Alvaro de Almeida Leão
Pedrinho é um comerciante de porte médio em uma pequena cidade do interior, onde todo mundo conhece todo mundo.
Ao namorar Marlene – secretária executiva na empresa em que o pai dela é proprietário - Pedrinho encontrou o seu verdadeiro amor. Que casal simpático e promissor.
Para extravasar todo seu sentimento, Pedrinho passa a ostentar no vidro detrás de seu automóvel, o quanta a ama:
- ACHO QUE EU SOU A ALMA GÊMEA DA MARLENE –
Bela forma original de expressar tão puro amor. Marlene, envaidecida responde ao colocar dizeres em seu carro:
- EU NÃO ACHO. TENHO ABSOLUTA CERTEZA –
Em seguida, as atenções se voltaram para o Pedrinho, que, sentindo-se na obrigação de retribuir, assim se expressou:
- REALMENTE, ME PASSEI. NÃO TENHO DÚVIDAS, SOU A ALMA GÊMEA DA MARLENE -
Estabeleceu-se - ao natural - um canal de comunicação entre os dois (como um blog a céu aberto) em assuntos, desde que não de fórum íntimo, para alegria de parentes e amigos.
Dia desses o pedido que todos ansiosamente aguardavam:
- QUERIDA MARLENE, QUER CASAR COMIGO? -
A resposta da feliz pretendida Marlene, não tardou:
-SIM, SIM, SIM, SIM, SIM, SIM, SIM, SIM...MIL VEZES, SIM –
Passados seis meses, convites para o casamento dos dois (em textos idênticos) tanto no carro do noivo quanto da noiva.
Casados, daí para frente tudo nos conformes. Felicidade geral e irrestrita. Pessoas inteligentes, honestas e trabalhadoras tendem, por merecimento, a só progredirem.
Quase completando um ano de casados, Marlene sente os bem-vindos sintomas de enjôos, para felicidade de todos. Dizeres nos respectivos carros:
- FAMÍLIA AUMENTADA À VISTA! –
Após o nascimento da primogênita Ana Clara, é anunciada a próxima chegada de seu irmãozinho, o Carlos Augusto.
Assim, foram decorrendo os anos e a vida. Quando perguntam ao nosso casal, como estão, é imediata a orgulhosa e consciente resposta: se melhorar estraga.
Quando das bodas de prata, grande satisfação em anunciar seus filhos egressos das universidades, acompanhados de promissores encaminhamentos profissionais.
Nos cinquenta anos de exemplar união, questionados sobre quais aspirações gostariam satisfeitas, ncias, pediram um tempo para responderem. Dias depois as exibiam em seus automóveis:
- DEUS PERMITA QUE EU JAMAIS VIVA SEM O MEU PEDRINHO (Marlene) –
- QUERO A MARLENE SEMPRE AO MEU LADO, SEM ELA MINHA VIDA PERDERIA A RAZÃO DE SER (Pedrinho) -
Comoção pela triste notícia dos óbitos dos ilustres Pedrinho e Marlene, atingidos em seu automóvel, numa BR, por outro veículo que trafegava em sentido contrário.
Consternados, seus filhos, nora, genro e netos.
Ternas lembranças de que os últimos desejos dos diletos e inesquecíveis Pedrinho e Marlene foram integralmente realizados:
- UNIÃO NA VIDA, NA MORTE E POR TODA ETERNIDADE –