Tio Raimundo e o escorpião

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Silvia C.S.P. Martinson

Tio Raimundo como sempre chegava de mansinho sem fazer alarde de sua presença.
Quando nos dávamos conta ele estava sentado em uma cadeira frente a grande mesa de mármore que havia no terraço coberto nos fundos da casa de sua sobrinha.
 
Quando víamos lá estava ele sentado quietinho, com um sorriso esboçado na cara, como adivinhando que estávamos nos aproximando. Normalmente isto ocorria depois do almoço. Ele nunca vinha para almoçar. Já o fizera em sua casa.
 
Tomava de um barco, porque vivia em uma ilha próxima da capital e chegava à primeira hora da tarde, ou para ir aos médicos, porque já era velhinho, ou para visitar os parentes, quando então era sempre por todos bem vindo.
 
As crianças o adoravam pelas histórias que sempre tinha para contar. Em uma dessas visitas contou que se encontrava em uma pescaria na beira do rio e como havia muitos peixes que pescara resolveu limpá-los ali mesmo, acocado em um barranco de areia, junto à água.
 
Enquanto limpava os peixes não percebeu que um escorpião lhe subia pela perna.
Somente quando sentiu a picada do bicho e a dor que lhe causou é que se deu conta do perigo que isto representava. As pessoas que vivem no campo conhecem o quanto é mortal a picada de certas cobras ou escorpiões.
Aquele escorpião, segundo contou Tio Raimundo, era dourado e conforme ele disse, estes são os mais mortais, porque altamente venenosos.
 
E assim narrando foi que contou como se salvou. Disse que sacou de um facão que sempre carregava consigo e cortou de um só golpe um pedaço de carne da canela, deixando o osso exposto onde o bicho lhe havia picado.
 
O sangue lhe correu aos borbotões e ele que sempre levava consigo, em suas pescarias, algodão e compressas, fez ali mesmo seus curativos, após o que recolheu tudo e foi para um hospital na cidade a fim de ser tratado.
Com o tempo e muito atendimento médico curou-se.
 
Todavia o mais interessante e inexplicável de tudo é que todos os anos, no mesmo lugar da picada a pele que ali cresceu ficava avermelhada e ardia muitíssimo, causando-lhe dores e muitos cuidados para que aquela não se rompesse novamente deixando o osso da perna exposto.
 
E assim contando Tio Raimundo levantou a perna da calça que usava e mostrou às crianças a grande cicatriz que ali se encontrava.
As crianças ficaram de boca aberta e olhos arregalados enquanto Tio Raimundo lhes mostrava o que sucedera e ao mesmo tempo aproveitou para aconselhar:
 
- Crianças queridas nunca se aproximem de um escorpião dourado, ele é bonito, todavia traiçoeiro e malvado.
 
E sorrindo, deu adeus, levantou-se e tranquilamente, como sempre, foi embora.

 

Sobre el autor/a

Silvia Cristina Preissler Martinson

Nasceu em Porto Alegre, é advogada e reside atualmente no El Campello (Alicante, Espanha). Já publicou suas poesias em coletâneas: VOZES DO PARTENON LITERÁRIO lV (Editora Revolução Cultural Porto Alegre, 2012), publicação oficial da Sociedade Partenon Literário, associação a que pertence, em ESCRITOS IV, publicação oficial da Academia de Letras de Porto Alegre em parceria com o Clube Literário Jardim Ipiranga (coletânea) que reúne diversos autores; Escritos IV ( Edicões Caravela Porto Alegre, 2011); Escritos 5 (Editora IPSDP, 2013) y en español Versos en el Aire (Editora Diversidad Literaria, 2022)
Participou de concursos nacionais de contos, bem como do GRUPO DE ARTISTAS E ESCRITORES DO GUARUJA — SP, onde teve seus poemas publicados na coletânea ARAUTOS DO ATLANTICO em encontros Culturais do Guarujá.

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