um menino e duas meninas.
Esta atividade garantia que eles pudessem comer peixe todos os dias, o que era muito importante naquela época de isolamento a que os espanhóis estavam sujeitos, quando a Espanha estava em ruínas, com muitos milhares de feridos em combate e muitos milhares de pessoas presas.
O fato é que ao lado do mercado de peixe vivia uma senhora chamada Angeles, que tinha uma filha de 11 anos de idade, e essa vizinha falava com Maria, minha sogra, para que ela levasse Angelines, que era o nome de sua filha, para cuidar das crianças, para que Maria ficasse sozinha enquanto cuidava do mercado de peixe, a Rafita, Maruja e Conchi, meus cunhados, porque Estrella, minha esposa não viria ao mundo até 1953, foram deixados para serem cuidados pela filhinha da vizinha.
Do ponto de vista de nossos tempos, pode parecer ultrajante que uma criança tão jovem já tenha obrigações de trabalho, mas vou lhe dizer que meu pai Félix, aos 6 anos de idade, estava pastoreando um rebanho de ovelhas. Era uma sociedade diferente, onde todos eram necessários para ajudar a família.
Minha sogra, María, quando a menina veio a sua casa no primeiro dia, ela a alimentou até que seu apetite estivesse satisfeito. Isso foi incrível para Angelines, que estava em necessidade como quase todos os outros na época. Ela gostava de comer anchovas e sardinhas cruas, depois de abri-las e limpá-las. E ela também as preparou para que as crianças comessem, o que foi do agrado delas. Quem não gostava que comessem peixe cru era Maria, que proibiu a Angelines de fazê-lo: "Você come o quanto quiser, mas não dê cru aos meus filhos". No entanto, as crianças gostavam de comê-lo e continuavam a comê-lo secretamente.
Havia outra vizinha, amiga de Maria, que tinha um menino de 6 anos, que na opinião de Angelines era muito pouco amigável. Esta vizinha costumava vir à casa todas as tardes com o menino, e o menino tinha o hábito de pedir água assim que chegava e se sentava.
Então Maria enviava Angelines para a cozinha à que lhe servisse um copo de água. Cansada daquela criança incomodando-a todos os dias com água, um belo dia ela decidiu trazer-lhe Água de Carabaña ao invés de água, que era um purgante poderoso, e assim que ele a bebeu a reação no intestino da criança foi fulminante.
- Mamãe! Mamãe!, gritou a criança e sua mãe disse: "Mas o que você deu ao meu filho?"
Em resumo, nada de grave, exceto a necessidade urgente de evacuar. A Sra. Maria imaginou o que acontecera, porque sabia que a menina era traveça. Mas ficou quieta até que a criança e a mãe tivessem partido. Depois ela deu à Angelines uma boa repreensão pelo que ela havia feito.
Mas a verdade é que a criança nunca mais voltou a pedir água, nunca mais.