Pedro Rivera Jaro
Traduzido para o português por Silvia Cristina Preissler
Aqueles garotos saíam aos domingos, depois do almoço, e se reuniam nos pontos que conheciam e frequentavam nos dias úteis. Por exemplo, em um bar da rua Antonio Salvador, cujo nome não recordo, mas que eles chamavam de El Orejas (Orelhas), aludindo às grandes orelhas do dono. Hoje, sessenta anos depois, esse lugar se tornou um restaurante chinês, como tantos outros negócios no bairro de Usera.
Uma vez reunidos ali, decidiram que iriam “caçar maricões”. Para isso, usavam o Susi, que era um garoto do grupo, loirinho e bonito. Juan Luis el Narices (o Narizudo), el Salao (o Engraçado), Armando e el Coqui (o Coquinho), todos eles habituados a brigas de rua, utilizavam Susi como isca para atrair homossexuais. Naquela época, os homossexuais eram discriminados e perseguidos por sua orientação sexual, e por isso precisavam ser muito discretos ao procurar parceiros.
Na rua Concepción Jerónima, perto de Conde de Romanones, havia um local chamado El Toro Negro (O Touro Negro), frequentado por homossexuais, onde Susi lançava a sua rede para atrair vítimas. Quando Susi começava uma conversa com algum homossexual, o levava para algum lugar escondido, perto do rio. Quando a vítima já estava esperando por um momento de intimidade com Susi, de repente, os outros rapazes apareciam e roubavam tudo o que fosse de valor: dinheiro, pulseiras de ouro ou prata, relógios, anéis, etc.
Contudo, em uma ocasião, enquanto isolavam uma vítima, esta resistiu bravamente e se recusou a ser roubada. Os garotos avançaram para espancá-lo, mas o homem era um praticante experiente de jiu-jitsu. Com golpes habilidosos, ele usou as mãos para atingir pescoços e costelas dos agressores, causando dor e danos.
Os adolescentes acabaram fugindo para evitar mais castigo. Quando contavam a história no bairro, todos riam muito da situação.
Esses comportamentos criminosos eram um dos motivos pelos quais eu não queria andar com eles, apesar de serem conhecidos do bairro. Nunca gostei de abusos contra outras pessoas, principalmente pelo simples fato de serem diferentes.
Naquela época, gostávamos de dançar e queríamos entrar nos salões de dança, mas, como tínhamos apenas 14 ou 15 anos, não nos era permitido. Por isso, quando soubemos de um grande salão de dança em Getafe que deixava jovens da nossa idade entrarem, decidimos ir para lá.
Getafe, hoje uma cidade importante a cerca de 12 quilômetros de Madri, rumo a Toledo, era então um vilarejo em crescimento, como a maioria ao redor da capital. Depois de tantos anos, não tenho certeza, mas acredito que o nome do salão de dança era Emperador (Imperador). Pegamos um ônibus da empresa Adeva até lá, e, de fato, nos deixaram entrar sem questionar nossa idade.
Passamos a tarde dançando. Quando saímos para pegar o ônibus de volta, dois dos membros do grupo decidiram tentar ligar uma motocicleta estacionada na rua. Conseguiram fazê-la funcionar e voltaram a Madri montados nela, enquanto o resto de nós voltamos de ônibus, como havíamos ido.
Já em Madri, nos encontramos nos bilhares da rua Almendrales, em frente ao cinema Lux de Usera. Um dos dois que haviam roubado a moto se ofereceu para me levar até em casa. Embora preferisse ir de ônibus, não quis rejeitar a oferta para não ofendê-lo.
Subi na moto atrás dele, e ele me levou até o meu bairro. Aquele trajeto em uma moto roubada gerou problemas em casa quando minha mãe soube do ocorrido. Como consequência, meu pai me proibiu de andar com aqueles garotos, que eram jovens delinquentes e viviam completamente fora do controle familiar. Era uma vida que meu pai não queria nem para mim, nem para nenhum de seus filhos.