Pedro Rivera Jaro
Traduzido ao portugués por Silvia C.S.P. Martinson
Desde o primeiro dia em que o meu pai me levou a conhecer El Rastro, quando eu tinha cerca de 10 anos, senti-me atraído por este Grande Mercado Callejero a tal ponto que, a partir dali, juntava-me com os meus amigos ou às vezes, com o meu primo Polo e íamos até ali para, curiosos, percorrer todas aquelas ruas onde se podia encontrar qualquer coisa que buscassem, um cinto de couro, um relógio, um disco de música, uma bicicleta, uma camiseta, um par de calças, qualquer ferramenta para um mecânico, um pedreiro, um carpinteiro, um eletricista ou qualquer outro ofício.
Então como agora, havia lojas estabelecidas e muitas outras que se estendiam em bancas de lona com estrutura metálica, montadas ao longo das calçadas na Ribera de Curtidores, Mira el Río, Plaza de Cascorro, Ronda de Toledo, Plaza de Vara del Rey, Carlos Arniches, Plaza del Campillo del Mundo Nuevo, etc.
Lembro-me de um domingo em que acompanhei a minha mãe até ali e compramos duas bicicletas usadas de segunda mão, uma de menina, sem barra superior entre o selim e o guidão, de cor rosa que era para a minha irmã Maribel e outra mais pequena de cor azul para os meus dois irmãos mais pequenos, por metade do que teria custado uma só se houvera sido nova.
Entre os dois, as levamos no ônibus da Colónia Agrícola, que nos levou até à esquina dos Talleres Recuero, no cruzamento da estrada de Carabanchel Alto com a de Villaverde Alto. A partir dali, as baixamos rodando, sobre suas rodas, até a rua de San Fortunato, onde ficava a nossa casa.
A minha querida mãe foi desfrutando ao longo do caminho, pensando em quanto gozariam meus irmãos, como assim o foi desde o momento em que lhes puseram os olhos nelas.
A minha mãe foi difícil discutir com meu pai, porque o dinheiro naquela época era sempre escasso, porém ao final meu pai teve que reconhecer que havia feito uma boa compra, acima de ver desfrutar aos meus três irmãos aprendendo a montar em bicicleta no enorme pátio da nossa casa, ajudados por mim, a fim de evitar que caissem ao chão.
Entre todas as ruas de El Rastro, havia uma que tinha uma atração especial para mim. Chamávamos-lhe Rua dos Pássaros, embora o seu verdadeiro nome fosse Fray Ceferino González.
Nessa rua vendia-se tudo o que era necessário para criar todo o tipo de aves, tais como galinhas, pombos, pintassilgos, canários, misturados, papagaios, araras e jacintos. Gaiolas, ração, redes de captura, molas de folha ou costelas, liga para apanhar pássaros vivos. Cães, gatos, coelhos, furões para caçar em tocas, capuzes para colocar nas bocas das tocas e evitar que fugissem, etc.
Uma vez comprei uma pomba e juntei-a a outras que tínhamos num pombal em casa. A pomba fugiu e quando voltei a vê-la estava na mesma banca onde a tinha comprado na semana anterior.
Esta rua estava cheia de gente todos os domingos, tanto que era quase impossível caminhar por ela.
Na sociedade espanhola daquela época eram bem vistos muitos costumes, que hoje em dia são impensáveis e que a lei persegue.
Hoje caminhei por essa rua e já não há nenhuma tenda de animais. Em contrapartida, há vários bares, uma pizzaria, um Hostel, um Centro Comunitário para idosos LGTBI, um lugar de pilates com um treinador pessoal, um lugar de prática de Yoga, uma Escola de Circo e um Estúdio de Arquitetura.
Nada a ver com a minha adolescência e reflexo da variação da nossa sociedade.
Na esquina com a Ribera de Curtidores, existe hoje uma loja de roupa, calçados e de esportes de sky mountain, muito boa por certo, mas no mesmo local existia uma das melhores tendas de música, onde adolescentes buscávamos e encontrávamos os discos mais modernos do momento, de 45, ou Longplays, os cartazes dos conjuntos mais conhecidos: Rolling Stones, The Beatles, Los Platters, Los Mustangs, The Shadows, Paul Anka, Nat King Cole, Frank Sinatra, etc... Aquela tenda era o máximo em modernidade musical.
E recordei de tudo isto dando um passeio, caminhando muito devagarzinho, acima e abaixo de minha recordada rua de LOS PÁJAROS.