Silvia C.S.P. Martinson
Ela morreu.
Não deixou herança significativa, todavia escreveu somente uma carta a seu único e querido neto.
Viveu intensamente, alegremente cada dia. Com a alegria de alguém que recebe a dádiva da vida.
Sofria de dores como qualquer velho que, com o passar dos anos e o desgaste natural do corpo, as tinha.
Teve alguns amigos que também manteve até o fim de seus dias. Aqueles que se afastaram por razões da vida o fizeram sem alarde. Alguns deixaram lembranças amargas que com bom senso ela guardou bem escondido no escaninho da memória, no lugar das coisas perdidas.
E assim dia a dia, semana a semana, meses e anos se passaram sem que ela se desse conta da história registrada na eternidade que paulatinamente escrevia.
E agora chegando ao fim deixa a seu neto, para que conheça, a versão não contada de sua longa caminhada em uma carta somente a ele endereçada que começava assim:
Querido neto.
Amo-te acima de tudo. Fostes e és a lembrança mais querida que carrego comigo.
Eis que meu fim chega. Eu o sinto.
Fui alegre, fui feliz.
Amei e fui amada.
E agora te conto o que se passou em minha longa estrada.
Eu .......
A mão lhe tombou, a caneta escorregou, o sorriso aos poucos apagou-se em seus lábios, os braços lhe caíram ao longo do corpo, os olhos se lhe fecharam suavemente.
Não terminou a carta.
Imersa em seus sonhos e lembranças adormeceu para sempre.