Autor/aPedro Rivera Jaro

A caça com formigas

A

Pedro Rivera Jaro

Traduzido para o português por Silvia Cristina Preissler Martinson

Faz um calor tremendo. É pleno verão e o final de agosto. Caem as primeiras chuvas depois de muitas semanas sem cair nem uma gota de água.
E depois da chuva, quando o sol volta a aparecer, observamos que já estão saindo dos seus formigueiros as formigas aladas, que serão as próximas rainhas dos seus formigueiros e outros menores, também alados, que são os machos, chamados de alines, cujo único objetivo em suas vidas é fertilizar as rainhas. No pleno voo, fecundam as rainhas e depois caem ao chão para morrer, enquanto as fêmeas, quando descem ao solo, desprendem-se de suas asas, fazem um buraco no chão e começam a botar ovos, que depois serão as operárias do novo formigueiro.

Eu aprendi com Juan de Dios, um padeiro vizinho meu que era marido da prima Eulalia, a quem todos chamávamos de Olaya, a capturar as formigas antes que voassem, justamente quando se preparavam para realizar seu voo nupcial.

O sinal para cavar nas entradas dos formigueiros era a queda das primeiras chuvas.

Quando apareciam as formigas aladas, nós as colocávamos diretamente, ao capturá-las, nas piteiras, uma garrafa de vidro, para evitar que pudessem escalar e escapar voando.

Juan de Dios as usava como isca viva na pesca e nas bestas ou costelas, para capturar pássaros na temporada de pássaros de verão, que desciam das serras e voavam em direção ao sul, fugindo da queda das temperaturas.

Depois, eu desenhei meu próprio viveiro para manter vivas minhas formigas aladas pelo maior tempo possível, o que podia chegar a durar vários meses.

Colocava em uma caixa de madeira, camadas de areia com canas ocas, cortadas nos canaviais das hortas do Tio Torres, na margem do rio Manzanares. Depois, fazia bolas de papel de jornal e as intercalava com terra por cima.

Punha na parte de cima tampas metálicas de potes de conserva, com água que mantinha o grau de umidade. Em cima, colocava uma tampa de madeira e sobre a tampa de madeira uma lona que amarrava, para que as formigas não pudessem sair e escapar.

As pobres formigas aladas haviam passado de aspirar a serem rainhas nos seus formigueiros a serem iscas vivas para capturar pássaros.

As bestas, cepos ou costelas, que por esses três nomes eram conhecidas, consistiam em mecanismos com molas, cujo semicírculo superior abria sobre a parte inferior ou base, e se sustentava aberto com a ponta da haste presa no orifício onde se fixa a isca.

O orifício tem duas pequenas pontas de aço, opostas, que ao apertá-las, aumentam o círculo central onde introduzimos a parte traseira do corpo da formiga até o seu estreitamento e, uma vez dentro, soltamos as pontas e a formiga fica presa, mas sem apertar e com certa liberdade de movimento.

Quando a presa picava a formiga, a haste de fixação escapava e a parte superior, ou morte, golpeava com força, por efeito das molas, sobre a base. A diferença entre as bestas ou costelas e os cepos é que as primeiras têm uma tábua de madeira sobre a qual está presa a parte metálica, e os cepos não.

Era muito importante a escolha dos locais estratégicos onde colocar as armadilhas, como, por exemplo, as pequenas elevações, próximas a uma cerca de arame, onde os pássaros costumavam pousar.

Raspava-se o chão, arrancando as pequenas ervas que por acaso houvessem no lugar onde pretendíamos assentar a besta, formando uma pequena clareira que se destacava do seu entorno.

Depois se orientava, de modo que as asas da formiga brilhassem ao sol e, para evitar que o pássaro picasse a isca por trás, colocava-se nela um torrão ou tufos de erva que havíamos tirado antes, que tornasse mais fácil picar a isca pela frente e disparar o mecanismo, como explicava antes.

Eu também costumava amarrar um cordão na besta e prendê-lo a algum objeto pesado, ou a algum arbusto, para que, se acontecesse de que picasse algum animal de maior tamanho e força, não fugisse e escapasse arrastando a armadilha. E é que, em algumas ocasiões, acontecia de ser um lagarto ou uma lagartixa que mordia a formiga, já que tinham grande apetite por esse inseto e acabavam capturados pela besta.

Atualmente, tudo isso que eu conto pode parecer uma barbaridade. De fato, hoje em dia as bestas estão proibidas, e seu uso é punido com multas consideráveis, e o mesmo ocorre com a utilização de iscas vivas, mas há 60 anos, os passarinhos eram consumidos nos lares humildes e, inclusive, nos bares eram vendidos como aperitivos, uma vez temperados e fritos.

Espero e desejo que essa história da minha infância os distraia por um tempo e até gostem

Um dia nefasto na minha vida

U

Pedro Rivera Jaro

Traduzido para o português por Silvia Cristina Preissler

Os antigos romanos dividiam os dias classificando-os como fastos ou nefastos. Eles levavam isso para a vida cotidiana, tendo muito cuidado para não iniciar negócios em um dia nefasto, pois acreditavam firmemente que fracassariam. Em contrapartida, empreendiam nos dias considerados fastos, acreditando que teriam sucesso garantido.

No dia 23 de julho de 2024, exatamente um mês atrás, eu tinha planejado viajar para Palma de Maiorca, às 19 horas, pois tinha uma consulta com meu dermatologista.

Naquela manhã, depois de tomar banho e fazer a barba, tomei café com leite e biscoitos no café da manhã. Depois escovei os dentes e, depois de pentear o cabelo e me vestir, saí para a rua e me dirigi, como fazia todas as manhãs, à Biblioteca Pública Pedro Salinas, onde pegava um exemplar do jornal gratuito "20 Minutos".

Depois de pegar o jornal, subi pela rua Toledo até a padaria Corteza y Miga, comprei um pão de trigo e de lá fui à loja de Vinhos e Licores na rua de Calatrava, esquina com La Paloma, onde comprei uma garrafa de Anisette Marie Brizard. Quando saí daquela loja, após pagar os 12 euros que custava a garrafa, atravessei a pequena praça de Isabel Tintero, e ao chegar na escadinha de 5 ou 6 degraus de granito, que desce até a calçada da Gran Vía de San Francisco, percebi que o semáforo aberto para os pedestres estava prestes a mudar e fechar.

Inconscientemente comecei a correr e, de repente, sem saber como, me vi tropeçando nos degraus até cair de bruços, grande que sou, estendido no chão, sobre as pedras de granito da calçada. O jornal e o pão que eu carregava na mão esquerda, assim como a garrafa de Anisette Marie Brizard que eu carregava na direita, me impediram de apoiar as mãos adequadamente para amortecer minha queda. Meus óculos apareceram no chão com uma das hastes dobrada quase a noventa graus em relação ao resto.
A barra de pão saiu do saco de papel, da minha mão esquerda, e ultrapassou o jornal que também havia sido projetado para frente. E à minha direita, a garrafa de Anisette se despedaçou, derramando seu conteúdo e eu observei com horror que os cacos de vidro ficaram quase encostando no meu rosto, após a queda. Quando cheguei ao chão, ouvi um barulho seco que minha cabeça fez ao bater no chão com o lado direito do meu queixo.

Imediatamente ouvi várias pessoas me perguntando se eu estava bem e se conseguia me levantar. Naquele momento, eu estava checando meu corpo e percebi que, pelo menos, conseguia me levantar, o que equivalia a dizer que os ossos mais importantes dos meus braços e pernas estavam inteiros. Minhas mãos doíam e observei que sangrava abundantemente por um corte que tinha no queixo, assim como pela unha do dedo médio da minha mão esquerda, que estava levantada e separada da ponta do dedo, cuja primeira falange estava fraturada. A mão direita também tinha danos, que hoje, 23 de agosto, ainda doem, mas aparentemente não havia fraturas. Minha bochecha direita e a área ao redor dela bateram no chão, e mais tarde pude observar em casa que estava avermelhada. A parte externa do meu joelho direito também estava coberta de arranhões.

As vozes que se interessavam por mim, quando eu estava caído de bruços nas pedras, pertenciam a duas mulheres, muito boas pessoas, que se preocuparam em me ajudar naqueles primeiros momentos. Uma delas era uma senhora, ou senhorita, romena. A outra era uma mulher hispano-americana, não me recordo se era da Colômbia ou da Venezuela, mas me lembro que ela atravessou o bar em frente e comprou uma garrafa de água, com a qual ela lavou minhas mãos e meu rosto, para limpá-los de sangue.

Imediatamente chamaram uma ambulância, que chegou em poucos minutos e pertencia ao Samur. Que Deus abençoe essas duas boas mulheres, e também outras quatro pessoas que pararam no caminho para me ajudar. Dois jovens que, pela aparência física, me pareceram hispano-americanos. E, por último, um casal de aproximadamente 60 anos que também parou para me socorrer.

Agradeço por poder verificar, mais uma vez, que ainda existe humanidade no comportamento de muitas pessoas.

Liguei para minha esposa pelo celular, que estava em nossa casa, a 3 minutos de distância, e que, a princípio, ficou alarmada, mas eu a tranquilizei e pedi que viesse.
Ela chegou imediatamente com o carro e, quando chegou, os paramédicos do Samur estavam me atendendo dentro da ambulância. Desinfetaram minhas feridas, examinaram meus ossos para verificar seu estado e me disseram que eu deveria ir a um hospital para que pudessem dar pontos no corte do meu queixo, que se aprofundava até o maxilar e precisava ser costurado. Também precisaria que fizessem um raio-X.

Fui muito bem atendido pelos paramédicos e eles me ofereceram ir a algum hospital da Segurança Social, avisando-me que poderia ter que esperar o dia todo para ser atendido.
Como acontece que há muitos anos, além da SS, sou associado da ADESLAS (Seguro Médico Privado), e que precisava estar no aeroporto Adolfo Suárez, de Madrid-Barajas, uma hora antes do meu voo, ou seja, às 18 horas, pedi à Estrella, minha esposa, que me levasse ao Hospital Madrid, na praça do Conde do Valle de Suchil, e ela me levou, e fui muito bem atendido por uma médica traumatologista, cubana de nascimento e descendente de galegos.

Minha esposa acreditava que teriam que arrancar minha unha, mas a médica me informou que não costumavam mais fazer isso. Devo dizer que, hoje em dia, as duas unhas danificadas estão praticamente normais. Uma delas, a da mão esquerda, ainda tem uma mancha roxa na ponta, mas que calculo que desaparecerá em um mês.

Quando chegamos em casa e minha esposa colocou a comida nos pratos para nós dois, ao tentar comer, percebi que não conseguia mastigar, e descobri que tinha quebrado o dente do siso inferior direito, bem como outro dente superior do lado esquerdo. Então fiquei, vários dias me alimentando de caldos, iogurtes, etc. Atualmente já como todos os tipos de alimentos, embora as bebidas frias eu deva beber pelo lado esquerdo da boca, se não quiser sentir dor no lado direito.


Na minha volta de Palma de Maiorca, marquei uma consulta com o dentista, mas a solução proposta pela médica que me atendeu, que era substituta do meu dentista habitual, que estava de férias, que consistia em extrair o dente do siso, não me convenceu. Então cancelei a consulta para a extração e decidi esperar até que meu dentista habitual voltasse.

Minha esposa opinava, e certamente tinha razão, que as consequências da minha queda poderiam ter sido muito mais graves. Então, além disso, tenho motivos para ficar feliz.

Às 17:30, minha esposa me levou ao aeroporto, e lá eu saí do carro com minha mala, e ela voltou para Madri. Eu estava com o corpo dolorido e os dedos enfaixados. No queixo, me deram três pontos, que a médica recomendou que eu não molhasse por alguns dias, para ajudar na cicatrização da ferida.

Quando cheguei ao controle de bagagens, onde os detectores buscam armas ou bombas, graças ao presente que os terroristas nos deram, às pessoas normais, o agente responsável por me revistar disse que eu deveria tirar o cinto e os suspensórios e também deveria esvaziar meus bolsos. Eu respondi que sentia muito, mas que tinha um dedo quebrado na mão esquerda e a mão direita completamente inchada e dolorida, como ele poderia ver pelos meus curativos. E também informei a ele que tenho 6 pinos de titânio na minha coluna vertebral, assim como uma prótese de quadril, no lugar onde antes estava o meu quadril esquerdo original.

Aquele agente deve ter entendido e me ordenou que passasse pelo detector até onde ele estava, e lá me revistou sem encontrar nenhum objeto que pudesse parecer suspeito.
Quando cheguei aos monitores luminosos onde os voos são descritos, procurei o meu voo UX-6097 da companhia AIR EUROPA, que tinha previsão de embarque às 18h15, saída de Madri às 19h00, com destino ao Aeroporto de Maiorca e chegada às 20h20.

A única informação era que o voo estava atrasado.
Desde as 18h, quando cheguei à área de embarque, até as 19h40, quando entrei no avião, os sofridos clientes da AIR EUROPA tiveram que suportar a total falta de informações da companhia aérea.
A principal causa do atraso era que eles tinham apenas um avião para fazer os percursos de ida e volta, e qualquer atraso causado se acumulava ao longo do dia.

O sofrimento ainda não acabou, porque às 20h09, todos os passageiros já estavam dentro do avião há quase meia hora, com um calor horrível, quando começaram a nos explicar o protocolo de segurança, e naquele momento, alguns passageiros, já nervosos com os atrasos, começaram a gritar pedindo que ligassem o ar-condicionado.

Naquele momento, a comissária-chefe se dirigiu a uma passageira que protestava pelo atraso e pelo calor e lhe disse que o ar-condicionado não podia ser ligado até que decolássemos.
A partir das 20h09, o avião ficou se deslocando dentro do aeroporto, do Terminal 2 até a pista de decolagem do Terminal 4, e só às 21h06 é que ocorreu a decolagem.

Às 22h07, pousamos no aeroporto de Son Sant Joan de Palma de Maiorca, e agora vem o clímax, de um voo que normalmente dura 50 minutos e que sofreu um atraso de 127 minutos, quando pelo alto-falante do avião a comissária-chefe nos informou que precisávamos esperar a chegada da Guarda Civil do Aeroporto, para deter a senhora que havia protestado pelo atraso e pelo calor.
A maioria dos passageiros começou a gritar que queria sair do avião, mas não nos deixaram sair até às 22h28, quando começamos a sair do avião.
Ao lado da porta da frente pela qual saímos e entrávamos no finger, estava um sargento da Guarda Civil, acompanhado de um membro do mesmo Corpo, esperando a senhora que vinha saindo atrás de mim.

Achei injusto e insuportável que detivessem aquela passageira, e me dirigi aos agentes, expressando meu desacordo, pois não havia motivos para isso, já que o único que ela fez foi protestar contra um tratamento degradante aos passageiros, por parte da companhia e de sua comissária-chefe.
Também manifestei minha vontade de testemunhar o que havia acontecido, ao que o Sargento me respondeu que ficasse tranquilo, pois não haveria consequências para aquela passageira.

Não faltou um funcionário de terra da companhia que se manifestasse em apoio à comissária-chefe, dizendo que o ar estava funcionando no aeroporto de Madri. Eu respondi que como ele poderia saber o que aconteceu em Madri, de seu posto de trabalho naquele corredor de Palma de Mallorca? Ao que ele não teve outra escolha senão ficar quieto.

Várias pessoas pararam no balcão da Air Europa para pedir o Livro de Reclamações, e disseram que não tinham ali, que deveríamos protestar por via eletrônica. A única coisa que conseguimos foi um folheto escrito em frente e verso, em inglês, com informações sobre os direitos dos passageiros aéreos na União Europeia, com o código AEA-ME-026-ANO4-R12.

O certo é que aguentamos uma situação abusiva, e que, por não querermos nos incomodar em fazer uma reclamação desses abusos, a AIR EUROPA repete o abuso uma e outra vez, porque não é a primeira vez que eu mesmo tive que suportar isso.

A cobra que roubava leite de um bebê

A

Pedro Rivera Jaro

Traduzido para o português por Sílvia C.S.P. Martinson

Nos anos cinquenta quando eu era uma criança com poucos anos, as mamães com bebês lactantes costumavam dar-lhes de mamar em público, pois que então era considerado o mais natural.

Se, se encontravam cozendo na porta da casa junto a outras vizinhas e o bebê chorava porque tinha fome, pegavam o bebê nos braços, tiravam o peito fora de seu alojamento têxtil e punha o mamilo na boquinha para que sugasse o leite e acabasse sua fome.

Logo em seguida, dependendo de cada bebê e seu apetite podia ele saciar-se com o conteúdo de um seio ou seguia tendo fome ela guardava o seio vazio e continuava com o segundo em sua alimentação. Até que o bebê se cansasse de mamar e então a mamãe lhe limpava a boquinha e guardava a mama dentro de seu alojamento no corpinho.

Recordo que em uma ocasião estava minha querida mamãe dando de mamar a meu irmão Felix, quando eu tinha 5 anos, estava eu olhando como faziam e mamãe pegou seu mamilo entre os dedos e apertou dirigindo o jato de leite à minha cara que ficou molhada e pegajosa pelo leite projetado sobre ela. Minha mãe ria-se com força e eu também. O único que protestou foi meu irmão que havia notado como se interrompia sua comida.

É possível que a grande atração que exercem sobre mim os peitos das mulheres se encontre em meu subconsciente, que possivelmente guarda aquela recordação do seio materno, fonte natural de vida.

Porém agora queria contar-vos uma historia que nos contou a avó de meu amigo Ignacio, a ele e a mim.

Esta senhora era natural de um pequeno povoado de Toledo chamado Escalonilla e nos referiu uma historia de um menino que estavam criando em seu povoado com o leite de sua mamãe. O menino estava bonito porém nos últimos dias deixou de pegar peso e despertou o alarme a sua mãe e a sua avó.

A mamãe se sentava em um cômodo cadeirão no corredor de sua casa com o bebê nos braços dando-lhe o peito enquanto cochilava. Quando o leite se acabava em seus peitos ajudava o bebê a expulsar o ar dando-lhe umas palmadinhas nas costas e logo lhe deitava para que dormisse.

Naqueles últimos dias o menino chorava desconsoladamente depois de mamar e sua mamãe notou que não ganhava peso e comentou com sua mãe, a avó do bebê.

A avó calou quando ouviu o comentário e decidiu observar de um lugar escondido como se amamentava o bebê. O menino começou a mamar e a mamãe cochilou em seguida.

De imediato a avó observou que do olho de uma enorme fechadura que havia naquela velha porta de madeira começou a sair uma cobra bastarda que se aproximou até a boca do menino introduzindo nela a ponta de sua cola. Ao mesmo tempo que com sua boca começou a mamar na teta. Uma vez havendo terminado se retirou pelo mesmo orifício em que havia saído antes.

A avó despertou a sua filha e lhe explicou o sucedido. Esta ficou horrorizada com a explicação do que lhe estava passando.

No dia seguinte puseram um laço corrediço no olho da fechadura e quando a cobra saiu lhe capturaram e fim do problema. A levaram a grande distancia e a soltaram onde não pudesse voltar aquele corredor.

O menino voltou a recuperar seu peso e sua mamãe e sua avó sua tranquilidade e sossego.
Se a historia foi correta ou foi inventada somente para entreter-nos, a uns meninos, não tenho forma de saber, porém isso já é algo secundário. O importante é que esta história me impactou e nunca a esqueci. Por isso mesmo, agora, tenho o prazer de a dar a todos vós outros.

A pouco, alguém me contou outra historia parecida de outra serpente que mamava nos ubres de uma vaca que tinha um terneiro lactante, com tal suavidade que a vaca buscava a serpente para que lhe mamasse, até ao ponto que chegou a aborrecer a seu terneiro.

Minha pergunta é: Podia tratar-se da mesma serpente.

O pátio da minha casa

O

Pedro Rivera Jaro

Tradução para português de Silvia Cristina Preissler
 
As pessoas de fora de Madrid pensam que esta grande cidade sempre esteve constituída por enormes arranha-céus como os que existem na bela rua Gran Vía ou do Paseo de la Castellana, mas eu lembro-me desde a minha primeira infância, nas zonas dos bairros do sul de Madrid, na minha rua, que então se chamava Barrio de San José e mais tarde mudou para Calle de San Fortunato, havia uma maioria de casas térreas, em muitas delas não se dispunha dos serviços mais básicos, como água corrente ou esgotos, e as suas ruas não tinham pavimento e, quando chovia, formavam-se enormes lamaçais e grandes poças de água, onde nós, crianças, brincávamos até ficarmos salpicados de água embarrada e, quando chegávamos a casa, as nossas mães davam-nos umas boas palmadas nas nádegas.
 
A duzentos metros da minha casa, havia campos semeados com trigo ou cevada, em cujos sulcos procurávamos ninhos de cotovias, lagartos, lagartixas e cobras. Desfrutávamos dentro da grande cidade de coisas típicas do campo, como ouvir onde os grilos cantavam e descobrir o buraco onde se refugiavam ao ouvir o som dos nossos passos quando nos aproximávamos. Colocávamos uma pequena palhinha de legumes no buraco e, quando eles entravam no seu abrigo recuando, fazíamos-lhes cócegas na parte da frente e os obrigávamos a sair, momento em que nós outros aproveitávamos para os capturar. Logo os colocávamos em pequenas gaiolas feitas de telas metálicas redes mosqueteiras e lhes atirávamos folhas de alface para que comessem e nos deliciassem com o seu canto.
 
Naquilo que foi a minha casa, há hoje dois blocos de apartamentos de quatro andares, e a rua de que vos falei que era de terra está agora asfaltada, e todos aqueles campos de trigo e cevada são hoje blocos de apartamentos com todos os serviços e comodidades que a vida moderna impõe.
 
Na parte traseira da minha casa havia garagens onde o meu pai guardava o seu caminhão, com a sua bancada de trabalho, ferramentas e demais utensílios para o seu trabalho de transportador. Noutra parte havia um galinheiro, com algumas dúzias de galinhas poedeiras, um pombal na parte superior e, do lado de fora da cerca de metal do galinheiro, tínhamos três gaiolas de coelhos.
Tudo isto estava ao meu cuidado, pois tinha entre as minhas obrigações à alimentação e a limpeza de todos estes animais.
 
Um dia os contarei muitas outras coisas sobre o decorrer de minha infância, muito feliz, mas sublinho que nós, crianças, tínhamos então muitas obrigações para ajudar nas atividades familiares, ademais de estudar.
 
Na parte do meu pátio que dava para a janela da cozinha e à qual se acedia através da porta do corredor central da casa, havia uma enorme amoreira que o meu avô Pedro tinha plantado e que produzia amoras brancas muito doces, à volta de cujo tronco grosso havia sido posta uma grande mesa de madeira, onde aos domingos de verão costumávamos comer os seis membros da nossa família.
 
Quando eu fazia alguma travessura de criança e irritava a minha querida mãe, ela corria atrás de mim, de chinelo na mão, eu subia em cima da mesa e, subindo pelo tronco e ramos da árvore, escapava à fúria da minha mãe.
Tínhamos também uma figueira com figos brancos pescoço de dama, deliciosos, duas videiras para fazer sombra, uma roseira com rosas vermelhas e plantas de sândalo e hortelã, em volta de todo pátio, numa orla de terra ajardinada, e nas paredes, colocados em suportes de ferro pintados de verde, pendiam vasos de gerânios, pelargônios, cravos, etc., contra o fundo branco da cal, deslumbrando o olhar, como se estivéssemos num belo pátio andaluz.
 
E todo o resto do pátio era pavimentado com cimento, que antes esteve empedrado com pedra de apiário, onde eu pequeno tropeçava e feria os joelhos demasiadas vezes.
Na década de 1950, aproximadamente em 1955, em pleno mês de julho, tivemos um dia verdadeiramente tórrido.
Então não se falava de alterações climáticas, mas os garanto que era tão quente como é agora, com a agravante de que não termos ar condicionado.
 
O nosso frigorífico era um poço de água, com cerca de 12 metros de profundidade, em cujas águas límpidas e frescas, por meio de um balde atado a uma corda, fazendo-a deslizar por meio de um gancho de ferro se baixava uma garrafa de vinho, outra de gazosa e uma terceira de água, uns tomates e um melão.
 
Tudo isto era introduzido na água do poço e, quando chegava a hora do almoço, trazíamo-lo para cima, e o conteúdo ficava bem fresco.
Esse poço tinha sido escavado pelo meu avô Pedro, muito antes de eu ter vindo a este mundo, e ele tinha-o revestido com tijolo.
 
No cimo, a borda do poço tinha cerca de um metro de altura de todo ele estava revestido de cimento e caleado. Por cima tinha um arco metálico e na metade deste tinha soldado um gancho no qual se pendurava a garrucha.
Duas dobradiças estavam presas à borda do meio-fio com parafusos grandes, que se ligavam a um alçapão de chapa metálica que se ligava à borda circular da sua borda oposta.
 
Desta forma, fechava-se a boca do poço e evitava-se qualquer acidente que pudesse acontecer a qualquer pessoa ou animal, e que pudesse cair ao fundo do poço, como aconteceu com uma perdiz vermelha, que eu mantinha solta no meu jardim, e que, assustada pelo meu irmão Javi, caiu depois de um curto voo no fundo do poço, e tivemos de a tirar com o balde, mas, como resultado dos golpes na cabeça quando caiu, ficou cega e em poucos dias morreu. Fiquei muito triste com a sua morte, porque tinha criado este animalzinho desde que era um pintainho e lhe tinha grande de carinho.
 
Ao lado da calçada do poço havia uma pia de pedra, que desaguava no esgoto, onde a minha mãe, uma vez cheia de água do poço, lavava a roupa, enquanto cantava as canções que ouvia cantar no rádio a Lola Flores, Juanita Reina, Marifé de Triana e outras celebridades da época.
 
As primeiras máquinas de lavar automáticas ainda não tinham chegado a Espanha.
Como já disse anteriormente, nessa tarde-noite o calor se fazia insuportável e o meu pai pensou que podíamos dormir no pátio, aonde à fresca das árvores a temperatura seria um pouco mais baixa.
Por isso, pôs uns tapetes no chão e, em cima deles, colocou um colchão com alguns lençóis e deitou-se nele.
Eu achei um pouco engraçado e perguntei-lhe se podia dormir com ele, e ele riu-se e disse que sim, e, eu dormi com ele.
Na metade da noite fomos acordados por uma tremenda tempestade com trovões e muita eletricidade.
De repente, começou a chover violentamente, obrigando-nos a recolher tudo e a correr para dentro de casa.
 
São coisas que acontecem na infância e que ficam profundamente gravadas na memória sem que se possa esquecê-las com o passar dos anos.
Passaram-se 69 anos e sigo recordando os gestos carinhosos de meu querido pai.

Água de Carabaña

Á

Pedro Rivera Jaro

Traduzido para o português por Sílvia C.S.P. Martinson
 
Pinto em 1946 é uma cidade localizada ao sul da capital madrilenha, cujo ponto mais importante era, e ainda é, o Colégio de Guardia Jóvenes Duque de Ahumada, onde os jovens que queriam se tornar membros da Guarda Civil eram treinados.
 
Naqueles anos da Fome, assim chamados porque a Espanha havia acabado de sair de uma guerra entre irmãos, que havia durado quase três anos, meu sogro Fermín, que estava preso há um ano e meio por ter sido membro do exército republicano, circunstância que explicarei em outro lugar e em outro momento, conseguiu montar uma pequena peixaria na praça de Pinto, e viajava todas as manhãs de trem para Madri, onde comprava no Mercado de Peixes que estava então na Porta de Toledo, e pelo mesmo meio de transporte voltava com a mercadoria para Pinto, onde Maria, minha sogra e Fermín, as vendiam aos habitantes da cidade. Desta forma, eles começaram a reorganizar sua vida familiar para criar seus três filhos, um menino e duas meninas.
 
Esta atividade garantia que eles pudessem comer peixe todos os dias, o que era muito importante naquela época de isolamento a que os espanhóis estavam sujeitos, quando a Espanha estava em ruínas, com muitos milhares de feridos em combate e muitos milhares de pessoas presas.
 
O fato é que ao lado do mercado de peixe vivia uma senhora chamada Angeles, que tinha uma filha de 11 anos de idade, e essa vizinha falava com Maria, minha sogra, para que ela levasse Angelines, que era o nome de sua filha, para cuidar das crianças, para que Maria ficasse sozinha enquanto cuidava do mercado de peixe, a Rafita, Maruja e Conchi, meus cunhados, porque Estrella, minha esposa não viria ao mundo até 1953, foram deixados para serem cuidados pela filhinha da vizinha.
 
Do ponto de vista de nossos tempos, pode parecer ultrajante que uma criança tão jovem já tenha obrigações de trabalho, mas vou lhe dizer que meu pai Félix, aos 6 anos de idade, estava pastoreando um rebanho de ovelhas. Era uma sociedade diferente, onde todos eram necessários para ajudar a família.
 
Minha sogra, María, quando a menina veio a sua casa no primeiro dia, ela a alimentou até que seu apetite estivesse satisfeito. Isso foi incrível para Angelines, que estava em necessidade como quase todos os outros na época. Ela gostava de comer anchovas e sardinhas cruas, depois de abri-las e limpá-las. E ela também as preparou para que as crianças comessem, o que foi do agrado delas. Quem não gostava que comessem peixe cru era Maria, que proibiu a Angelines de fazê-lo: "Você come o quanto quiser, mas não dê cru aos meus filhos". No entanto, as crianças gostavam de comê-lo e continuavam a comê-lo secretamente.
 
Havia outra vizinha, amiga de Maria, que tinha um menino de 6 anos, que na opinião de Angelines era muito pouco amigável. Esta vizinha costumava vir à casa todas as tardes com o menino, e o menino tinha o hábito de pedir água assim que chegava e se sentava.
 
Então Maria enviava Angelines para a cozinha à que lhe servisse um copo de água. Cansada daquela criança incomodando-a todos os dias com água, um belo dia ela decidiu trazer-lhe Água de Carabaña ao invés de água, que era um purgante poderoso, e assim que ele a bebeu a reação no intestino da criança foi fulminante.
- Mamãe! Mamãe!, gritou a criança e sua mãe disse: "Mas o que você deu ao meu filho?"
 
Em resumo, nada de grave, exceto a necessidade urgente de evacuar. A Sra. Maria imaginou o que acontecera, porque sabia que a menina era traveça. Mas ficou quieta até que a criança e a mãe tivessem partido. Depois ela deu à Angelines uma boa repreensão pelo que ela havia feito.
 
Mas a verdade é que a criança nunca mais voltou a pedir água, nunca mais.

SÓ TINHA 7 ANOS QUANDO PERDEU SEU BRACINHO

S

PEDRO RIVERA JARO 

TRADUZIDO AO PORTUGUÉS POR SILVIA C.S.P. MARTINSON

 
Minha prima Victóri era a filha ais velha e única de seis irmãos, filhos de meu tio Perico e de sua esposa, minha tia Julia. Foi a loja de mantimentos comprar lentilhas, como ordenou sua mãe. Somente tinha 7 anos, porém sua mãe tinha que cuidar dos outros pequenos que já tinha no mundo.
 
Cruzou a rua Marcelo Usera por onde subia e baixava o bonde da linha 37 e entrou na loja do Tio Ratón que rea como se chamavam o dono da loja.
 
Comprou meio quilo de lentilhas, as pagou com o dinheiro que sua mamãe lhe havia dado e empreendeu o regresso à sua casa, para o que tinha que voltar a cruzar Marcelo Usera.
 
Um caminhão carregado subia a colina procedente da Glorieta de Cádiz e passou pela frente de Victori quando ela acabava de sair da loja. Aqueles caminhões, daquela Espanha, não tinham a potencia e a velocidade dos caminhões da atualidade. Subiu trabalhosamente aquele caminhão pela frente dela e quando terminou de passar ela cruzou a rua correndo sem dar-se conta de que um bonde baixava em grande velocidade e a colheu derrubando-a ao solo e onde lhe cortou o bracinho esquerdo na altura entre o ombro e o cotovelo.
 
Minha mãe que adorava a Victori ficou absolutamente aterrada quando recebeu aquela terrível noticia. A menina sofreu intervenção cirúrgica de imediato e salvou a vida, ainda que para sempre ficou manca de seu braço esquerdo.
 
Cresceu sem seu bracinho, porém conservou intacto seu espírito, sua vivacidade e sua alegria.
 
Ao largo dos anos aprendi a observá-la conservando sua coqueteria e neste sentido ocultava a falta de seu braço com roupas que lhe tapassem, como por exemplo: vestia um cardigã sobre os ombros sem colocar seu único braço na manga.
 
Desenvolveu habilidades impensáveis para os que temos a sorte de conservar ambos os braços, como por exemplo, lixar as unhas de sua única mão sujeitando entre os joelhos uma caixinha de fósforos cujo raspador era a lixa. E o que não podia lixar assim o conseguia pondo-a entre os dentes a maneira de sujeitar.
 
Era incrível vê-la fazer ponto com lã sujeitando uma das agulhas sob o toco que ficara de seu braço esquerdo.
 
Porém, o mais incrível de Victori sempre foi seu espírito positivo, sua reação ante tantas dificuldades que a vida trouxe até ela. Tinha um talento nato para cantar fandangos de Huelva e se acompanhava dando palmas com sua única mão sobre seu músculo direito.
 
Não havia tristezas a seu lado, sempre tinha piadas para fazer-nos rir a todos e sempre se interessava por conhecer as coisas particulares da vida dos membros de nossa família .
 
Sempre acompanhava aos atos sociais da família, tais como, bodas, batizados, comunhões e mortes. Se algum familiar sofria uma operação cirúrgica ali estava Victori dando sua companhia.
 
Por desgraça o COVID 19 nos arrebatou-a. Que descanse em paz e siga vivendo em minhas recordações.

Pensa mal e acertarás

P

Pedro Rivera Jaro 

Traduzido ao portugués por Silvia C.S.P. Martinson

  Se algo eu aprendi ao largo de meus 74 anos de vida, há sido desconfiar de políticos e por adição de governantes de qualquer signo político.

Recordo que sendo um menino, me contava um senhor ancião, de cabelos e bigodes brancos, que quando da guerra de independência de Cuba, a intervenção oficial norte americana começou devido à explosão e imediato afundamento do encouraçado Maine pertencente aos Estados Unidos da América do Norte, estando fundeado na baia de Havana em águas de Cuba.

Essa foi à escusa, o detonador, para intervir sem tabus na guerra de Espanha com os independentistas mambis de Cuba. E já de passo se somaram Porto Rico, Filipinas e a ilha de Guam a insurreição e posterior influência norte-americana sobre estes territórios.

Conhecemos, todos, a situação política posterior de todos estes territórios onde os Estados Unidos tiveram predomínio, exceção a Cuba, donde veio o pombo cuca, e na qual, desde os primeiros cinquenta anos, Fidel Castro e seus guerrilheiros em Sierra Maestra se apoderaram da Pérola do Caribe e aí seguem com seu regime comunista.

Os Estados Unidos ocuparam Guantánamo em 1898. Legalizaram essa ocupação no Tratado USA-Cuba de 1903, conseguindo jurisdição, porém conservando Cuba a soberania definitiva.

A realidade era que para a Espanha não lhe interessava provocar ao gigante norte americano, porém pode ser organizado pelos independentistas cubanos, com o objetivo de agitar a opinião pública americana e promover a intervenção norte americana em conflito
O proprietário do diário The World e de outros muitos periódicos, William Randolf Hearst que havia visitado Mine quatro dias antes de seu afundamento.

Depois da explosão se comprovou que não haviam peixes mortos ao redor, ou seja, que não havia indícios de explosão exterior. A explosão foi interior e produzida por um acidente ocorrido pela combustão espontânea de carvão, que se transmitiu â pólvora negra que formava parte da carga e também à munição , provocando a explosão e o imediato afundamento do encouraçado.

Em 1975, uma equipe de expertos dirigida pelo Almirante Hyman Rickover, criador da Marinha de Guerra Nuclear, concluiu que a explosão foi interna e que os oficiais do barco não obraram com as devidas cautelas. Houve outros investigadores que chegaram a igual conclusão.

Dito isto e referindo-nos ao conflito gerado pelo ataque de Hamás, como pode ser que entre um contingente armado em território israelita, que está fortemente militarizado e com preparação de reação a ataques terroristas, atuem livremente sobre uma multidão de milhares de jovens assistentes a um grande espetáculo musical? Não havia nenhuma vigilância que pudesse reagir?

Assassinar a 1.200 pessoas e centenas de feridos e sequestrados, sem encontrar resistência no mesmo país que faz poucos dias há reagido ao lançamento de 300 misseis e drones, conseguindo sua destruição quase a 100 por cento. É possível crer sem ter um mínimo de desconfiança?

Ao menos deveríamos de pensar, os que tenham um grama de cérebro.
A imprensa e demais meios são convenientemente silenciados pelo poder político e habilmente dirigidos até onde convém aos que mandam.

Sempre há sido assim, segue sendo e seguirá pelos séculos dos séculos, enquanto o homem seja homem.

A quem convém tudo o que está passando no Oriente Médio?

A guerra da Melilla em 1909

A

Pedro Rivera Jaro

Traduzido para portugués  por Silvia C.S.P. Martinson

 
Uma das guerras da Espanha no Marrocos ocorreu em 1909. Para essa guerra, como para todas as guerras, o povo contribuiu com seu sangue mais jovem e também com seus oficiais militares mais corajosos, como o Capitão Melgar.
 
Os políticos causam guerras e os filhos do povo, que não têm dinheiro para pagar a Bula de Salvação e evitar o recrutamento, derramam seu sangue em defesa dos interesses de algumas pessoas poderosas que nem sequer conhecem. Tudo isso em nome da "pátria".
 
Bem, meu avô paterno, Apolônio, que na época tinha 21 anos, era um desses jovens.
Quando eu tinha uns 12 anos, meu avô devia ter uns 74 anos, e devido a uma insuficiência de seu suprimento de sangue, durante as noites ele sofreu episódios que o fizeram chamar sua mãe durante o sono, gritando e acordando minha tia Lucia e minhas primas Isabel e Rosita. Para compartilhar este pequeno aborrecimento, porque o resto do tempo meu avô era uma pessoa muito carinhosa com sua família e muito apreciada pelos vizinhos e amigos, os cinco filhos, ou seja, meus tios e meu pai decidiram acompanhá-lo todas as noites por sua vez, para que o resto da família pudesse descansar.
 
O problema surgiu porque meu pai e meu tio Victor eram ambos condutores de caminhão e às vezes dormiam enquanto dirigiam podiam interromper a concentração necessária para dirigir um caminhão, como aconteceu em uma ocasião com meu tio Victor, que saiu da estrada e felizmente não tivemos que sofrer nenhuma conseqüência séria. Para evitar isso, nós netos, quando era estritamente necessário que nosso pai ou tio dormisse, acompanhávamos nosso avô durante a noite, para cuidar dele com todo o carinho que nossos mais velhos merecem.
 
Meu avô não costumava falar muito, mas de vez em quando ele dizia algo, sempre com muito carinho e um sorriso no rosto. Ele chamou carinhosamente meu pai de "el Negro" (o preto), porque seu cabelo e sua pele eram escuros e bronzeados pelo sol. Ele costumava dizer que sempre foi diferente de seus irmãos. Outra memória que tenho, talvez uma das mais antigas da minha vida consciente, foi num dia ensolarado e bonito, quando meu pai e meus tios estavam em um campo no que é hoje a Cidade dos Anjos, em Madri, e meu avô estava comigo, enquanto colhiam grão de bico no campo, meu avô me levou sob um grande tanque de água, cujos suportes eram colunas de ferro, e lá ele tirou sua boina preta, que sempre usava na cabeça, e pegou minha mão, tirando de dentro da boina um grilo preto, que ele queria que eu pegasse na mão, mas que me assustava. Seu sorriso estava completo, sua boca e seus olhos estavam iluminados, e falando comigo muito suavemente ele me disse: não tenha medo filho, olhe, não faz nada. Veja como eu o tenho? Meu medo desapareceu e peguei o grilo, e depois de um tempo o soltamos, para que ele pudesse continuar vivendo livre. Ele também me contou, durante uma noite que eu o vigiei e o acordei, sobre quando ele estava lutando na Guerra de Melilla, onde quase morreu da peste e da luta com os Kabileños.
 
Ele era um embalador, ou seja, era responsável pelo cuidado e manuseio das embalagens e mulas, que eram o meio de transporte fundamental naquele terreno acidentado, para as armas pesadas, munições e outros suprimentos em geral necessários naquela situação. Todos os dias ele tinha que levar as mulas para beber água em uma nascente, a qual tinha que ser acessada descendo por um barranco, no fundo do qual se encontrava o regador. Do alto das colinas que bordejavam o barranco, os Kabileños escondidos disparavam seus rifles contra os soldados espanhóis abaixo, causando muitas baixas.
 
Meu avô costumava me dizer que ele se aconchegava a uma das mulas, cobrindo-se atrás da cabeça, pescoço e pernas do animal, servindo assim como um parapeito. Essa ravina se chamava del Lobo.
 
Naquele momento eu entendi a canção que eu ouvia as meninas cantarem quando eu era mais jovem, enquanto elas saltavam na corda: "En el Barranco del Lobo/// hay una fuente que mana/// sangre de los españoles// que murieron por España.// Pobrecita niña // ¿cuánto llorará? // al ver su novio// // que a la guerra va. //Ni me peino ni me lavo//ni me pongo la mantilla//hasta que vuelva mi novio//de la guerra de Melilla//Pobrecita niña//? Cuánto sufrirá//pensando en su novio//que en la guerra está//

Outra coisa que ele me disse como foi resgatado de entre os mortos e os desalojados pela peste por um compatriota, colega e amigo dele, cujo nome não lembro, embora seu sobrenome fosse Ramos, quando os enfermeiros o levaram para um quartel onde jogavam os mortos vítimas da terrível peste que irrompeu entre os membros do exército espanhol na África.
 
Quando seu amigo Ramos pôde ir vê-lo no alojamento e descobrir que havia sido levado ao necrotério, ele disse que isso não poderia ser, pois que pela manhã ele o havia visto se recuperar, lenta mas seguramente. Não satisfeito com a situação, ele foi até o necrotério e verificou que a porta do necrotério estava trancada, mas encontrou uma janela que não estava devidamente fechada, e através dela entrou. Ele procurou meu avô lá até encontrá-lo, e verificou se ainda estava vivo. Ele o carregou de costas e o arrastou até a janela, levando-o para fora e carregando-o para o alojamento com a ajuda de outro colega que o esperava do lado de fora do necrotério.
 
Esse tremendo gesto de solidariedade, amizade e companheirismo, sempre teve em mente e sem ele, provavelmente eu não existiria e não estaria contando esta história para vocês. Meu avô Apolônio foi curado e viveu até os 80 anos de idade. Aquele amigo que literalmente o trouxe de volta dos mortos costumava visitar a casa de meu avô em Madri e eu costumava vê-lo quando era um garotinho, mas não sabia então o que lhe estou dizendo, que foi a origem e o fundamento de sua grande amizade que durou até sua morte.

Promessa fracassada

P

Pedro Rivera Jaro 

Traduzido ao portugués por Silvia C.S.P. Martinson

   

Cerquei-me a ti por teu sorriso
que me promete o que teus olhos dizem,
o que adivinho em seu brilho
e que cala tua silenciosa boca.

Isso era ao menos o que eu acreditava
até comprovar que tua promessa desaparecia
e tampouco teus olhos não expressava a verdade
e que seu brilho, hás perdido de imediato
enquanto a tua boca deixou de ser silenciosa
e começou a falar, a falar, a falar.

Espanha en chamas

E

Pedro Rivera Jaro 

Traduzido ao portugués por Silvia C.S.P. Martinson

    É agora o mês de dezembro de 2022. Está chovendo profusamente por toda a Espanha e não ouvimos absolutamente nada na televisão, rádio e imprensa escrita sobre os terríveis incêndios que estão devorando nossas montanhas. É hora de fazer alguns comentários sobre esta questão.
Na Galícia, na província de Lugo, Folgoso do Courel e Pobra do Brollón. Na província de Orense, Carballada de Valdeorras e O Barco de Valdeorras, Candeda, Riodolas. 30.000 hectares de floresta destruídos.

Em Castilla León, provincia de Zamora, Losacio, San Martín de Tábara, Sierra de la Culebra. 52.000 hectares destruídos, e a morte de um brigadista de 62 anos. Província de Salamanca, Candelario, Las Batuecas, Monsagro, Peña de Francia. 9.000 hectares destruídos. Em Segóvia, Navafria. Em Ávila, Cebreros, Herradon de Pinares e Navalperal de Pinares, 4.000 hectares e 2.100 habitantes expulsos. Província de León, Luyego, Teleno. Província de Valladolid, Província de Burgos. Na Extremadura, Monfragüe, 6.000 hectares, Valle del Jerte e Las Hurdes, na província de Cáceres, na Catalunha, província de Barcelona, Pont de Vilomara-Bages, no Parque Natural de Sant LLorenc del Munt i l'Obac. Em Aragão, província de Zaragoza, Ateca, 14.000 hectares.

Em Madri, Guadarrama. Em Castilla La Mancha, provincia de Guadalajara, Valdepeñas de la Sierra. Na província de Albacete, Riopar. Finalmente, na Andaluzia, Serra de Mijas, em Málaga.

O número total de hectares de florestas queimadas neste verão ultrapassa 200.000. Sem contar a morte de várias pessoas, casas queimadas, estábulos, gado, animais selvagens, como linces, lobos, ninhos de águias, vinhedos, olivais, etc.

Culpar a mudança climática é muito fácil, senhores. Os Bombeiros do Ministério de Transição Ecológica, Associações de Bombeiros Florestais, Aviões, Helicópteros, Caminhões Tanque-Bomba e centenas de heróis anônimos que arriscam suas vidas para tentar apagar incêndios o mais rápido possível, não são suficientes, quando na floresta seca há combustível suficiente para queimar como árvores, arbustos silvestres, etc.

Os Engenheiros Florestais só procuram regular a atividade, para justificar seu trabalho, a partir de seus confortáveis escritórios oficiais, ignorando os habitantes das áreas rurais, que por gerações cuidaram e mantiveram os campos limpos, para seu sustento e onde criavam seu gado que comia grama e arbustos e plantavam ali seus pomares, olivais, vinhedos, etc. Eles realizavam a poda correspondente e os restos desta poda eram utilizados como combustível em suas casas, em suas cozinhas, em suas panelas de aquecimento, que eles acendiam com pinhas, vassouras e galhos. Outra parte era usada para fazer carvões de azinheira e de cisco. E o resto era queimado durante a estação chuvosa, em lugares onde não podiam iniciar incêndios. Eles limpavam os acessos e vielas de selvas e mato, e as montanhas se mantinham limpas deste combustível, que agora é proibido de ser removido a menos que um inspetor esteja presente, a pedido dos moradores locais. Imaginem pastores de ovelhas, cabras ou vacas, que conhecem o campo como ninguém, que, todavia acham as questões burocráticas um grande esforço, considerando que muitos deles não tiveram a oportunidade de passar tempo suficiente na escola. Tudo isso foi parte de um modo de vida que foi gradualmente abandonado à medida que o homem do campo se tornou um citadino, e a cada dia restam menos e menos habitantes nas áreas rurais.

Cavalheiros que se dizem ecologistas ensinam àqueles que cresceram na terra, cuidando dela e vivendo dela. Ecologistas dos vasos do terraço da mãe, que não permitem a exploração da floresta, que existe há centenas de anos.

Sob o pretexto de cuidar da vida selvagem, lobos e javalis estão tomando conta das montanhas, destruindo o sustento de nossos ancestrais e transformando a floresta em uma selva impenetrável, onde desde que um raio a atinja, um fósforo, um cigarro aceso, produzirá um desastre de proporções inimagináveis. A realidade é que existe abandono rural, o manejo florestal é praticamente inexistente, os corta-fogos estão em estado de semidestruição, cheios de matos que permitem o caminho do fogo de um lado ao outro.

Minha humilde opinião é que os incêndios se extinguem no inverno, através do trabalho preventivo de limpeza de matos e arbustos, o que significa que quando chega o verão, se um raio atingir e causar um incêndio, ele nunca poderá adquirir as dimensões que está adquirindo agora com as montanhas cheias de matos, combustíveis que impossibilitam a passagem dos bombeiros.

Como é possível que tenhamos milhões de desempregados na Espanha e que não sejam contratados trabalhadores diaristas desempregados para limpar as florestas, limpar os corta fogos e construir novos?

Lembro-me de ser um menino de 11 anos, em 1961, talvez 1962, no belo vilarejo de Las Rozas del Puerto Real, na província de Madri, no sopé da Serra de Gredos, de onde vinha a família de minha mãe (meus avós Pedro e Saturnina), e onde eu e meus irmãos passávamos o verão, aos cuidados de minha querida mãe, costumávamos passar o verão, estávamos um sábado à noite em Verbena de Alberto, assistindo ao cinema, projetado por um homem itinerante sobre um lençol branco em uma parede reta, quando a Guarda Civil apareceu e deu o alarme de incêndio nas proximidades do vilarejo. Todos os homens que estavam lá, com mais de 16 anos de idade, entraram no trailer do trator do filho de tia Fernanda, Pepe, e foram para onde o fogo estava queimando no mato, e com vassouras verdes, machados, vassouras, enxadas e baldes de água, todos eles trabalharam juntos até que o fogo fosse extinto.

Não havia unidades de combate a incêndios, helicópteros, aviões ou caminhões pipa, mas o que havia era uma vontade firme de conservar a floresta e seu bosque.

Alguns anos depois pude observar também durante um inverno, na mesma aldeia de Las Rozas del Puerto Real, que vários grupos de trabalhadores diurnos da aldeia, contratados pelo ICONA, o Instituto para a Conservação da Natureza, que é equivalente ao que hoje é chamado de Meio Ambiente, limparam as encostas, caminhos, as ladeiras das estradas, etc., e lembro que durante os anos em que este trabalho foi feito, não houve um único incêndio na aldeia.

Depois de tudo isso, eles deixaram de contratar equipes e o matagal começou a tomar conta de toda a floresta. Perguntei a um grande amigo meu, um pequeno criador de gado, por que ele não limpou e queimou os arbustos, e ele respondeu que o Meio Ambiente havia proibido isso. Eles não podiam cortar arbustos a menos que tivessem solicitado previamente uma licença e, uma vez concedida, tinham que organizar um dia e uma hora para que um Agente Ambiental estivesse presente, para evitar supostos abusos quando se tratasse de queimar arbustos.

Parece que este agente conhecia a terra do meu amigo melhor do que ele, que tinha crescido e se preocupado com ela a vida toda.

Eles aborrecem as pessoas que vivem por e para a floresta com regras, que fazem pouco sentido. Os que sabem são os ecologistas de vasos no terraço, que transmitem seus falsos conhecimentos à pessoas que nasceram ali e aprenderam o respeito pela flora e fauna de seus pais e avós.rbustos, que permitem a passagem do fogo de um incêndio para o outro.

Ainda ontem eu estava ouvindo dois modestos agricultores e criadores de gado da Extremadura em uma sala de bate-papo, explicando o que está acontecendo com eles.

Um deles estava mostrando, enquanto pastava suas cabras e vacas, os restos de uma poda de oliveira, empilhados em um prado verde, depois que suas cabras tinham comido todas as folhas e partes tenras. De acordo com uma lei criada e publicada por aqueles que ele desdenhosamente chamou de "corbatines", ele assinalava a Guarda Civil e Florestal, a obrigação de denunciar e multar aqueles que queimaram tais restos, como tem sido feito por centenas de anos.

Ele recomendou que os agentes florestais olhassem para o outro lado e deixassem de lado os pequenos agricultores que continuam a resistir no campo, com seus animais e suas pequenas colheitas, porque se não, chegará o dia em que desistirão de produzir batatas, frutas, azeitonas, cabras, bezerros, etc., e então nas cidades comeremos cascalho.

Enquanto isso outro criador e agricultor, mostrou um olival que tinha mantido limpo e cultivado, entre outros olivais já abandonados e superprotegidos com ervas daninhas que neste verão tinham queimado completamente e só restaram os troncos nus. Este último não estava mais disposto a continuar lutando e falou em fazer lenha dos troncos para a fogueira em sua casa.

Sem destacar nenhum partido político, aqueles que governam de seus luxuosos escritórios deveriam aprender a falar com o povo, pois são os membros do povo que conhecem seu modo de vida, com a sabedoria transmitida de geração em geração e, finalmente, com suas contribuições, taxas e impostos, contribuem em grande parte para o pagamento de seus salários como funcionários públicos.

Síguenos