O sul de Madrid nos anos 50

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Pedro Rivera Jaro

Traduzido ao português por Silvia Cristina Preissler

 

Naqueles anos, o que hoje é conhecido como Rua de San Fortunato era chamado de Bairro de San José e pertencia ao Distrito de Arganzuela-Villaverde. Vivíamos de maneira muito diferente da atual. Hoje, meu bairro possui metrô, várias linhas de ônibus, belos parques, ruas asfaltadas com calçadas amplas e bem cuidadas, hospital e ambulatório médico. Naquela época, a rua era de terra; quando chovia e passavam carroças ou veículos motorizados, que eram muito escassos, formavam-se grandes lamaçais que sujavam nossos calçados e roupas.

Meu avô Pedro, o senhor Gonzalo, o Tio Panta, Paco e, em geral, os antigos vizinhos da época colocaram lajes de granito, provenientes das demolições da Madrid do pós-guerra, como se fossem calçadas. Assim, podíamos andar ao menos por ali sem pisar na lama. Meu tio Faustino, que viveu lá até se casar e mudar-se para a rua Marcelo Usera, referia-se à nossa vizinhança como se fosse a Sibéria.

Também não havia iluminação pública noturna na rua, mas meu pai instalou uma lâmpada coberta, acima do batente da porta, que acendíamos toda vez que precisávamos sair à noite para fazer algum recado.

O sistema de esgoto chegou quando a fábrica de papelão, Cartonajes Font y Masach, o instalou desde a sua fábrica, perto da estrada de Andaluzia, até o deságue no rio Manzanares, que havia sido transformado em um rio morto devido aos despejos que acabaram matando os peixes que, quando crianças, pescávamos ali. As tubulações de resíduos da fábrica possuíam, a cada cinquenta metros, bocas de esgoto com tampas de concreto. Quando os canos entupiam, água azul ou vermelha emergia da boca antes do bloqueio, dependendo do que estava sendo produzido naquele dia. Essas águas coloridas tingiam toda a rua, incluindo os depósitos de entulhos localizados no caminho de Perales até o rio.

A água para consumo, higiene pessoal e lavagem de roupas era coletada em uma fonte pública. Usávamos potes e botijas de barro, baldes e bacias metálicas, até que, com a invenção dos plásticos, esses recipientes passaram a ser feitos desse material, que pesava menos e, caso encostasse em nossas pernas, não causava ferimentos.

No início dos anos 60, meu pai comprou uma mangueira de borracha que cobria a distância de cem metros entre nossa casa e a fonte pública. À noite, quando ninguém mais ia buscar água na fonte, enchíamos todos os recipientes que tínhamos nos pátios e, por vários dias, não precisávamos mais ir até lá.

Na metade dos anos 60, conseguimos conectar uma tomada de água na tubulação ampliada pelo Canal De Isabel II, e nunca mais precisávamos ir à fonte buscar água.

Além disso, para regar as plantas, usávamos a água do poço que meu avô Pedro havia cavado no pátio, ao lado do tanque onde lavávamos roupas sujas.

Falando das casas onde morávamos, eram térreas e não tinham aquecimento, como quase todas as casas têm hoje. Normalmente, havia apenas um cômodo onde toda a família passava a maior parte do tempo. Esse espaço geralmente era a cozinha, que possuía um fogareiro. Acendíamos o fogo com jornais velhos e gravetos, aos quais, após entrarem em combustão, adicionávamos algumas pás de carvão mineral ou antracito. Abríamos a entrada de ar para avivar as chamas e, quando já estavam bem fortes, quase a fechávamos por completo, economizando assim carvão. Meu pai encomendou ao serralheiro Alfredo uma proteção de malha metálica retangular com dois ganchos para fixá-la em barras embutidas na parede, prevenindo que o fogareiro caísse sobre nós.

Minha mãe deu outra utilidade àquela malha protetora: descobriu que as roupas molhadas, que não secavam durante os dias chuvosos, secavam rapidamente quando penduradas ali perto do fogareiro.

Ao nos preparar para dormir, sabendo que os lençóis estavam congelados, aquecíamos pequenas mantas de feltro branco na malha protetora e nos enrolávamos nelas antes de nos deitar. Depois, nos cobriam com outras mantas até o nariz.

Pela manhã, ao nos levantar, usávamos urinóis brancos com bordas azuis ou vermelhas, dependendo do modelo. Depois de nos limparmos, levávamos a urina ao pátio para descartá-la no esgoto e enxaguávamos os urinóis com água do poço.

A higiene pessoal era feita em uma bacia de cerâmica branca, onde usávamos água fria e sabão, esfregando nosso corpo com buchas de esparto. Quando meu pai, anos depois, instalou água corrente e construiu um banheiro completo em casa, sentimos como se tivéssemos entrado no paraíso. As crianças de hoje não sabem a sorte que têm de viver nesta época cheia de comodidades.

Outro dia, contarei como caminhávamos por ruas enlameadas até a escola, como éramos tratados pelos professores e sobre os serviços prestados diretamente em nossas casas, como pelo carteiro, os vendedores de telas, o botijeiro, o colono, o consertador de guarda-chuvas, o vendedor de mel, de melões, o afiador, entre outros.

Mas hoje o relato ficaria muito extenso. Espero que tenham gostado. Um abraço carinhoso, queridos leitores.

Sobre el autor/a

Pedro Rivera Jaro

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