Mistèrio

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Sílvia C.S.P. Martinson

Os dois eram amigos inseparáveis desde que se conheceram quando ainda eram jovens.

Frequentavam os mesmos lugares tais como bailes e festas em sociedades onde podiam comprar seus ingressos e também, como a cidade em que moravam ainda não tinha o porte de uma metrópole conseguiam, com certa facilidade, penetrar nestes ambientes.

Pois foi em uma noite de baile, naquele tempo de então, quando as moças acompanhadas de seus pais ou no mínimo de suas mães iam dançar no clube. Estas sentavam as mesas já antecipadamente compradas para aquele evento.

Normalmente os bailes davam-se ao som de conjuntos musicais cujos artistas eram contratados para tocar quase toda a noite até a madrugada do dia seguinte, quando então as pessoas se recolhiam aos seus lares.

Nesses bailes as jovens costumavam ir bem vestidas e maquiadas e sentavam-se, entre sorrisos matreiros e sedutores, às mesas, aguardando que algum jovem mancebo as viesse convidar para uma dança.

Era considerado como uma grande grosseria uma jovem negar-se a dançar com um homem que lhe fizesse um convite ao qual se negasse aceitar.

O máximo que cabia à mulher então era dançar uma única música e pedir para ser levada à sua mesa, alegando, com delicadeza, estar com dor nos pés ou cansada.
Normalmente após isso era comum a dita jovem não ser convidada por mais nenhum homem naquela noite.

Os homens se comunicavam entre si narrando o ocorrido com eles e como uma forma de vingança, nenhum deles tirava mais a moça para dançar.

Bem continuando com a nossa história, os jovens mancebos de que falamos no início se chamavam respectivamente, André e Ricardo.
André e Ricardo foram, uma noite, a um baile em que se comemorava a entrada da primavera.

Vestiram-se à rigor e seguiram para o clube que se chamava Barroso.

Lá entre uma dança e outra conheceram duas jovens bastante bonitas que se encontravam, as duas, ne mesma mesa. Eram irmãs.
Com elas dançaram a noite toda, e as acompanharam juntamente com sua mãe, até a sua casa.

Deste baile e deste conhecimento resultou que ambas, Alice e Magda, vieram a se casar alguns anos depois com estes dois amigos.

Os dois amigos gostavam de ir pescar ou caçar juntos quando de preferencia longe de suas mulheres, quando então aproveitavam para tomar umas cervejas ou vinhos além da conta, ou seja, passar dos limites no consumo das bebidas e depois ficavam tão embriagados que não reconheciam nem a si mesmos.

Os anos passaram, tiveram filhos e netos. Também se aposentaram de seus trabalhos e começaram a desfrutar de um pouco mais de descanso.

O filho de um deles comprou uma casa no litoral para que a família, no verão, aproveitasse das férias junto ao mar, fugindo do calor da cidade que, havia crescido muito e se tornado uma grande e cansativa metrópole.

Em um desses verões enquanto os filhos e netos ainda não gozavam das férias, os dois amigos e cunhados dirigiram-se ao litoral e à casa do filho de André para, supostamente, prepará-la para a chegada da família, uma vez que a mesma estivera fechada por todo o período de inverno.

Grata liberdade tiveram os dois...

Foram no carro de um deles e lá chegando dirigiram-se a um bar e compraram além de comida, frutas, verduras, material de limpeza e várias garrafas de vinho e cervejas.
A noite prepararam seu jantar ao mesmo tempo em que consumiam os vinhos e mais alguma bebida alcóolica que encontraram na casa.

No dia seguinte quando a família chegou encontrou-os ajoelhados no chão da casa rezando e se benzendo.

Espantados todos os familiares lhes perguntaram o que tinha se passado, ao que eles disseram que a casa era “mal assombrada” por espíritos malignos, e por tanto, era necessário que rezassem e fizessem todos o sinal da cruz pedindo que os anjos limpassem aquele ambiente.

Arguiram que a noite toda ouviram ruídos e sons vindos dos quartos e do teto e de todas as peças da casa.

O filho de André, dono da casa, ao ouvir tal narração começou a rir sem parar sendo admoestado por seu pai que lhe disse: que com estas coisas não se brinca.

O filho que se chamava Vicente então parou de rir e contou que em verdade há muitos anos, habitavam o sótão da casa um casal de bichos e seus filhotes que somente saiam à noite para caçar morcegos e ratos e se alimentar haja vista que de dia esta raça costumava dormir.

Os dois velhos não acreditaram muito. Todavia depois de tanta bebida e de terem passado a noite rezando na “casa mal assombrada” foram enfim se deitar para dormir e se curar do susto e mais ainda da bebida pródigamente consumida.

A história se espalhou pela família e em sentido de pilhéria, cada vez que um ia ao litoral dizia:

- Vou para lá. A casa mal assombrada me espera!

Sobre el autor/a

Silvia Cristina Preissler Martinson

Nasceu em Porto Alegre, é advogada e reside atualmente no El Campello (Alicante, Espanha). Já publicou suas poesias em coletâneas: VOZES DO PARTENON LITERÁRIO lV (Editora Revolução Cultural Porto Alegre, 2012), publicação oficial da Sociedade Partenon Literário, associação a que pertence, em ESCRITOS IV, publicação oficial da Academia de Letras de Porto Alegre em parceria com o Clube Literário Jardim Ipiranga (coletânea) que reúne diversos autores; Escritos IV ( Edicões Caravela Porto Alegre, 2011); Escritos 5 (Editora IPSDP, 2013) y en español Versos en el Aire (Editora Diversidad Literaria, 2022)
Participou de concursos nacionais de contos, bem como do GRUPO DE ARTISTAS E ESCRITORES DO GUARUJA — SP, onde teve seus poemas publicados na coletânea ARAUTOS DO ATLANTICO em encontros Culturais do Guarujá.

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