Pequeno conto

P

SIlvia C.S.P. Martinson 

¡Tiene que ser así!
Y así es.
España tierra de leyendas y de pasiones.
De sus rocas, de su mar transparente y también caliente, de donde se extraen muchas historias.
 
Su aire es cómplice de muchos sentimientos. Mientras aquellos que no se pueden contar y que deben ser olvidados en los caminos inaccesibles de las rocas, a los que el aire, se acomoda en esconderlos.
Tierra vieja de viejos amores...
 
SÉCULO XVII
 
Apesar de estarem na Europa em plena fase do Renascimento e do Barroco na produção artística, na  Espanha ainda em pleno século XVII esta sofria a influência das tradições medievais, originadas pelo apego aos temas do cristianismo daque- la época, diferentemente das ideias humanistas cuja penetração já se fazia sentir pelo continente europeu.
 
A igreja católica foi preponderante neste aspecto influenciando fortemente os países ibéricos a não adotarem tais ideias humanistas, mantendo assim a hegemonia e o poder da Igreja na fase da Contrarreforma, atrasando sobremaneira a cultura e a educação de um povo.
 
É, então, precisamente nesta fase que começa a se desenrolar nossa história, que estranhamente, para uns é inverossímil, que se passe até nossos dias. Para outros, entretanto, é perfeitamente aceitável.
 
Comecemos a contá-la:
Um povoado pequeno ao pé de montanhas rochosas em um lugar na Espanha.
Um povo composto de camponeses e criadores de ovelhas e cabras.
Um palácio medieval e uma família rica, fanática e dominante
Uma igreja antiga originária, arquitetonicamente, dos templos construídos durante a dominação árabe.
Dois jovens com educação e posturas e princípios diferentes.
 
Zaida lia os sortilégios, elaborava mezinhas, poções para saúde, conhecia os “segredos da terra”, do ar, do fogo e da água, ou seja, dos elementais.
 
Filha de alquimistas lhe foram passados os conhecimentos que levam à transformação dos metais e a transmutação e transformação dos elementos e energias terrestres e universais.
 
Considerada na época uma bruxa – até porque, naquele tempo, às mulheres não era dado acesso à ciência e a educação - era mal vista no lugar em que morava. Inobstante quando havia problemas com doenças o povo daquele lugarejo acorria a ela para que os socorresse com seus conhecimentos.
 
A Espanha de então era bastante atrasada, bem como quase toda Europa, nas lides médicas.
Zaida vivia em um povoado na Espanha situado ao pé de montanhas rochosas em um vale semiárido, hábitat de cabras, ovelhas, animais de caça e serpentes venenosas, das quais extraía os fluidos necessários aos seus medicamentos e poções, isto em sua casa localizada junto a um precipício.
 
Neste povoado vivia em uma igreja um pároco muito velhinho, que era prior daquela paróquia, que, todavia, a pesar das diferenças religiosas, entendia e respeitava os poderes e conhecimentos da jovem Zaida. Da Zaida dos longos cabelos louros e dos olhos verdes como a relva do campo, como as águas do mar.
Eis que o velho pároco morre.
 
Vem para assumir a paróquia um sacerdote jovem, culto e educado dentro dos parâmetros da igreja católica espanhola e nos melhores conventos da época, destinados a filhos de famílias influentes e poderosas, ou seja, da casa dos proprietários do castelo existente no povoado. Seu nome: Luíz de los Rios.
 
Luíz assume seu posto e aos poucos vai conhecendo mais amiúde o povo dali, suas histórias e costumes, haja vista ter sido criado dentro do convento com quase nenhum contato com a gente do lugar.
 
Luíz como todo jovem, trazia de seu berço a formação religiosa à época, os preconceitos e a limitações que sua fé lhe impunham.
Sabedor da presença da “bruxa” no povoado passa a persegui-la denunciando-a a seus superiores.
 
O destino e a vida são sábios em seus propósitos e às vezes criam situações insuspeitas aos homens, visando seu progresso e abertura de mente às verdades universais.
 
Aquela época grassavam as pestes e as doenças que na maioria das vezes eram fatais ao homem, principalmente pela falta de higiene existente 
Eis que Luíz adoece.
 
Todos os conhecimentos e medicamentos do populacho lhe são ministrados sem sucesso.
Por fim na tentativa última de lhe salvarem a vida, Zaida é convocada a ir ao seu leito, como derradeiro recurso.
 
Ela, em toda sua suavidade aceita o encargo sabendo, no entanto, o quanto aquilo a exporia ao perigo de uma perseguição feroz por parte da Igreja.
 
Segue ao encontro do doente, lhe aplica suas mezinhas, poções e invoca em seu benefício às forças da Natureza, estas tão de seu domínio. E o faz por um longo período.
O tempo passa…
Luíz aos poucos melhora e vai retomando as suas forças, ao mesmo tempo em que por esta convivência e proximidade, os jovens começam, sem perceber, a necessitar cada vez mais da presença um do outro.
Apaixonam-se.
O povo nota. Condena tal atitude e comunica à família e aos superiores eclesiásticos do sacerdote.
 
Por ser considerada bruxa e incitados pela família poderosa do sacerdote a qual não admitia àquele relacionamento, com Zaida e sabedores do destino reservado às bruxas, (a fogueira) os jovens combinam fugir para um lugar distante.
 
Luíz deveria dar apoio e cobertura a Zaida a fim de que seus propósitos de fuga se dessem a contento e seu amor se concretizasse definitivamente.
 
No dia aprazado, no entanto, ele amedrontado e pressionado por sua família e por sua fé foge, acaba deixando Zaida a mercê de seus perseguidores.
 
Ela vendo-se abandonada por aquele a quem tanto amara, ainda consegue fugir às altas montanhas rochosas e à beira de um precipício lança um último olhar ao horizonte.   Lembra de seu amor… O perdoa mentalmente e solicita à Natureza que lhe oportunize , com ele, novos encontros, em outros tempos, em um  futuro quem sabe…
 
Mira o horizonte, chega à beira do precipício e joga-se ao vazio em busca do esquecimento.
Os séculos se sucedem e com eles novos encontros entre os dois se dão, sempre cheios de paixão e reconhecimento íntrinseco, nem sempre recordado conscientemente.
 
Hoje cabe a Luíz, mesmo que não relembre, expurgar de si o sentimento de culpa pela ausência inflingida.
 
A Zaida a conformação pelas dores físicas que sofre em virtude de suas opções e agressões à mãe Natureza.
Por ora, nesta vida, voltam a se reencontrar, se reconhecem e se apaixonam novamente.
 
Las rocas muy largas y viejas también, con el tiempo, a veces, caen y se transforman en arena, que se va a lejos por el aire, tanteando.
Mientras los malos sentimientos también son como las arenas, pero se pierden con el tiempo.

Sobre el autor/a

Silvia Cristina Preissler Martinson

Nasceu em Porto Alegre, é advogada e reside atualmente no El Campello (Alicante, Espanha). Já publicou suas poesias em coletâneas: VOZES DO PARTENON LITERÁRIO lV (Editora Revolução Cultural Porto Alegre, 2012), publicação oficial da Sociedade Partenon Literário, associação a que pertence, em ESCRITOS IV, publicação oficial da Academia de Letras de Porto Alegre em parceria com o Clube Literário Jardim Ipiranga (coletânea) que reúne diversos autores; Escritos IV ( Edicões Caravela Porto Alegre, 2011); Escritos 5 (Editora IPSDP, 2013) y en español Versos en el Aire (Editora Diversidad Literaria, 2022)
Participou de concursos nacionais de contos, bem como do GRUPO DE ARTISTAS E ESCRITORES DO GUARUJA — SP, onde teve seus poemas publicados na coletânea ARAUTOS DO ATLANTICO em encontros Culturais do Guarujá.

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