CategoríaVerso

A poesia

A

Marinês Bonacina

O poeta escreve
a sua poesia...
Palavras, presas na garganta,
momentos, que não esquece
da chama de uma paixão,
pedaços de sonhos,
compõe, canta o amor e a saudade,
por serem fundamentais à poesia.
Chora, ás vezes, com o violão,
da dor faz jocosa realidade,
procurando transformá-la em alegria.
Por uma saudade, viva na memória.
Espera um momento de magia,
e, assim dá asas aos sonhos.
Alguém, que esteja na eternidade,
que ficou na sua história,
e preso na sua lembrança.

Trajetória feminina

T

Iaralice Lemos Ramos

Vá menina!
Solte tuas tranças,
Guarde tua criança.
Vá! solte os laços
Que te prendem
E vá em frente

Vá, moça , olhe pra frente;
a vida lá fora te espera...
Vai te mostrar grandes centros
Ruas e até vielas,
Em caminhos amargos e de pedras
Vais aprender a andar.

No lugar do chinelo calce
sapato mais belo que te embale um doce andar,
Aprenda se equilibrar,
Que no mundo, luz e sombra a vida vai te mostrar.
Mas não esqueça, menina, podes
Descer do salto na hora que precisar.
Vá menina!
Tire os brinquedos da bolsa,
Coloque ali, documentos, saberes e alguns certificados atraentes
Que a sociedade dos número sempre vai te cobrar.

Haa! Não esqueça o batom
Que pode ser o vermemelho
Ou a cor que desejar,.
.
Levante sua cabeça
Olhe o mundo de frente,
Dê as mãos à camaleoa
Que podes se transformar.

Mas não me tome distância,
Que o mundo fácil te alcança
E a imagem criança
Me deixa na esperaça dessa mulher
eu encontrar.

Estados da alma

E

Silvia C.S.P. Martinson

Días brilhantes.
Días presentes.
Como se o tempo
refletisse imutável,
a impermanência
da alma.
Tardes outonais.
Noites frias.
Estados da alma…
São os olhos
dos sentimentos,
que sentem
o que não vêm!
Noites outonais.
Tardes frias.
Estados da alma
que se angustia.
Sentir o que
não quería,
querer o que
não podia.
Inconfessáveis,
impossíveis desejos
a se refletirem
em tardes outonais
e em noites frias.
Era dia!
Havia luz e calor.
Só eu,
tão triste...
Não via!

O adeus à poesia

O

Antonia Nery Vanti (Vyrena)

 

Guardei a pena, fechei o caderno,
O verbo calou-se no peito silente.
O adeus chegou num suspiro terno,
Como outono que passa, docemente.

Já não me chamam rimas nem ventura,
Nem madrugadas bordadas de cor.
A poesia, antes chama tão pura,
Partiu-se em névoas, em sombras, em dor.

Fui sua casa, fui sua estrada,
Em mim morou, dançou, gritou, sorriu.
Agora vai, de alma alada,
Deixando um eco que nunca partiu.

Que fique aqui, singela despedida:
Meu último poema... é só mais vida.
Adeus, poesia — luz que me guia,
Mesmo ausente, és eterna em meu dia.

A passsageira

A

Cecilia Cardoso

O trem do tempo para na estação
e dele, desce uma passageira
com expressão feliz na face bonita.
Da multidão ouve-se uma pergunta:
- Então, fez boa viagem?
- Sim! Trago flores na bagagem,
folhas verdes, árvores floridas,
cantigas de pássaros,
o bater de asas de um beija-flor.
Trago a beleza das rosas em botão,
a pureza dos lírios,
o colorido das violetas,
e dos cravos vermelhos o amor,
do jasmim, a delicadeza.
Trago a brisa, o perfume de um jardim,
a festa da natureza.
Sou a primavera!
E como um sonho de criança,
Trago comigo a esperança.

O trem do tempo apita,
avisa que segue a viagem.
Na estação um passageiro sobe meio curvado,
com o andar envelhecido
e o semblante cansado,
carregando outro tipo de bagagem:
Leva um ar gelado,
o frio do dia, o branco da neve,
O som da ventania.
De dentro do trem ele acena um adeus
Ou talvez um “até breve!”.
É o inverno que se despede!

Num caminhar saltitante,
cercada de pássaros,
gorjeio nos ninhos,
perfumes e cores
a primavera segue seu caminho
por entre folhas verdes,
coloridos e flores!

Meus cabelos longos

M

Katia Chiapini

 

Os meus cabelos longos soltos ao vento
Já enfeitiçaram o meu jovem eleito
Agora, não crescem, eu até tento
Diminuíram de volume: não há jeito

Quando eu era jovem, o namorado
Não queria ver meus cabelos cortados
Nem os queria presos, nem atados
Queria vê-los, ora secos, ora molhados

Tive longas tranças qual Rapunzel
Usei coque artesanal, tal dama antiga
Ora bem escuro ou em tom de mel
Ter o cabelo longo, aquece e abriga

O amado tentava e me despenteava
Para fazer um arte ou travessura
Mas se o meu cabelo acariciava
Fazia-o com suavidade, com ternura

Dalila tirou a força de Sansão
Quando deixou curto o seu cabelo
Jesus Cristo o tinha em profusão
E a realeza o exibia com desvelo

E nos jogos amorosos, o "moleque"
Queria sentir meus cabelos em sua mão
E eu dengosa os espalhava em leque
Sobre o corpo do amado, em explosão

Vó preta

V

Iaralice Lemos Ramos

Olhas que quem veio me ver!
Vovó preta,
Vem se achegando

Puxa o banco, senta
Conta um conto
Daqueles
Que conta da nossa gente
Que conta do nosso povo.

Conta vó preta, conta
Daqueles que vieram na frente
Da escolha dos senhores
Pelas canelas e dentes.
conta
Do nosso povo
Da música referência.
Conta mais uma vez pra eles não equecerem
da ident- idade que foi dada por perdida, porém jamais esquecida no trajeto
Do dorer,

Canta vó preta
Agora canta
A cantoria que habita
Na tua sabedoria
Do batuque no tambor
Que conta da trajetórias
Que causou tamanha dor

Vem, vem , sempre, vovó!
Benzer a tua gente
Contra a resiliência,
Reforço na resistência
E a na fé nos orixas.

E quando partires deixa
o teu unguento rezado
Batismo da tua raça
Pra adiante o teu legado levar.

Além da vida

A

 Marinés Bonacina

 
Avançam os caminhos,
no alvorecer de um novo dia.
Transmutam-se estações...
No curto espaço, da plenitude física.
Existência, uma viagem na busca da evolução,
completar o ciclo de um tempo, sempre igual.
Nas imagens abstratas, labirintos de emoções,
silhueta, sombras ou penumbras,
transpassa a imensidão, a matéria, a essência
e um semblante que, das passagens,
segues, onde reina amor.
Luz que se propaga,
criou traços genéticos.
Caminhos!
Muito Além da Vida.

Vento norte!

V

Edson Olimpio Silva de Oliveira

A chaleira canta, o mate espuma, e o Vento Norte se chega de mansinho — pra contarmos, em verso e alma, os mistérios que só os antigos sabiam decifrar. Pealamos emoções sentidas e extravasadas. Tropeamos os fundamentos do amor, nem sempre compreendido. Minha avó Adiles e minha amada mãe Dora sofriam um embotamento da alegria ao sentir esse vento aquecido em alguma fornalha ancestral – o Vento Norte. Ao contrário do frio Minuano, esse sopra dos afogados do Pantanal, das queimadas sem fim, dos animais que queimam nas torrentes de fogo. ‘Dona Diles’ ao para o cemitério orar e pintar, florir e arrumar os túmulos da família. ‘Dona Dora’ orava com Santa Terezinha ao seu lado. Cresci assim na espiritualidade da família.

"O Vento Norte... gaudério mal- assombrado,
Chega assoviando saudade no pasto cansado.
É vento quente que traz lembrança e agonia,
Que enxuga o pranto duma alma em romaria..."

Lembro da avó, de lenço guardado no colo,
Com olho marejado e rezo manso de consolo.
Na rua do cemitério, flor de papel e saudade,
Onde o tempo é um rosário da eternidade.

O Norte vem como língua de sogra bufando,
Levanta o pó, assanha o campo e sai rondando.
Tem gente que sente nas juntas, no coração,
Outros veem vulto e sombra em contramão.

Cachorro se esconde, gado estranha a querência,
E o vivente se cala no lombo da consciência.
Médico, peão ou curador de almas penadas,
Todos sentem que o Norte varre as madrugadas.

Tem algo de praga, tem algo de ancestral,
Como sopro que assanha o espírito e o mal.
Diz o povo que é vento de doença e gemido,
Que traz no bafo um passado mal resolvido.

Já vi gente dizer: “É só vento, sem sentido!”
Mas quem já perdeu um filho, sente o ouvido.
E esse vento malino cutuca lá no fundo,
Faz o céu mais baixo, e o silêncio mais profundo.

Mas eu digo, gaudério, não tema esse assobio,
O Norte vem sim, mas também leva o vazio.
É nas brisas mais brabas que se forja o pensador,
E o vento que assusta também traz ensinador.

Verso do Mate:
“Quem teme vento que sopra, que escute sua razão...
Pois até brisa maldita pode ser benção do galpão.”

 

Substrato

S

Elroucian Motta

Sou substrato, sou dúvida,
Sou um soneto de Neruda.

Sou quase tudo, quase engano, Quasímodo e shakespeariano.

E no vale da alma
Em que a noite se esquece
Do dia que se pôs

Sigo meu caminho
À luz do que não se conhece,
À sombra do que se foi.

 

Síguenos