Autor/aPedro Rivera Jaro

O mercadinho do povoado de San Fermín

O

Pedro Rivera Jaro

Traduzido para o português por Silvia Cristina Preissler
 
No ano de 1955, quando eu tinha 5 anos, como eu era o filho mais velho dos meus pais, minha mãe me encarregava de fazer pequenas compras de alimentos nas lojas próximas de casa, como o armazém do senhor Herrero, o açougue da Praça, a quitanda e frutaria da senhora Matilde, e a loja de miudezas da Nieves, entre outras.
 
Ela escrevia o que precisava em um pedaço de papel, e eu entregava nas lojas, onde me davam o que estava anotado. Assim foi como, desde muito pequeno, aprendi a fazer compras distinguindo a qualidade dos produtos.
 
A partir de 1961, já com 11 anos, lembro-me que pegava minha bicicleta e o cesto de compras e ia até o mercadinho de frutas e verduras, que haviam construído com paredes e telhados de madeira. Ele era formado por duas fileiras longas de barracas, uma em frente à outra, além de uma fileira mais curta na entrada principal, que fechava as fileiras mais longas. Lembro-me que, nessa fileira da entrada, ficava a loja do senhor Paco Osuna.

Minha mãe me dava 25 pesetas e dizia:
- “Filho, não tenho mais dinheiro.”
- “E o que você precisa, mamãe?”, eu perguntava.
- “Precisamos de frutas, feijão verde, batatas. O que você achar que dá.”
 
Na frutaria da senhora Matilde, que ficava ao lado de casa, um quilo de bananas custava 13 pesetas. Em comparação, no mercadinho, tudo saía bem mais barato, sem perder a qualidade. No cesto que eu prendia no suporte traseiro da bicicleta, cabia bastante peso de frutas. Eu atravessava a Colônia de San Fermín em minha bicicleta até o Povoado de mesmo nome. Chegando no Mercadinho, dava uma volta completa em seu interior, observando as mercadorias e os preços dos diversos produtos.
Na segunda volta, ia comprando nos pontos de venda o que tinha selecionado na primeira. Por exemplo:
2 quilos e meio de laranjas por 5 pesetas;
2 quilos e meio de maçãs por 5 pesetas;
2 quilos de batatas por 4 pesetas;
1 quilo de feijão verde sem fios por 3 pesetas;
1 quilo de bananas das Canárias por 8 pesetas.
Totalizavam exatamente as 25 pesetas que minha mãe havia me dado. Algumas vezes, se sobrava uma peseta, minha mãe me deixava ficar com ela.
 
Em 1964, já com 14 anos, eu sentia vergonha se as meninas da minha idade me vissem com o cesto de compras. Naquela época, era malvisto que homens fizessem compras, pois isso era considerado tarefa das mulheres. Hoje em dia, isso já não é assim, mas naquela época era. Por isso, eu pedia para minha mãe mandar minha irmã Maribel, que já tinha 12 anos. Mas minha mãe se recusava, dizendo que os vendedores enganavam minha irmã, enquanto comigo isso não acontecia, pois eu sabia muito bem o que estava comprando.
 
Sempre acreditei que ela exagerava.

Antes se chamava "a gota fria"

A

Pedro Rivera Jaro

Traduzido para o português por Silvia Cristina Preissler Martinson

Já faz vários anos que escrevi algo sobre os incêndios florestais e a influência dos impedimentos ecologistas na limpeza dos montes, sua proibição de cortar espinheiros e ervas daninhas, para facilitar a reprodução de animais selvagens, como a raposa, o lobo ou o javali. O texto se chamava "Espanha em chamas".

Se algum pecuarista ou agricultor precisa podar os espinheiros, antes deve pedir uma autorização, que é concedida com a condição de que, ao realizar a poda, esteja presente um guarda dos organismos criados para a Conservação da Natureza. Como se a Natureza fosse algo inventado pelos ecologistas mais radicais, e as pessoas que durante gerações conservaram nossos montes e campos, não soubessem cuidar deles nem viver deles.

Agora, como consequência da tremenda catástrofe ocorrida há algumas semanas no Levante espanhol, com a chegada da terrível DANA (antes chamada de "Gota Fria"), que resultou na morte de centenas de pessoas inocentes, ocorre-me pensar que isso não é mais do que mais um capítulo do ecologismo radical.

Durante milhares de anos, o ser humano tentou domesticar o mundo que habitamos, na medida do possível. Construiu estradas, cultivou os campos, fez represas e açudes para conter as águas selvagens, entre outras coisas.

Mas agora parece que a humanidade estava errada, que todas as águas devem fluir selvagens pelos seus leitos, para que os peixes não encontrem barreiras no seu livre fluxo. Para isso, nos últimos anos foram demolidas centenas de obras que haviam sido construídas para domar a força bruta das águas e aproveitá-las para irrigação e geração de energia limpa.

Da mesma forma, a limpeza dos leitos fluviais foi abandonada, permitindo o crescimento descontrolado de canaviais e vegetação silvestre, que, quando chega uma enxurrada, como a última, arrasta tudo para as populações, causando as conhecidas destruições e tragédias.

Eu nasci e vivo em Madri, onde passa o rio Manzanares, o "aprendiz de rio", como o batizaram poetas e escritores, mas que, quando fica temperamental, como consequência de chuvas intensas em todas as terras altas ao longo de seu percurso, arrasta enormes volumes de água ao passar por minha cidade.

Para prevenir essas ocasiões, quando eu era criança, lá pelos anos 50, foi realizada a Canalização do Manzanares, com a construção de várias represas reguláveis, que são enchidas e esvaziadas à vontade dos responsáveis municipais pelo controle do rio.

Acontece que, há alguns anos, uma prefeita de Madri decidiu abrir as represas e permitir o crescimento da vegetação no leito. Hoje isso pode nos parecer muito bonito, porque a fauna e a vegetação fluviais são encantadoras, mas pode um dia acontecer o mesmo que ocorreu na região valenciana, e talvez tenhamos que lamentar tragédias semelhantes às de lá.
Se essas tragédias chegarem a acontecer, a quem culparíamos?

Os políticos de diferentes partidos jogariam a culpa uns nos outros, mas, no final, as vítimas, como sempre, são o povo. E como diz o antigo ditado: "Entre todos a mataram, e ela sozinha morreu".

 

Cinco dias em Florença

C

Pedro Rivera Jaro

Traduzido ao português por Sílvia C.S.P. Martinson
Maravilhosa cidade de Florença. Chama-me a atenção que seu aeroporto seja pequeno, mas, claro, venho do Aeroporto Adolfo Suárez de Madrid-Barajas, mais especificamente de sua Terminal 4, cujas enormes dimensões me lembram o Aeroporto de Atlanta, nos Estados Unidos. No entanto, é um aeroporto bastante movimentado, dado o grande número de turistas que visitam esta pequena cidade. Estima-se que cerca de um milhão e meio de visitantes por ano chegam para se maravilhar com as inúmeras obras de arte que enchem suas ruas, praças e museus.

Também me chama a atenção que os próprios guias turísticos, que nos explicam as obras de arte de Firenze, como a chamam os italianos, comentem que os florentinos são bastante orgulhosos no trato com os estrangeiros. Percebi que isso é verdade. Eles têm motivos para tal orgulho, mas considerando que uma parte importante de sua renda vem do turismo, talvez devessem corrigir um pouco essa postura e ser mais amáveis. Contudo, devo ressaltar que há exceções.

Minha narrativa teria que ser necessariamente muito longa para explicar as maravilhas que Florença guarda, mas esse não é meu objetivo. Pretendo apenas despertar seu interesse em conhecê-la, e para isso, basta, quase com certeza, traçar algumas pinceladas de seus principais monumentos e algumas das lendas que circulam entre seus habitantes.

Graças ao mecenato de várias gerações da família Médici e à disposição de sua última representante, Anna Maria Luisa, que garantiu que o patrimônio artístico dos Médici fosse preservado em Florença e não pudesse ser retirado da cidade, podemos hoje visitar e admirar as obras de Donatello, Tacca, Botticelli, Michelangelo, Leonardo da Vinci, Brunelleschi, Alberti, Ghiberti, Giorgio Vasari, Masaccio e muitos outros.

A família Lorena herdou o patrimônio dos Médici, mas antes teve que assinar um acordo garantindo a permanência de todas as obras de arte em Florença. Quando tomaram posse da herança, tornaram-se benfeitores desse patrimônio artístico, transformando a Galeria Uffizi, que era apenas um depósito de obras de arte, em um verdadeiro museu, como o conhecemos hoje.

Falando sobre os Médici, há uma lenda acerca das cinco bolas que fazem parte de seu brasão heráldico. Segundo nossa guia turística, elas representam cinco cabeças de papoula.

Parece que os Médici estavam envolvidos no comércio de seda chinesa. Uma vez por ano, chegava ao porto um navio carregado de seda, e havia um leilão entre os dois principais comerciantes de Florença. Conta a lenda que, na véspera do leilão, os Médici convidaram os membros da família concorrente para um jantar em sua casa e, durante a refeição, misturaram ópio extraído das papoulas, também trazidas da Ásia, às bebidas servidas. Como resultado, os concorrentes caíram em um sono profundo e perderam o leilão, permitindo que apenas os Médici participassem e obtivessem enormes lucros que impulsionaram sua riqueza.

Diz-se que, a partir desse episódio, ganhou força entre os comerciantes a sentença "NESSUN DORMA" (Ninguém durma), indicando que nos negócios ninguém deve relaxar, pois isso pode trazer prejuízos.

Mais tarde, os Médici entraram no setor bancário e, graças à amizade com o Papa em Roma, administraram as finanças do Vaticano por muitos anos. Porém, ao conquistar Siena, que era uma possessão papal, o Papa transferiu as finanças para um banco rival dos Médici.

Não posso deixar de mencionar que houve quatro papas da família Médici e duas rainhas, o que demonstra seu grande poder.

A moeda de Florença, o Florim de Ouro, foi a moeda universal de sua época, equivalente ao dólar ou ao euro em nossos dias.

Muitas pessoas já ouviram falar de Michelangelo Buonarroti, o criador da escultura de Davi, uma obra de arte maravilhosa cujo original podemos admirar na Galeria da Academia. Mas o que muita gente desconhece é que Pietro Torrigiano, a quem Michelangelo insultava por assinar obras consideradas muito ruins, quebrou o nariz dele com um soco poderoso.

Esse incidente levou ao exílio de Torrigiano, que foi morar em Sevilha. Lá, ele deixou obras de sua autoria que hoje podem ser vistas no Museu de Belas Artes da cidade.
Uma cópia do Davi pode ser admirada na extraordinária Piazza della Signoria, em frente ao Palazzo Vecchio.

Chamou-me poderosamente a atenção a afirmação feita pelo nosso guia de que Michelangelo escolhia o bloco de mármore "adivinhando" a escultura que havia dentro dele. Penso que, tratando-se de um modelo com tamanha beleza e perfeição física, o artista deve ter retratado na obra um homem por quem estava apaixonado, sobretudo considerando que ele era homossexual. Foi um prazer ouvir nossa guia explicar as particularidades do Davi, como, por exemplo, a tensão mantida em seu corpo, preparado para disparar a funda semioculta em suas mãos, cujas correias cruzam suas costas para que Golias não as perceba. Essa mesma tensão é visível em seu semblante concentrado, indicando a espera tensa que antecede o ataque do caçador à sua presa.

Na mesma Piazza della Signoria, além do Palazzo Vecchio, podemos observar a Loggia dei Lanzi ou della Signoria, próxima à Galeria Uffizi. O nome "Lanzi" deriva das lanças portadas pelos guardas suíços que protegiam o local. Quero destacar duas esculturas que podemos admirar ali: "Perseu com a cabeça da Medusa" e "O Rapto das Sabinas", também conhecida como "O Rapto da Sabina".

Outro ponto curioso está próximo à Torre do Campanário de Giotto, perto da Catedral e do Batistério de São João, com as Portas do Paraíso de Ghiberti. Trata-se de um edifício com um pórtico em sua extremidade, conhecido como Bigallo. Ali eram deixadas as crianças abandonadas, para que alguém as recolhesse e adotasse. Mais tarde, foi criado um orfanato no edifício vizinho, também chamado Bigallo.

Não vejo como evitar que esta narrativa se alongue, pois as maravilhas de Florença são tantas que é difícil ser breve.

Outro ponto interessante é a Fonte do Porcellino, localizada junto à Loggia del Mercato Nuovo. Nela, há uma estátua de um javali adulto, popularmente chamado de "Porcellino" (leitão). Desde pelo menos 1640, os aguadeiros enchiam seus cântaros nessa fonte. A tradição diz que, ao deslizar uma moeda pelo focinho do javali e se ela cair na grade, você retornará a Florença. A estátua original, de um javali de mármore, é grega e está na Galeria Uffizi. A cópia de bronze, presenteada pelo Papa Pio IV aos Médici, foi transformada em fonte por Fernando II de Médici. Algo curioso é que, ao beber da água, parece que você está beijando o javali. O focinho e a orelha estão polidos pelo toque de tantas mãos ao longo do tempo.

Não seria justo encerrar sem dedicar um parágrafo à Galeria Uffizi, uma das joias da coroa de Florença. Nela, podemos encontrar um verdadeiro "royal flush" da arte, começando com o Nascimento de Vênus, de Botticelli; o Tondo Doni, de Michelangelo, que é a única pintura de cavalete feita por ele; a Anunciação, de Leonardo da Vinci, com sua perspectiva inovadora; a Vênus de Urbino, de Ticiano; e a Virgem do Pintarroxo, de Rafael. Além disso, destacam-se a Sala de Nácar, o Baco, de Caravaggio, e centenas de outras obras.

Recomendo também visitar o Museu da Opera del Duomo, que inclui a Pietá Bandini, de Michelangelo, a Maria Madalena, de Donatello, e a Porta do Paraíso, de Ghiberti, além da Piazza della Repubblica, o Arco do Triunfo e o Carrossel.

Outros imperdíveis são o Cinema Odeon, no Palazzo Strozzino, a Igreja de Orsanmichele, a Igreja de Santa Croce, onde estão os túmulos de Michelangelo, Galileo, Maquiavel e Dante Alighieri, o Museu Galileo, a Ponte Vecchio e o Palácio Pitti, no bairro de Oltrarno, com os Jardins de Boboli.

No bairro de Oltrarno, ao lado do Palácio Pitti, encontramos os Jardins de Boboli, onde há uma fonte peculiar com duas pequenas cabeças meio submersas em água fresca e quase gelada que brota de um pequeno tubo. Foi impossível resistir à tentação de beber dessa água até saciar minha sede. Também visitamos a Grotta Grande, onde estão as estátuas de Helena e Páris, representando o castigo infernal para os adúlteros, um tema carregado de simbolismo.

Ainda recomendaria visitar o Museu de Leonardo da Vinci, com suas invenções, a Igreja de Santa Maria Novella, que abriga o Crucifixo de Brunelleschi, e a histórica Farmácia de Santa Maria Novella. Outros locais imperdíveis são o Palácio Medici-Riccardi, repleto de história, e a mítica Ponte Vecchio, a ponte mais antiga da Europa e a única que sobreviveu à destruição pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial.

A Ponte Vecchio tem uma história fascinante. Originalmente ocupada pelos açougueiros, que despejavam restos no Rio Arno, foi transformada pelos Médici em um espaço para joalheiros. O Corredor Vasariano, um passadiço elevado que conecta o Palácio Pitti ao Palácio Vecchio, foi construído para permitir que a família Médici se deslocasse sem contato direto com as ruas, garantindo sua segurança.

Além disso, ao explorar o bairro de Oltrarno, você encontrará não apenas o Palácio Pitti e os Jardins de Boboli, mas também muitos tesouros menos conhecidos, como pequenas igrejas e praças com uma atmosfera única que parece transportar você no tempo.

E como poderia deixar de mencionar a experiência no Museu Galileo, localizado no Palácio Castellani, onde estão expostos instrumentos científicos e achados que destacam a rica história da ciência em Florença? Ou ainda, a impressionante Igreja de Santa Croce, onde descansam figuras históricas de renome, como Michelangelo e Galileo, sob lápides artisticamente decoradas?

Finalmente, Florença oferece uma combinação única de arte, história e cultura. Recomendo enfaticamente uma visita a essa cidade, que verdadeiramente merece toda a sua fama.

Mas não posso encerrar este relato sem sugerir uma excursão à cidade vizinha de Pisa. O esplendor de sua famosa Torre Inclinada, junto à Praça dos Milagres, é algo que ficará gravado na memória de qualquer visitante para sempre.

Arrivederci, Florença, esta cidade luminosa que cativou minha alma e onde cada esquina guarda uma nova maravilha a ser descoberta.

 

Politica arriscada

P

Pedro Rivera Jaro

Traduzido ao português por Sílvia C.S.P. Martinson

Que política nojenta que destrói amizades,
quando enfrentam a vida por objetivos diferentes.
Que desgraça de partidos que .desfazem irmandades,
pela maneira oposta de pensarem.
Que pena que partidos cortem relações,
enquanto se escondem em coloridas reuniões.
Simulam o que não são realmente
para com o apoio de todos,
ao domínio chegarem
permitindo-lhes enriquecerem rapidamente.
A acha tenta apenas parecer tronco,
para de toda árvore o voto conseguir
Azinheiros, álamos, castanheiros e freixos
com orgulho proclamam que são deles,
e seu voto, esperançosos, presenteiam
a quem chegar ao poder,
e estes sem escrúpulos
depois os vão cortar.
Assim ocorre na equipe oposta,
aquela que usa a navalha curva,
faz com as vinhas a mesma coisa,
traz no seu cabo escondido o aço da lâmina
que engana, fazendo-a parecer madeira.
E então neles as videiras votam,
sonhando que irão governar bem.
Porém quando a colheita chega,
a lâmina oculta fazem surgir
e afiando sem demora o seu aço,
os cachos de uvas, da anual colheita,
os cortam e rapidamente os levam,
guardados em repleta cesta,
vendendo-os aos grandes bodegueiros,
escondendo logo em suas avaras bolsas,
os produtos obtidos pela venda.

 

Lição de vida

L

Pedro Rivera Jaro

Traduzido ao português por Sílvia C.S.P. Martinson

Eu tinha então 6 anos. Era um dia de sol e quente do mês de maio de 1956. Passavam alguns minutos das 12 do meio dia, quando voltei a casa do colégio e recordo que cheguei esfomeado.

Entrei na cozinha e olhei nas gavetas do armário onde minha mamãe costumava guardar os alimentos, como chouriço, salsichão, marmelo,etc. (então não tínhamos frigorífico) porém não encontrei nada mais que um pacote de papel Kraft com fatias de bacalhau seco e salgado com que minha mãe costumava fazer batas doces cozidas, o que eu não recordei previamente que se punha o bacalhau na água para dessalgar.

Comecei a tirar a pele de algumas fatias e come-las para acalmar o apetite. Após algum tempo comecei a sentir uma sede tremenda e imperiosa de beber. Não tínhamos água corrente do canal de Isabel II em casa e minha mãe tinha que ir buscá-la na fonte pública com cântaros de barro que colocava em uma Cantareira de madeira que tínhamos junto a pia da cozinha. Eu, todavia não tinha as forças necessárias para manejar os cântaros de barro sem risco de quebrá-los, como já me havia ocorrido há muito tempo e que me ocasionara uns tapas.

Somente me sobrava para beber uma garrafa de vidro branco transparente com vinho branco em seu interior, do qual meu pai bebia um copo nas refeições e o que se encontrava habitualmente na janela.

Nem rápido nem devagar subi pela pia até a janela e alcançando a garrafa tomei um bom trago de vinho branco e satisfiz momentaneamente minha sede.

Passado um tempo eu tinha todos os efeitos da embriaguez ainda que não soubesse.

Depois de experimentar tonturas e passar muito mal neste instante, tombei ao solo e fiquei adormecido.

Quando minha mamãe regressou para casa depois de fazer recados me encontrou no solo e levou um tremendo susto, até que eu fui acordando e contei o que havia comido e bebido. Esse dia não tive vontade de comer ao meio dia e até a tarde estive acamado, quando tudo deixou de dar voltas e sumiu o mal do corpo.

Naquele dia aprendi a ser precavido e a não aventurar-me a comer ou beber nada que não viesse diretamente das mãos de meus mais velhos.

A mentira institucionalizada

A

Pedro Rivera Jaro

Traduzido para o português por Sílvia C.S.P. Martinson
 
Li em um artigo no "20MINUTOS" que explica a participação no fórum "Informação e desinformação no Metafuturo" de um Ministro do atual Governo da Espanha, e de vários jornalistas renomados.
 
Eles criticam as mentiras que se espalham sob a forma de embustes nas redes sociais. Outro dos jornalistas coloca o problema mais em meias verdades, pois eles induzem a falsas crenças.
 
Joaquín Manso acredita que estamos vivendo um período em que a mentira se institucionalizou, ao contrário do que aconteceu em períodos anteriores, já que agora a mentira é usada como ferramenta e com ostentação.
 
Finalmente, Ignacio Escolar acredita que no futuro o uso de mentiras será corrigido, embora ele tenha compartilhado que mentiras agora são mais difíceis de detectar e combater, porque somos uma sociedade sem anticorpos para mentiras.
 
Depois de ouvir todas essas opiniões, eu me pergunto: Como nossa sociedade pode ficar longe das mentiras, se nossos principais líderes, sem querer detalhar nomes e sobrenomes (embora alguns muito conhecidos e importantes venham à mente), prometem em suas campanhas políticas uma série de coisas que farão, e outra série de coisas que nunca farão se alcançarem o poder, mas quando o alcançam, fazem o oposto do que prometeram?
 
Este é um exemplo desastroso de indignidade e falta de escrúpulos, que as pessoas comuns (você e eu) aprendemos a tomar como certo, assim como aconteceu nos anos de chumbo, quando chegamos a ver como normais os assassinatos terroristas perpetrados pelos assassinos da ETA, pelo simples fato de que eles os cometeram como uma questão natural.
 
Até que surgiu um gatilho que fez com que toda a Espanha saísse às ruas para protestar contra a ETA, e foi quando o assassinato de Miguel Angel Blanco provocou o cansaço de todos os espanhóis pela paz, ordem e justiça. Agora pergunto a todos os espanhóis comuns, aqueles de nós que nos dedicamos a levar uma vida digna e a ensinar a nossos filhos todos os princípios que nossos pais nos transmitiram, quando é que vamos tomar as ruas novamente para exigir o fim da descarada sem-vergonhice daqueles que não têm respeito pela verdade e só chegam ao poder para tirar proveito das pessoas trabalhadoras e honestas que compõem a maioria de nossos cidadãos?

O dereito de ser diferente

O

Pedro Rivera Jaro

Traduzido para o português por Sílvia C.S.P. Martinson
 
Ontem eu li um artigo de Álvaro J. San Juan, sobre um livro que ele escreveu intitulado "Grandes maricas de la historia", e ele revelou algo que eu não sabia. Ele se declara homossexual e também fala das grandes figuras da ciência, das artes, da literatura e da história, e explica a condição homossexual desses homens do passado, que eu desconhecia, exceto no caso de alguns deles, por exemplo, Alexandre o Grande. Eu não sabia que Michelangelo Buonarotti, Leonardo da Vinci, William Shakespeare, Isaac Newton, Hans Christian Andersen, Botticelli, Miguel de Cervantes, George Washington, Tchaikovsky, eram homossexuais.
 
Eles tinham que disfarçar sua homossexualidade, porque as sociedades onde viviam não toleravam diferentes, e porque para a intelectualidade cristã era "normal" ser heterossexual.
 
Ele diz que talvez hajam crianças ou jovens que um dia lerão seu livro e verão que não estão sozinhos. Se ele, quando era apenas uma criança, soubesse de que todos esses grandes homens eram como ele era, e ainda é, isto é, homossexuais, ele se sentiria acompanhado, muito melhor do que como  se sentia.
 
Vou falar-lhes de uma experiência que tive quando tinha trinta anos. Foi por volta de 79, talvez 80, em um bairro de Salamanca chamado Tejares. Tínhamos acabado de pesar um caminhão Pegaso de quatro eixos na ponte-báscula pública, que tínhamos carregado com mercadorias destinadas a uma fábrica na periferia de Madri. Eram cerca de onze horas da noite e entramos para tomar algumas cervejas no Bar Esteban, antes de voltarmos para casa para jantar. Quando entramos, notei que três rapazes de cerca de 20 anos estavam assediando e insultando outro rapaz mais ou menos da mesma idade. Interessei-me pelo assunto e perguntei-lhes o que estava acontecendo. Os assediadores me disseram que estavam se metendo com ele porque ele era um maricas e o chamavam de Marijose, embora seu nome fosse José. 
 
Eu então intervim e lhes disse que eles não tinham direito, porque isso não era motivo para maltratar o jovem. Então um desses três assediadores gritou comigo que eu provavelmente era outro bicha também, e por isso eu o estava defendendo.
 
O que aconteceu depois não posso dizer aqui, só posso dizer que Esteban, que era o dono do bar, interveio e me implorou para parar a luta.
 
Eu o fiz e ele, por sua vez, jogou os três assediadores para fora do bar. O cara gay me agradeceu com muito sentimento, e me deu um abraço de agradecimento antes de sair para casa.
 
Aqueles eram os dias em que as mudanças relacionadas às liberdades começaram a ser notadas em todas as áreas da Espanha e, felizmente, hoje estão enraizadas em nossa sociedade, mas o mundo é muito grande e tem muitas partes onde aqueles que são diferentes ainda estão subjugados.
 
Há uma grande revolução em andamento no Irã em prol das liberdades das mulheres.  No Qatar, onde foi a Copa do Mundo, os homossexuais ainda estão sendo executados por serem considerados mentalmente doentes.
 
Que passa a nós  seres humanos que não somos capazes de respeitar ao outro só porque é diferente de nós? 
 
Todos têm o direito de ser diferentes, isso sim, respeitando por sua vez aos demais.
Viver e dexar viver é um lema que tenho praticado durante toda minha vida e que faz parte de meus princípios básicos.

Decida seu futuro

D

Pedro Rivera Jaro

Traduzido ao português por Silvia C.S.P. Martinson

Qualquer pessoa sabe que não tem nenhuma chance de recuperar sua juventude. Muitos de nós sabemos que às vezes, quando somos jovens, intoxicamos nossas cabeças com ilusões e que estas ilusões, na maioria das vezes, nunca são realizadas.

Os pais de cada pessoa, com suas melhores intenções, orientam você a se preparar para o que eles pensam que lhe trará o melhor futuro possível, e mesmo que você tenha outras preferências, eles tentam fazer com que você os esqueça para que você se concentre no que eles pensam que será melhor para você. Quando eu era criança eu adorava jogar futebol, mas meu pai sempre me dizia para parar de jogar e estudar, esse seria o caminho para que eu me tornasse um homem útil no futuro.

Eu também queria estudar música quando tinha 9 anos de idade. Quando fiz o exame de admissão ao bacharelado em junho de 1959 e passei, meu pai me deu um violão com sua caixa, como prêmio. Naquele verão, nas montanhas, na aldeia de meus avós maternos, Las Rozas de Puerto Real, onde meu pai tinha construído uma pequena casa, o padre da aldeia, D. Antonio, que era uma excelente pessoa, me ensinou a tocá-lo usando o método dos números marcados nas linhas do pentagrama. Naquele verão aprendi a tocar canções como "Yo te daré", "Yo vendo unos ojos negros", "Clavelitos", e outras que eu estava muito feliz em praticar, porque eu tinha um grande amor pela música.

Quando retornamos a Madri no final do verão e retomei meus estudos no primeiro ano do ensino médio, meu professor, que era o diretor da escola, ao saber que eu estava aprendendo a tocar violão, disse a meu pai que: ou eu estudaria ou tocaria violão. Ele nem mesmo sabia distinguir entre guitarra e um violão, que grande professor que não sabia como ver que a música poderia ser uma atividade complementar às disciplinas do bacharelado.

Meu pai, que segurava o diretor Dom Francisco em um altar como se fosse um santo, levou a caixa do violão com ele dentro, e a colocou em cima do guarda-roupa em seu quarto e me disse: "Até o final do curso, não volte a tocá-lo". E eu, retendo minhas lágrimas, não ousava responder a meu pai, mas em meu eu interior e cheio de tristeza pensei: "Nunca mais vou tocá-lo". E assim foi.

Agora eu escrevo muitos poemas. Se eu tivesse me dedicado à música, provavelmente teria sido um compositor, mas isso é algo que hoje, aos 72 anos de idade, não sei se teria acontecido, pois não me foi permitido seguir esse caminho.

E o mesmo aconteceu com outras tentativas posteriores, como minha intenção de estudar medicina veterinária, que minha mãe não gostou, e me desencorajou de meu desejo porque achava que não era uma profissão muito brilhante para seu filho.

De qualquer forma, o que eu quero lhe dizer é que você não deve permitir que ninguém o desvie de seus passatempos para focalizar suas vidas. É muito importante, muito importante, dedicar-se ao que pode fazer você feliz. A vida pode nos parecer longa, mas na realidade, ela se torna muito curta e leve se a gastamos fazendo o que achamos mais satisfatório.

Ladrões no telhado

L

Pedro Rivera Jaro

 
Traduzido ao português por Sílvia C.S.P. Martinson
 
Era verão. Não me lembro exatamente do ano, mas deveria ter sido por volta de 1968. Deve ter sido por volta das 10 horas da noite. Tínhamos jantado e meus irmãozinhos Félix e Javi saíram para brincar em nosso belo pátio, enquanto meus pais, minha irmã Maribel e eu, assistíamos na cozinha de nossa casa, no televisor Werner, o programa que estava sendo transmitido pela única televisão que tínhamos na Espanha naquela época. Televisão Espanhola.
 
A cozinha era o ponto de encontro habitual em nossa casa. Sempre me lembro assim, havia o fogão a gás butano onde minha mãe cozinhava os alimentos que comíamos todos os dias, havia a pia, o armário da cozinha com muitos pratos, copos e outros objetos do dia-a-dia. Este armário tinha diferentes seções, assim como duas gavetas contendo facas, garfos, colheres, etc., e as outras continham guardanapos e toalhas de mesa para colocar sobre a mesa. A mesa era grande, para que os seis membros da família pudessem se sentar para comer juntos, e também tinha duas gavetas nas quais se mantinha a toalha de óleo impermeável que minha mãe tinha o hábito de espalhar sobre a mesa e debaixo da toalha de mesa. Havia uma grande janela, com duas faixas, que no dia do verão estavam abertas para deixar entrar o frescor do pátio.
 
Havia também um fogão a carvão na cozinha, que no inverno era todo o aquecimento que tínhamos em nossa casa e onde aquecíamos nosso pijama e os cobertores de lã em que nos envolvíamos para combater o frio dos lençóis. A casa era espaçosa, no andar térreo e tinha, além da cozinha, o quarto dos meus pais, que era o maior, o quarto da minha irmã, a sala de estar e outro quarto com duas camas, onde dormíamos os três meninos. Depois conseguimos ter um banheiro, que foi o último acréscimo a casa, depois de trazer o suprimento de água potável para a casa, que até então íamos até a fonte pública e a trazíamos em jarros, baldes, bacias, etc. E a água para irrigar o jardim vinha de um poço bastante profundo que meu avô Pedro tinha feito. A casa inteira foi atravessada por um corredor desde a porta da rua até a porta do pátio.
 
De repente, houve uma batida barulhenta na porta da rua. Nós quatro saímos correndo e rapidamente abrimos a porta. Em voz alta Fernando, outro vizinho na rua, nos disse que tínhamos dois ladrões nos telhados e que quando atirávam pedaços de tijolos e cascalho sobre eles, que eram restos de um pequeno trabalho que tinham feito na rua, eles corriam através do telhado na direção da parte que levava ao nosso pátio e à nossa garagem. Corremos para o pátio, e lá vimos meus irmãos vindos da garagem e chegando à esquina do banheiro e do pátio.
 
Quando lhes perguntamos se tinham visto alguém descendo dos telhados, eles responderam que não tinham visto ninguém. Há ladrões nos telhados, dissemos a eles, ao mesmo tempo em que vimos no chão do pátio os projéteis que Fernando havia jogado neles, escombros e pedras. Javi permaneceu em silêncio, mas Félix, que era o mais velho dos dois, disse muito assustado: "Não há ladrão. Éramos apenas nós que queríamos pegar um ninho de pardais que as aves cresceram e estão prestes a voar para longe”. E ele olhou para meu pai que era muito sério, mas que, além da brincadeira, preferia isto, sem dúvida, a ter que enfrentar os supostos e, por outro lado, os ladrões inexistentes.
 
Meu pai os repreendeu muito e eles não foram pegos porque minha mãe sempre segurava meu pai para que ele não nos desse uma bofetada.
 
Eu estava pensando muito em como teria sido uma vergonha se Fernando tivesse atingido um dos projéteis de pedra que ele atirou neles. Depois ri alto, pensando na rapidez com que eles conseguiam descer do telhado através da grelha da janela do banheiro até o chão.
 
Anos mais tarde, todos crescidos, rimos muitas vezes falando sobre o que aconteceu, e nos divertimos muito com a diferença de caráter dos dois, um que se fez de "morto" e não confessou nada, e o outro com sua franqueza, se aproximando, confessando o que aconteceu, e demonstrando um caráter que ele ainda tem hoje, mais de cinquenta anos depois.

A caça com formigas

A

Pedro Rivera Jaro

Traduzido para o português por Silvia Cristina Preissler Martinson

Faz um calor tremendo. É pleno verão e o final de agosto. Caem as primeiras chuvas depois de muitas semanas sem cair nem uma gota de água.
E depois da chuva, quando o sol volta a aparecer, observamos que já estão saindo dos seus formigueiros as formigas aladas, que serão as próximas rainhas dos seus formigueiros e outros menores, também alados, que são os machos, chamados de alines, cujo único objetivo em suas vidas é fertilizar as rainhas. No pleno voo, fecundam as rainhas e depois caem ao chão para morrer, enquanto as fêmeas, quando descem ao solo, desprendem-se de suas asas, fazem um buraco no chão e começam a botar ovos, que depois serão as operárias do novo formigueiro.

Eu aprendi com Juan de Dios, um padeiro vizinho meu que era marido da prima Eulalia, a quem todos chamávamos de Olaya, a capturar as formigas antes que voassem, justamente quando se preparavam para realizar seu voo nupcial.

O sinal para cavar nas entradas dos formigueiros era a queda das primeiras chuvas.

Quando apareciam as formigas aladas, nós as colocávamos diretamente, ao capturá-las, nas piteiras, uma garrafa de vidro, para evitar que pudessem escalar e escapar voando.

Juan de Dios as usava como isca viva na pesca e nas bestas ou costelas, para capturar pássaros na temporada de pássaros de verão, que desciam das serras e voavam em direção ao sul, fugindo da queda das temperaturas.

Depois, eu desenhei meu próprio viveiro para manter vivas minhas formigas aladas pelo maior tempo possível, o que podia chegar a durar vários meses.

Colocava em uma caixa de madeira, camadas de areia com canas ocas, cortadas nos canaviais das hortas do Tio Torres, na margem do rio Manzanares. Depois, fazia bolas de papel de jornal e as intercalava com terra por cima.

Punha na parte de cima tampas metálicas de potes de conserva, com água que mantinha o grau de umidade. Em cima, colocava uma tampa de madeira e sobre a tampa de madeira uma lona que amarrava, para que as formigas não pudessem sair e escapar.

As pobres formigas aladas haviam passado de aspirar a serem rainhas nos seus formigueiros a serem iscas vivas para capturar pássaros.

As bestas, cepos ou costelas, que por esses três nomes eram conhecidas, consistiam em mecanismos com molas, cujo semicírculo superior abria sobre a parte inferior ou base, e se sustentava aberto com a ponta da haste presa no orifício onde se fixa a isca.

O orifício tem duas pequenas pontas de aço, opostas, que ao apertá-las, aumentam o círculo central onde introduzimos a parte traseira do corpo da formiga até o seu estreitamento e, uma vez dentro, soltamos as pontas e a formiga fica presa, mas sem apertar e com certa liberdade de movimento.

Quando a presa picava a formiga, a haste de fixação escapava e a parte superior, ou morte, golpeava com força, por efeito das molas, sobre a base. A diferença entre as bestas ou costelas e os cepos é que as primeiras têm uma tábua de madeira sobre a qual está presa a parte metálica, e os cepos não.

Era muito importante a escolha dos locais estratégicos onde colocar as armadilhas, como, por exemplo, as pequenas elevações, próximas a uma cerca de arame, onde os pássaros costumavam pousar.

Raspava-se o chão, arrancando as pequenas ervas que por acaso houvessem no lugar onde pretendíamos assentar a besta, formando uma pequena clareira que se destacava do seu entorno.

Depois se orientava, de modo que as asas da formiga brilhassem ao sol e, para evitar que o pássaro picasse a isca por trás, colocava-se nela um torrão ou tufos de erva que havíamos tirado antes, que tornasse mais fácil picar a isca pela frente e disparar o mecanismo, como explicava antes.

Eu também costumava amarrar um cordão na besta e prendê-lo a algum objeto pesado, ou a algum arbusto, para que, se acontecesse de que picasse algum animal de maior tamanho e força, não fugisse e escapasse arrastando a armadilha. E é que, em algumas ocasiões, acontecia de ser um lagarto ou uma lagartixa que mordia a formiga, já que tinham grande apetite por esse inseto e acabavam capturados pela besta.

Atualmente, tudo isso que eu conto pode parecer uma barbaridade. De fato, hoje em dia as bestas estão proibidas, e seu uso é punido com multas consideráveis, e o mesmo ocorre com a utilização de iscas vivas, mas há 60 anos, os passarinhos eram consumidos nos lares humildes e, inclusive, nos bares eram vendidos como aperitivos, uma vez temperados e fritos.

Espero e desejo que essa história da minha infância os distraia por um tempo e até gostem

Síguenos