María Manuela Asenjo
Traduzido para o português por Sílvia C.S.P. Martinson
E eu me fui.
E, no mesmo instante, você crispou num rictus amargo seu rosto lívido.
E depois vagou, contemplativo, pelas ruas escuras. Sem entender.
Muito tempo depois, ainda chorava lágrimas de aturdimento e regava o jardim com água salgada.
Num canto, num não sei, num porquê.
Inclusive você, ateu convicto, encomendou novenas em meu nome, pela minha alma. Que alma!
Agora, inimigo e ignorante da tecla e da técnica, você aprende Photoshop às pressas.
Retocando minhas melhores fotos, para conseguir a perfeita que presida esse altar.
Com velas, com rosas-chá, daquelas minhas, minhas preferidas, as que nunca conseguimos que crescessem.
Acorda suado de mil pesadelos.
Você, insociável incorrigível, solta frases de amor pela minha pessoa, louvores inúteis e tardios a todo ouvido que queira recolhê-las.
Agora, digo, agora… se eu soubesse, ironia no ar, não teria ido.
Mas eu me fui, e nunca cheguei a ver os altares, nem a me molhar com as lágrimas, nem a cheirar as rosas, nem a escutar as palavras que, por outro lado, você nunca teria dito se eu não tivesse ido.
Assim, a meu pesar… eu me fui.