Silvia C.S.P. Martinson
Não quero magoá-lo nem fazê-lo sofrer.Não merece, haja vista todo carinho que me tem e pelos sacrifícios que fez por mim.Já sei... Como todos e todas semelhantes a mim fazem eu também o farei quando chegar a hora.
Não quero magoá-lo nem fazê-lo sofrer.Não merece, haja vista todo carinho que me tem e pelos sacrifícios que fez por mim.Já sei... Como todos e todas semelhantes a mim fazem eu também o farei quando chegar a hora.
Assim que observando a tudo isto me propus a nunca, sendo aluna dele, tirar uma nota abaixo de 10 para lhe fazer ver que não era tão competente quanto queria aparentar. E assim sendo estudei e me preparei para suas provas.
Saiu de uma ninhada de galinhas de peito duplo. Eram elas criadas por nós num galinheiro muito bem feito por meu marido, em um terreno baldio ao lado de nossa casa.
Eram lindos espécimes de uma raça criada para abate e também para gerar ovos de qualidade. Tínhamos algumas e muito poedeiras. Não dávamos conta da quantidade de ovos produzidos, assim que vendíamos ou dávamos os excedentes.
Pois um dia, uma delas em contato com o galo, que chamávamos Vermelho e que fazia parte do lote, pôs ovos galados e fez, através de seu cuidado com que eclodissem. E assim se fez.
Os ovos eclodiram e surgiu uma linda ninhada de pintinhos.
Logo dentre eles se destacou por sua força e de certa forma agressividade um macho. Este aos poucos se foi transformando e se mostrou, com o tempo, em um lindo galo branco. Demos-lhe o nome de Chico.
Chico cresceu rapidamente devido à alimentação e aos cuidados que tínhamos, tais como: limpeza, higiene e medicamentos próprios a uma boa criação.
Chico ficou lindo! Suas penas eram totalmente brancas, a crista de um vermelho vivo e com enormes esporões nos pés. Seu único defeito: o gênio.
Era profundamente ciumento e zeloso do galinheiro e das galinhas que lá viviam.
E um dia em sua inveja e ciúmes matou Vermelho, seu pai, a esporaços.
Quando conseguimos chegar perto o Vermelho já estava morto. Nada mais restava.
Este galo era tão bravo que quase não podíamos recolher os ovos. Ele simplesmente atacava e era preciso entrar no galinheiro com botas e muita proteção para poder isolá-lo em um canto e proceder a limpeza e recolhimento dos ovos.
Há um animal silvestre que gosta muito de atacar as galinhas para chupar-lhes o sangue e comer seus ovos. Chama-se popularmente Gambá.
Gambá por quê? Porque adora bebida alcoólica e se queres capturá-lo a melhor forma é colocar um recipiente cheio de cachaça e deixar em um lugar ao qual ele possa facilmente acessar. Ele se embebeda e cai em sono profundo.
Pois bem, o tal de gambá farejou as galinhas e seus ovos e em sua ânsia tentou adentrar no galinheiro escalando a cerca de arame que a protegia. Não deu outra... Chico furioso voou de encontro à cerca e com seus esporões atingiu o gambá várias vezes até que este caiu morto ao chão.
O galinheiro teve que ser demolido, o terreno onde se encontrava foi vendido.
As galinhas bem como o galo Chico doamos a um vizinho que possuía um galinheiro grande e se propôs a cuidá-los.
Após alguns dias ficamos sabendo que o Chico havia matado o galo do vizinho e tomado para si todas as galinhas e ainda que as mantinha, ciumento, sob estreita vigilância.
Ele não se recolhia a noite antes que todas as galinhas estivessem cada qual em seu ninho.
E caso alguma se atrasasse ele a tocava bruscamente com as asas para que a mesma se aninhasse.
Era um galo louco.
O senhor Jaime, assim se chamava o vizinho, foi obrigado a matá-lo. Ninguém mais conseguia adentrar ao galinheiro para colher os ovos ou alimentar as galinhas.
O Chico das penas brancas depois de morto proporcionou a nós todos um saboroso almoço, tendo como entrada um caldo soberbo e após um arroz com pedaços de frango ao molho, saladas e tudo regado a um bom vinho, que saboreamos alegremente.
Chico teve sua glória e seu fim merecido.
Ao chegar perto de tio Martin caiu a seus pés com a caça e três picadas de cobras em seu focinho. A lebre ao ser morta havia caído sobre um ninho de jararacas e Pacha ao vê-las em princípio recuou, todavia, como era obediente e fiel a seu dono obedeceu a ordem de recolher o animal caçado. Pacha estava aos pés de Martin terrivelmente ferido e à morte.
O prédio era alto, uns quinze andares. Moderna arquitetura. Amplas sacadas.
Portas-janelas que nas sacadas davam visão plena da rua.
Era azul e se confundia com o céu resplandecente que costuma acontece nestes pagos do Mediterrâneo, em Campello um “pueblo” de Alicante- Espanha.
Frente a ele há um grande parque arborizado e provido de muitos bancos para sentar e apreciar a placidez do ambiente.
Ali me sentava quase todos os dias para ler, pensar e observar.
Em uma manhã em que me encontrava sentada, depois de minha caminhada diária, em um banco frente a este prédio a vi...
De longe me pareceu mais ou menos jovem, cabelos castanhos, curtos, que reluziam ao sol.
Devia habitar o décimo ou décimo primeiro andar. Realmente não havia como calcular corretamente.
O que me chamou a atenção do lugar em que me encontrava na praça era que: ela entrava rapidamente por uma porta desaparecendo a seguir para sair por outra em poucos minutos depois. Isto sucessivamente, sem parar, por quase uma hora.
Voltei a caminhar pela praça nos dias seguintes como sempre fazia.
Aí, então, a curiosidade já me aguçava sobremaneira e passei diariamente, ao levantar os olhos, a observar a mesma cena. Meses a fio.
Queria saber quem era e o que fazia aquela mulher.
Dirigi-me ao prédio em que morava e falei com o porteiro que pouco soube me informar dizendo que não a conhecia e que esta nunca descia à rua.
A ele lhe parecia que era casada, todavia não tinha certeza.
O tempo passou e a cena se repetiu até que um dia não mais a vi.
Parecia-me de longe tão bonita.
Retornei ao prédio novamente e ao novo porteiro perguntei por ela.
Este era mais falador.
Contou-me então que a bela mulher vivia confinada em seu apartamento.
Que quando o marido saia trancava a porta e levava a chave com ele.
Era demasiadamente ciumento.
Um dia ao retornar a casa mais cedo encontrou em seu interior o antigo porteiro entabulando com a mulher amigável conversa.
Possuído pela desconfiança e pelo ciúme exacerbado puxou de um revólver que carregava consigo e aos dois, sem nada perguntar, matou.
Soube-se, segundo me narrava este último, que o antigo porteiro arrombara a porta, ao ouvir os gritos da mulher, para apagar um fogo que se instalara na cozinha e que logrou sucesso na empreitada.
Segundo alguns vizinhos ainda hoje se ouvem os passos da mulher a circular de um quarto a outro, sem parar, e que da praça quem olha para aquele apartamento a vê sempre da mesma forma, caminhando. Agora ao lado do antigo porteiro.
Os dois todos os dias, por uma hora, pela manhã, faça sol ou chuva, entram por uma porta e saem pela outra, caminhando, sempre caminhando...
Incrivel! Hoje pela manhã me pareceu vê-los.
E assim dia a dia, semana a semana, meses e anos se passaram sem que ela se desse conta da história registrada na eternidade que paulatinamente escrevia.
Quando ali chegamos, meus pais tiveram uma enorme surpresa. A casa se localizava ao fundo de um terreno um pouco distante do mar e para maior insatisfação tratava-se de um quase galpão, ou seja, uma peça grande onde estavam todos os móveis de uma casa ali alinhados.