Silvia C.S.P. Martinson
A garota caminhava rapidamente.
Teria que atravessar a praça onde eles acampavam para chegar, descendo as escadarias, à farmácia.
Tinha 12 anos.
Sua irmã estava doente, era necessário comprar remédios para ela.
Sua mãe lhe encarregara de tal mister.
Estavam acampados ali fazia meses.
Ocupavam os dois lados do caminho. Só restava um corredor ao meio para passagem.
Vinham todos os anos a mesma época para comemorar o dia de Santa Sara, protetora das grávidas e dos ciganos.
Eram muito ricos, diziam, pois que o rei, a rainha e suas filhas, as princesas, se faziam acompanhar por seu séquito e também por subalternos.
As mulheres se vestiam luxuosamente com seus trajes típicos e cobriam-se de colares, pulseiras e brincos de ouro e pedras preciosas.
A garota tinha pressa e começou a atravessar o acampamento.
Foi barrada.
Uma cigana lhe interceptou e segurou a mão onde se encontrava o dinheiro para os remédios.
Começou falando que as linhas da mão diziam que a menina teria vida longa, muito dinheiro, saúde e um grande amor em seu caminho.
Enquanto isso disfarçadamente pegou o dinheiro e o guardou em suas saias.
A garota apavorada começou a chorar e suplicar que devolvesse o dinheiro, ao que a cigana argumentava que não o havia pego.
Por obra dos anjos ou dos demônios protetores das crianças, ela desesperada gritou:
- Se não devolveres o meu dinheiro te rogo, agora, uma maldição!
Cairá sobre ti, cigana maldita, as sete pragas do inferno!
A cigana recuou apavorada e tirou de suas saias o dinheiro que havia escondido e o jogou no rosto da pequena dizendo-lhe:
- Vai-te daqui peste!
A menina correu, comprou os remédios, voltou à casa e nunca, nunca mais esqueceu.
Hoje quando vê uma cigana, corre a por em frente a porta de sua casa uma vassoura com a palha para cima, em direção ao céu.
Dizem os ciganos, que isto é sinal de mau agouro e nunca se aproximam para pedir ou enganar.