Tudo se passou tão rápido, pensou ela.
O tempo, a vida, os fatos, os bons e os maus momentos.
E assim pensando, sentou em um banco de praça que naquela época do ano, primavera, estava esplêndida, de um belo colorido. As árvores carregadas novamente de folhas verdes contrastavam com o colorido das flores diversas que haviam sido, há tanto tempo, plantadas e cuidadas nos vários e muitos canteiros ali existentes.
Árvores velhas e velhas roseiras carregadas de flores abertas e em botões além do perfume traziam a quem observasse, como ela, agora, uma imensa paz à alma.
O banco em que sentava era antigo também, todavia confeccionado em madeira nobre resistia impávido às mudanças e agruras do tempo.
Pessoas apressadas passavam à sua frente. Mulheres bem vestidas, penteadas e maquiadas seguiam, provavelmente, pensou ela, para seus trabalhos, suas ocupações.
Recordou ainda que as mulheres agora gozam de mais liberdade e também têm mais acesso à educação do que em seu tempo.
Ela houvera querido estudar e ter uma carreira como professora ou talvez até de médica, porém além de ser pobre seus pais tinham uma educação antiga, onde as mulheres somente eram feitas para ser mães, servir ao lar, criar os filhos e serem submissas ao homem, seu marido.
Em famílias mais abertas admitia-se à mulher ser professora ou talvez servir a Deus sendo freiras.
Uma leve inveja das mulheres de agora assomou momentaneamente sua mente, seu coração.
Aos homens que transitavam ali com passos ligeiros rumo à suas obrigações fizeram-lhe lembrar de seu pai e de seu marido. Sempre ambos tão apressados.
Foram bons homens, honestos e dentro de suas capacidades bons cidadãos. Como chefes de família se conduziram relativamente, a seus olhos, bem. Sustentaram a todos com moderação.
Seu marido foi um pai carinhoso com seus filhos, proporcionou-lhes acesso à escola e conseguiu com muito esforço os conduzir até a universidade onde ambos se formaram.
Como marido, como homem, sexualmente falando deixou lacunas. Tinha o hábito de olhar e se possível ter relações sexuais com outras mulheres enquanto ela trabalhava como cozinheira em um restaurante para ajudar com seu labor à economia doméstica.
Naquele momento passaram por ela várias crianças acompanhadas de seus pais e que se dirigiam à escola, o que lhe fez recordar de seus amigos de infância até o ponto em que pode estudar, ou seja, o 5º ano primário com então 12 anos de idade quando foi encaminhada pelos progenitores a um restaurante de amigos deles para ser aprendiz de cozinheira. Ali esteve até a pouco tempo, lembrou, por mais de 40 anos quando então se aposentou.
Seus amigos de infância seguiram seus caminhos na vida, uns operários, outros administradores, outros ainda médicos, advogados, engenheiros ou simplesmente negociantes.
Sentada ali naquele banco, agora com a idade a se mostrar em sua pele crestada, suas mãos calejadas, as pernas inchadas por tantos anos trabalhando em pé, sem maiores cuidados médicos, olhou pela última vez os fios de cabelos brancos que caíram e se depositaram sobre suas pernas cobertas pelo vestido negro que usava em memória de seu marido que falecera a alguns anos e achando que se vestindo assim sempre seria respeitada por seu estado de viuvez.
O vento primaveril soprou levemente conduzindo os cabelos brancos junto com as folhas caídas das árvores, momento este em que a cabeça dela pendeu para frente e ela adormeceu, naquele banco de praça, para sempre.