Antes se chamava "a gota fria"

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Pedro Rivera Jaro

Traduzido para o português por Silvia Cristina Preissler Martinson

Já faz vários anos que escrevi algo sobre os incêndios florestais e a influência dos impedimentos ecologistas na limpeza dos montes, sua proibição de cortar espinheiros e ervas daninhas, para facilitar a reprodução de animais selvagens, como a raposa, o lobo ou o javali. O texto se chamava "Espanha em chamas".

Se algum pecuarista ou agricultor precisa podar os espinheiros, antes deve pedir uma autorização, que é concedida com a condição de que, ao realizar a poda, esteja presente um guarda dos organismos criados para a Conservação da Natureza. Como se a Natureza fosse algo inventado pelos ecologistas mais radicais, e as pessoas que durante gerações conservaram nossos montes e campos, não soubessem cuidar deles nem viver deles.

Agora, como consequência da tremenda catástrofe ocorrida há algumas semanas no Levante espanhol, com a chegada da terrível DANA (antes chamada de "Gota Fria"), que resultou na morte de centenas de pessoas inocentes, ocorre-me pensar que isso não é mais do que mais um capítulo do ecologismo radical.

Durante milhares de anos, o ser humano tentou domesticar o mundo que habitamos, na medida do possível. Construiu estradas, cultivou os campos, fez represas e açudes para conter as águas selvagens, entre outras coisas.

Mas agora parece que a humanidade estava errada, que todas as águas devem fluir selvagens pelos seus leitos, para que os peixes não encontrem barreiras no seu livre fluxo. Para isso, nos últimos anos foram demolidas centenas de obras que haviam sido construídas para domar a força bruta das águas e aproveitá-las para irrigação e geração de energia limpa.

Da mesma forma, a limpeza dos leitos fluviais foi abandonada, permitindo o crescimento descontrolado de canaviais e vegetação silvestre, que, quando chega uma enxurrada, como a última, arrasta tudo para as populações, causando as conhecidas destruições e tragédias.

Eu nasci e vivo em Madri, onde passa o rio Manzanares, o "aprendiz de rio", como o batizaram poetas e escritores, mas que, quando fica temperamental, como consequência de chuvas intensas em todas as terras altas ao longo de seu percurso, arrasta enormes volumes de água ao passar por minha cidade.

Para prevenir essas ocasiões, quando eu era criança, lá pelos anos 50, foi realizada a Canalização do Manzanares, com a construção de várias represas reguláveis, que são enchidas e esvaziadas à vontade dos responsáveis municipais pelo controle do rio.

Acontece que, há alguns anos, uma prefeita de Madri decidiu abrir as represas e permitir o crescimento da vegetação no leito. Hoje isso pode nos parecer muito bonito, porque a fauna e a vegetação fluviais são encantadoras, mas pode um dia acontecer o mesmo que ocorreu na região valenciana, e talvez tenhamos que lamentar tragédias semelhantes às de lá.
Se essas tragédias chegarem a acontecer, a quem culparíamos?

Os políticos de diferentes partidos jogariam a culpa uns nos outros, mas, no final, as vítimas, como sempre, são o povo. E como diz o antigo ditado: "Entre todos a mataram, e ela sozinha morreu".

 

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Pedro Rivera Jaro

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