Silvia C.S.P. Martinson
Ele foi jovem como qualquer jovem.
Brincou, riu, cantou, se apaixonou, desiludiu-se e voltou a apaixonar-se muitas vezes.
Foi chamado a atenção por seus pais e superiores muitas vezes. Algumas com razão, outras não.
Foi trabalhar muito cedo, havia necessidade. Seus pais não eram ricos. Tinha que tratar de sua subsistência e de sua família. Eram muitos irmãos.
Estudou, formou-se.
Fez um concurso público e foi trabalhar na Telefônica, galgou por competência, rigidez e esforço cargos relativamente importantes.
Por fim enamorou-se de uma colega, que lhe pareceu bonita o suficiente e com ela veio a casar-se.
Tiveram filhos.
Educou-os a sua maneira.
Proporcionou-lhes a escolaridade necessária a que pudessem trabalhar e progredir com menos dificuldade que ele.
A mulher acompanhou-o em sua caminhada, sendo-lhe companheira e ajudando-o nas lides domésticas quanto na educação dos filhos, como sói acontecer com algumas mulheres de sua terra.
Ao todas, porque há seu tempo às mulheres não se educavam e também não demonstravam muito ânimo de fazê-lo. Não consideravam que educação e trabalho fora de casa fossem importantes.
Conformavam-se em casar e exercer a função de mães, esposas, as vezes amantes e empregadas domésticas , submissas à vontade do marido, aos seus apetites e caprichos.
Deve-se isto a sua total dependência financeira.
Consequentemente lhes apavorava e até hoje à algumas, sair às ruas para trabalhar e serem independentes. Muitas vezes sofrendo humilhações, maus tratos e desprezo por parte dos maridos.
E assim a vida deste homem transcorreu com altos e baixos.
Envelheceu.
A mulher outrora bonita tornou-se gorda e desinteressante a seus olhos.
Ele por sua vez, ficou cada vez mais implicante e aborrecido.
Todos lhe pareciam errados, os jovens de agora os tinha como mal educados, a todos criticava, olhando somente, segundo seus conceitos, o lado negativo das pessoas.
Não lhe vinham à boca elogios ou palavras amáveis às outras pessoas. E se o fazia era somente com o intuito de arrebanhar adeptos para não se sentir tão isolado e só no mundo.
A solidão o aterrorizava.
Um dia um trio de jovens franceses estava na praia muito cedo. Provavelmente não haviam dormido e vieram encerrar a noitada naquele lugar aprazível.
Estes meninos não faziam mal a ninguém, cantavam e expandiam a sua juventude, felizes e indiferentes a quem passava.
Por uma mulher que lhes ouvia encantada foram solicitados a cantar o hino de sua terra.
Contentes acederam ao pedido e cantaram com respeito e dignidade, as mãos no peito, a Marselhesa.
Ela recordada de sua juventude na escola os acompanhou até o fim.
O homem aborrecido com o que via e ouvia tentou lhes criticar.
A mulher contestou ao implicante lhe dizendo:
- A nós os velhos, nos causam estes jovens muita inveja, porque são belos, têm saúde, vitalidade e acima de tudo lhes resta ainda o senso de liberdade que somente a inocência da juventude lhes impregna e permite.
Quanta inveja a nós decrépitas criaturas eles nos causam!
O homem calou-se e não voltou a falar.