CategoríaVerso

Substrato

S

Elroucian Motta

Sou substrato, sou dúvida,
Sou um soneto de Neruda.

Sou quase tudo, quase engano, Quasímodo e shakespeariano.

E no vale da alma
Em que a noite se esquece
Do dia que se pôs

Sigo meu caminho
À luz do que não se conhece,
À sombra do que se foi.

 

Percurso

P

Maria da Glória de Jesus Oliveira

Não voltarei
porque a estrada é longa.
Tropecei em muitas pedras
para chegar aqui.
Acumulei cicatrizes
e lágrimas derramei.
Os amigos,
que me deram apoio,
perderam-se
nos confins das estradas;
Dos familiares, os que não subiram
estão espalhados na existência.
Não fiquei sozinha,
não e não,
porque sou repleta de mim.
Hoje, encontro-me no pico
da montanha dos sonhos.
O difícil acesso
foi revestido de quimera.
Nada perdi e muito conquistei.
Não voltaria se, de prêmio,
recebesse a permissão.
Aqui estou, aqui sou,
aqui ficarei para cumprir
a minha preciosa missão.

PAIXÃO

P

Elisabeth Cappelletti

És suave como um barco à vela
Como o frescor de uma aquarela
Como um dia de primavera
A florescer as ruelas
Da cidade e da favela
Mas há perigo:
No teu sorriso que hipnotiza
Qual guizo
Qual enigma da Monalisa
No teu corpo que aprisiona
Qual ataque de jiboia
No teu olhar que de carona
Brilha mais que rara joia
Na sonoridade da tua voz
Que refresca qual chuva de verão
Qual a mais bela canção.
Anseio pelo fascínio
Deste teu bote certeiro
Mas receio
Este viver cativeiro.

Atemporal

A

Conceição Hyppolito

(Foi-se num tempo em que sucumbe o homem e suas histórias)

Há uma arma engatilhada
Sempre em busca de um alvo
Há um grito de dor sufocado e triste
Um ato de heroísmo e ou uma história covarde
Quem está certo ou errado nesta engrenagem?
Em algum lugar sempre tem uma festa
Ou uma guerra
Uma mortandade insana
Uma controvérsia;
- O primeiro grito e o último suspiro
O desejo de ir constante e
O silêncio eterno...
Em algum lugar, uma mesa farta
Ou uma fome crônica
Uma força bruta
Uma razão latente
E uma história inventada
Para uma geração descontente...
A natureza, o sol ou a chuva que cai
Faz crescer a vida
E também destrói quando muito intensa...
¿Como buscar respostas a todo ciclo que se forma
Ou encontrar a palavra-chave que encerra o poema?

A escuridão

A

Maria José Silveira

No vazio da noite,ela ainda acredita que tudo vai ficar bem
Mas não sabe que todos estão
Fugindo da verdade
E acreditando nas sólidas mentiras
Das fantasias de uma noite escura
Onde a tempestade era a única verdade
Nada será como antes,apenas os sábios
Sobreviverão a tempestade das angústias
De um tempo esquecido na escuridão!!

Letras latinoamericanas

L

Humberto Iracet Brietzke

Pensam os outros que somos simplórios,
Homens de falso ou parvo conhecimento,
Dependentes de uma fé sem fundamento,
Emoções dramáticas e atos contraditórios.

De fato, nossos modos e gestos são notórios,
Mas não são eles sinais de parvo pensamento,
Pois é preciso recordar que todo argumento,
Baseia-se em alicerce dito “raso” e introdutório.

Nossos pensares se lastreiam naquele saber
Que conjuga ordem científica e vivência,
E sua veracidade cotidiana se demonstra.

A isto atentam nossas letras e o escrever,
Resguardando bem as leis de nossa ciência,
Tão certas, que o leitor atento as encontra.

Caixa de Pandora

C

Celso Ferruda

Vamos construir, caixas de pandora
Vamos chamar, os deuses do amor
Para fechar, os senhores das guerras
Acabar com a discórdia entre irmãos
E as doenças que habitam os corações..

Sei, que ainda tenho que aprender.
Muitos passos, ainda vou tropeçar!
Tenho que, manter minha esperança
Construir meu mundo, em uma aliança
Para enfim, ver meu universo sorrir...

Quando construir, minha caixa de pandora,
Acabará o mal em mim.
Serei então, paciente e feliz...
Nascerá a esperança.
Tudo mudará, enfim!
Terei liberdade de sonhar.
Um mundo novo te darei.
Mostrarei todo meu amor,
o teu oculto, mostrarás a mim.

Lágrima

L

Lilian Rocha

Sonhei contigo
É como se o tempo
Não tivesse passado
Pude ver o teu sorriso
Até senti o teu cheiro
Era tanta saudade!
Não aguentei
Que até apneia tive
Acordei assustada
Soluço preso na garganta
A mão bem fechada
Parecia conter algo
Abri curiosa, lentamente
Uma gota
Levo à boca
Era salgada
Tua lágrima
Agora chora
Por meus olhos.

Coragem

C

Beatriz T. Balzan Barbisan

Cada manhã, acordo, abro cadeados e liberto a esperança amordaçada que mantenho algemada. Dispo hábitos antigos que não agasalham mais. Visto novos sonhos que alimento com a fé. Munida de esperança, embarco no otimismo. E vou à luta. Glorifico ao criador! Se, tropeço em meus passos renovo-me com abraços de otimismo protetor. Cada dia que avança, leva meu passado embora e eu renovo a esperança por mais vinte quatro horas.

 

O passado

O

María da Gloria Jesús de Oliveira

Já fui jovem e mãos de fada tive, pele sedosa com brilho e altivez. Percebo, agora, que nem tudo vive e que o tempo tirou-me a robustez. Luneta em punho, feito detetive, e buscando nas sendas um talvez, sei que jamais uma certeza obtive: de ver nascer o que era apenas indez. Desisto do que sei ser impossível, aceito as tatuagens que me cobrem, riscando o que já foi tecido liso. Apenas em meus olhos é rizível encontrar os resquícios da jovem, quando mostro a alegria em farto riso.

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