Pedro Rivera Jaro
Traduzido ao portugués por Silvia C.S.P. Martinson
Quando eu tinha aproximadamente 12 anos, mais ou menos, em 1962, tive uma conversa com minha tia Cruz, que era a irmã mais nova de meu avô Pedro, na maravilhosa vila de Las Rozas del Puerto Real.
Era um dia em que tínhamos selado seu burro com sua cabeçada, sua sela de peito duplo, uma de cada lado e sua circunferência, e tínhamos descido até seu pomar, no que chamamos de Arroyo del Valle, muito perto da fronteira de uma aldeia vizinha, Cadalso de los Vidrios. Ela tinha um belo pomarzinho com algumas figueiras que produziam frutas deliciosas, que ela chamou de Pescoço Dama.
Ela tinha plantas como: morangos, feijão, tomate, batata, algumas videiras e algumas outras árvores frutíferas, como ameixeiras, pessegueiros, cerejeiras ácidas e assim por diante. Ao entrar por uma pequena porta na parede de pedra encaixadas sem cimento entre elas, que rodeava todo o pomar, do lado esquerdo havia três figueiras grandes, a cerca de cinco metros de distância, na frente do lado direito havia um poço de água muito limpa e fresca, com vários metros de profundidade, com a qual regávamos o pomar, tirando a água com uma haste que balançava para cima e para baixo, havia um caldeirão de chapa galvanizada amarrado ao final da haste e na parte de trás desta era amarrado outro balde cheio de pedras que atuava como contrapeso quando o caldeirão cheio de água era levantado, que esvaziado onde começava a calha carregava a água para baixo, seguindo sua própria inclinação para os sulcos da horta.
Acho que foi em um dia no final de agosto quando estávamos colhendo figos.
As figueiras têm galhos flexíveis que permitem aproximá-los do solo para que os figos possam ser colhidos e encherem os cestos de vime aonde eram guardados. Ela fez para mim uma ferramenta a partir de um ramo de árvore que chamou de rabisco, que, nada mais era do que uma espécie de gancho cortado logo acima, onde o ramo mais grosso encontrava um de seus rebentos. Com este gancho enganchávamos os galhos da figueira e os puxávamos para baixo para alcançar os figos, que tinham que ser cortados sem arrancar o mamilo, que tinha que permanecer com o figo.
Minha tia e eu estávamos fazendo isso quando perguntei a ela por que a figueira deu um primeiro fruto maior, que era chamado de "breve" quando alguns meses depois os outros figos amadureciam, enquanto que as outras árvores frutíferas que eu conhecia produziam apenas um fruto.
Ela riu com a alegria de poder me ensinar coisas que eu não sabia e me contou uma história que sua avó materna lhe havia contado:
- Nos anos em que Jesus Cristo e seus Apóstolos estavam pregando a Doutrina Sagrada nas margens do Jordão e estando cansados e sedentos, em um dia muito quente, havia esgotado seu suprimento de água potável, restando apenas uma cabaça cheia de vinho doce que São Pedro carregava, meio escondida, e da qual este último bebia meio secretamente.
Jesus olhou para ele e lhe perguntou: O que você está bebendo, Simão? (pois esse era seu nome antes de Jesus o chamar de Pedro)
- É vinho Senhor, você gostaria de prová-lo?
São Pedro lhe entregou a cabaça do vinho doce, e o Senhor, sedento como estava, e com o doce sabor daquele pequeno vinho, bebeu-o com grande prazer até esvaziá-lo. Depois de um tempo Jesus caiu em uma grande sonolência e deitou-se para dormir na sombra próxima.
São Pedro temia que Jesus tivesse ficado bêbado e adormecido como resultou. E pensou que ele iria punir, com seu poder milagroso, aquele líquido que o havia deixado sonolento e, em consequência, começou a pensar de que maneira ele amaldiçoaria aquela bebida que tanto amava e os vinhedos que produziam as uvas a partir das quais ela era obtida.
Quando Jesus acordou, perguntou a São Pedro de onde vinha o líquido que ele chamava de vinho, ao que ele respondeu que era obtido do fruto de uma árvore chamada figueira. Então Jesus surpreendentemente lhe disse com grande solenidade: "Feliz aquela árvore, que dá dois frutos por ano". E desde aquele dia a figueira nos deu os “breves” (figos) como o primeiro fruto e os demais figos como o segundo fruto.
Não sé quer a lenda seja verdadeira ou não, o que não podemos negar é que ela é muito bonita. Nunca a esqueci, e agora me dá grande satisfação contá-la a todos vocês, ao mesmo tempo em que me lembro daquela velha mulher que eu tanto amava, minha tia Cruz.