O valente

O

Silvia C.S.P. Martinson

Havia um homem que conheci há muitos anos. Ele era uma pessoa alegre, inteligente, perspicaz e muito observador. Já era velho. Teve durante sua vida muitíssimas experiências.
 
Apesar da velhice ainda apresentava boa aparência o que fazia com que se tornasse, de alguma forma, atrativo às mulheres. E realmente eram elas o que mais lhe atraia e chamava à atenção.Chamava-se João.
 
Supostamente João era um nome muito comum àquela época, haja vista que o rei de então também tinha este nome, só que com uma grande diferença: o nosso João não era rei e também não pretendia sê-lo apesar de saber gerir muito bem suas economias contas. Ele vivia na Espanha.
 
João fora casado muitas vezes face a sua inevitável predileção pelas mulheres, o que fazia com que não se fixasse por muito tempo com nenhuma.
 
Pois bem, a nossa história começa com João, todavia não termina com ele.
Em uma caminhada pela manhã ele me narrou, entre rizadas, uma história, dentre as muitas que se passaram em sua vida que me pareceu hilária e que vou contar agora nestas poucas linhas.
 
João foi um alto executivo de uma empresa e como exerceu cargo de chefia tinha contato com os demais empregados. Contato este que lhe permitia, inclusive, a ouvir seus telefonemas, podemos dizer, mais íntimos.
 
Então João contou-me que um funcionário seu recebia diariamente, no escritório, ligações de sua mulher que estava em casa e a qual costumava dar-lhe ordens e também admoestá-lo por telefone. Este homem chamava-se André.
 
Quando o telefone tocava para André e ele verificava que era de sua esposa, baixava a cabeça e mantinha-se calado e com uma expressão de aquiescência. Sacudia os membros superiores como se estivesse concordando com tudo o que ela lhe dizia.
 
No escritório todos já estavam acostumados com sua maneira servil de atender às ordens de sua mulher e entre si trocavam olhares de mofa e sorrisos disfarçados.
 
No entanto ao terminar a ligação André se transformava, virava outro homem e para que todos ouvissem dizia em alto e bom som , como se ainda estivesse a falar com ela, apesar de já não haver ninguém na linha, o seguinte:
 
- Ana (Ana era o nome dela) tu sabes que quem manda em nossa casa sou eu!
Cala-te! Não me molestes ou sequer me contraries!
Mulher incomoda e imprudente!
Não vês que estou no trabalho e não posso estar à tua disposição infeliz criatura?
Quando eu chegar em casa vou te castigar como mereces!
Corto agora a ligação, tenho que trabalhar!
 
João contou-me, entre risadas, que no escritório após esta cena cômica e que se passava quase diariamente, os homens ironicamente e sarcasticamente batiam palmas a André, elogiando, entre risos, o quanto valente ele era.
 
Sim, em verdade muito valente quando o telefone já estava desligado.

Sobre el autor/a

Silvia Cristina Preissler Martinson

Nasceu em Porto Alegre, é advogada e reside atualmente no El Campello (Alicante, Espanha). Já publicou suas poesias em coletâneas: VOZES DO PARTENON LITERÁRIO lV (Editora Revolução Cultural Porto Alegre, 2012), publicação oficial da Sociedade Partenon Literário, associação a que pertence, em ESCRITOS IV, publicação oficial da Academia de Letras de Porto Alegre em parceria com o Clube Literário Jardim Ipiranga (coletânea) que reúne diversos autores; Escritos IV ( Edicões Caravela Porto Alegre, 2011); Escritos 5 (Editora IPSDP, 2013) y en español Versos en el Aire (Editora Diversidad Literaria, 2022)
Participou de concursos nacionais de contos, bem como do GRUPO DE ARTISTAS E ESCRITORES DO GUARUJA — SP, onde teve seus poemas publicados na coletânea ARAUTOS DO ATLANTICO em encontros Culturais do Guarujá.

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