O professor

O

Silvia C.S.P. Martinson

Quando entrei nas classes do 2º Grau o conheci.
 
Era a primeira vez que frequentava aquela escola que foi à época considerada o melhor colégio público feminino. Ela funcionava em uma escola evangélica particular e masculina, uma vez que o governo do Estado lhe pagava um aluguel porque não havia, então, disponibilidade de prédio próprio que permitisse seu funcionamento. Pela manhã, ali, estudavam os alunos homens da escola evangélica. Pela tarde eram as classes ministradas às alunas mulheres da escola pública.
 
O ingresso nesta escola era bastante difícil face ao que, era submetida a candidata à vaga a um exame de conhecimentos gerais, ministrados no 1º Grau, tanto escrito quanto oral. A média de notas em cada matéria era de 8, o que fazia com que muitas aspirantes a vaga não a conseguissem alcançar.
 
O ano letivo começava em março e encerrava-se em meados de dezembro para quem fosse aprovada, após os exames escritos e orais.
Havia ainda a chamada 2ª época quando ao final de dezembro e início de janeiro eram ministrados novos exames às recalcitrantes, dando-lhes uma segunda oportunidade de aprovação. Diga-se, de passagem, que naquele tempo, era considerada uma vergonha ao aluno ficar dependendo da “2ª Época” para passar às classes do ano seguinte. Estes alunos eram considerados preguiçosos ou pouco inteligentes. A exigência de conhecimentos nestes exames era muito maior do que aqueles pedidos no final do ano letivo.
 
Havia também férias na metade do ano, mais precisamente no mês de julho, considerado este, na minha terra, o período mais frio por tratar-se do inverno. A este descanso de 30 dias dava-se então o nome de “Férias”.
 
Época esta em que se ficava em nossas casas ao abrigo das intempéries e podendo dormir até mais tarde, sem maiores compromissos.
 
Tudo isto lhes conto, em princípio, para entrar agora, em verdade, na história principal.
 
Comecemos então.
 
Aconteceu comigo nos primeiros dias do ano letivo, ou seja, março.
 
Passava eu com os meus ingênuos quase 13 anos frente a uma sala de aulas onde estudavam jovens mais velhas do que eu.
Chamou-me a atenção à maneira de como o professor se dirigia às alunas.
 
Ele era um senhor de mediana idade e bem apessoado, vestia-se elegantemente. Todavia tinha uma expressão arrogante e dirigia-se às jovens em alto e bom som o que nos permitiu ouvir o que dizia.
 
Chamava as alunas de pobres ignorantes e despreparadas para suas classes e que nunca esperassem dele uma nota 10 porque esta somente cabia a ele.
 
As alunas aterrorizadas o miravam com espanto e preocupação perante tanta soberba. Depois fiquei sabendo que ele costumava reprovar sempre ao final do curso muitas alunas a fim de que repetissem o ano. Ante tal visão à época, jurei a mim mesma que não haveria de ser sua aluna nunca.
 
Ledo engano o meu. No 4º e último ano ginasial tive a ingrata surpresa, ao voltar às aulas, de saber que aquele seria nosso professor de desenho geométrico. Ele veio então a ministrar aulas a minha turma. Não havia mudado em nada seu método agressivo e soberbo.
 
Pensava-se muito inteligente e capaz e as alunas somente serviam para serem massacradas e pisoteadas por sua personalidade egocêntrica e cruel.
 
Assim que observando a tudo isto me propus a nunca, sendo aluna dele, tirar uma nota abaixo de 10 para lhe fazer ver que não era tão competente quanto queria aparentar. E assim sendo estudei e me preparei para suas provas.
 
Na primeira tirei 10 e ele chamou-me frente a toda classe zombando de mim e dizendo que eu havia copiado de alguma maneira os resultados.
 
Argui-lhe que não. Que eu realmente merecia aquele 10 porque havia estudado e me preparado.
 
E assim se passou o ano e em todas as provas que aplicou, eu continuava a tirar 10 e ele cada vez me odiando mais por isso.
 
Ao final do ano, nas provas finais, ele me isolou das demais alunas em um canto da sala onde examinou a mesa em que me sentara para ver se ali não havia qualquer cópia de sua matéria e inclusive fez com que outras colegas verificassem se eu não portava em minhas roupas qualquer papel referente à sua matéria.
 
Fez ainda com que colocasse sobre a sua mesa todo meu material escolar, deixando comigo somente um lápis, uma caneta e uma borracha de apagar.
 
Iniciou a prova para todas nós, todavia ele se postou ao meu lado a controlar-me o tempo todo do exame.
 
Eu não me perturbei, tinha-lhe tanto asco que me esforcei mais ainda para responder corretamente as perguntas da prova.
 
Acabei a prova e a entreguei a ele em sua mesa.
 
Ele com olhar maldoso me dice que eu havia rodado ao que lhe contestei dizendo:
- Não senhor. Eu, para seu desgosto e lembrança de minha pessoa, a fim de que jamais se esqueça deste acontecimento, novamente tirei 10.
 
Concluí o ano com a média 10 em desenho geométrico. Fato inédito naquela escola.
 
E, verdadeiramente, assim se passou.

Sobre el autor/a

Silvia Cristina Preissler Martinson

Nasceu em Porto Alegre, é advogada e reside atualmente no El Campello (Alicante, Espanha). Já publicou suas poesias em coletâneas: VOZES DO PARTENON LITERÁRIO lV (Editora Revolução Cultural Porto Alegre, 2012), publicação oficial da Sociedade Partenon Literário, associação a que pertence, em ESCRITOS IV, publicação oficial da Academia de Letras de Porto Alegre em parceria com o Clube Literário Jardim Ipiranga (coletânea) que reúne diversos autores; Escritos IV ( Edicões Caravela Porto Alegre, 2011); Escritos 5 (Editora IPSDP, 2013) y en español Versos en el Aire (Editora Diversidad Literaria, 2022)
Participou de concursos nacionais de contos, bem como do GRUPO DE ARTISTAS E ESCRITORES DO GUARUJA — SP, onde teve seus poemas publicados na coletânea ARAUTOS DO ATLANTICO em encontros Culturais do Guarujá.

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