Silvia C.S.P. Martinson
Todos os dias ela ia a sua janela e cantava uma música para ele acordar, isto pela manhã. Ao entardecer, quando a noite se aproximava fazia o mesmo, a fim de que o dormir dele fosse suave e cheio de encantamento.
Ela tinha belíssima voz e a cada dia trazia consigo novas maneiras e nuances em seu cantar.
Eles se conheciam de há muito e muito tempo.
Em verdade, por muitos anos ela inexoravelmente fazia a mesma coisa todos os dias.
Ele a salvara de morrer e desde então esta lhe tinha enorme carinho e profundo amor. Da mesma forma ele a queria e respeitava.
Assim que foram os dois crescendo, cada um a sua maneira, amadurecendo e desfrutando da vida e da beleza de viver cada dia com novas experiências.
Ele tornou-se um homem bonito, culto e elegante, sempre cortejado por belas mulheres.
Ela o observava e admirava enquanto este a acolhia e protegia sempre de todos os males.
Um dia, então, ele viajou para bem longe e ficou por um longo tempo afastado.
Ela, no entanto, em sua simplicidade e inocência, não deixou sequer um dia de visitar sua janela como sempre o fazia.
Enfim, depois de algum tempo, ele retornou e ela feliz foi cantar na janela pela manhã esperando vê-lo, como sempre ocorrera, todavia teve uma surpresa.
Estava ele acompanhado de uma bonita mulher que ao vê-la cantar sorriu e fechou a janela. Esta não apreciava o seu canto.
Ela, então, enciumada arrancou de seu corpo, com o bico, uma pena colorida que ali depositou como lembrança.
Subiu aos céus, voou ao alto, muito alto e nunca mais voltou.
O homem sentindo a ausência de Laverca o canto e a melodia que lhe embalava os sonhos e das tristezas do mundo as escondia, ele simplesmente, sem consolo, chorou até morrer.
As manhãs e as tardes ficaram silenciosas, tristes e vazias sem o belo canto de Laverca ou Cotovia.