CategoríaProsa

A avó

A

Silvia C.S.P. Martinson 

Ela estava sentada em uma cadeira de balanço e pensava em escrever e contar uma história a seus netos.

Cogitou começá-la assim: “era uma vez”...
Pegou sua caneta e um caderno onde costumava anotar seus pensamentos e começou a escrever.
Antes, porém pensou:
- Será que eles vão gostar?
Sacudiu a cabeça levemente, onde os cabelos brancos de há muito se faziam notar e um pensamento cruzou rapidamente seu cérebro como se fora um raio em dia chuvoso e lhe ocorreu:
- O que importa! O que vale é contar-lhes...
Então começou a escrever.

...Era uma vez, em uma terra distante... Nela existia um homem a que todos temiam e que não sabiam bem o por que de assim fazê-lo.
Ele era alto, loiro e forte. Vivia em uma casa simples a beira de uma estrada que se dirigia a um antigo povoado de trabalhadores rurais.

Ali já viviam poucas pessoas uma vez que as máquinas substituíram pouco a pouco o trabalho braçal e os mais jovens migraram para outras cidades onde aprenderam novas profissões e lá se estabeleceram.
Este homem, de meia idade, no entanto, ali permaneceu na casa onde havia nascido, se criado e constituído sua família.

Tinha por hábito ler muito, o que fazia amiúde, sempre que podia comprar um livro quando ia à cidade adquirir víveres ou ração para os animais que criava.

Não ia nunca à igreja local. Talvez por isso o temessem, considerando-o um herege e quem sabe até chegado aos anjos maus.
As pestes locais nunca abalaram sua casa, suas plantações ou sua criação.
Seus campos eram férteis e seus animais gozavam de bom aspecto e eram saudáveis.
Não dependia de ajuda braçal a suas lides campeiras haja vista ser extraordinariamente forte.

De sua família, mulher e filhos, contavam no povoado; que o haviam abandonado e nunca mais foram vistos.

No entanto, esta não era a verdadeira história.
A ignorância e as más línguas do povo, de ali, criaram, ao alvedrio da verdade, as mais diversas histórias, de conformidade com suas mentes distorcidas e falazes.

Uns diziam que ele matara a mulher e os filhos e os enterrara em seus campos e por isso ali a terra era tão fértil.

Outros diziam que os familiares se afogaram em um lago de água muito azul que havia nas terras dele e que nas noites, quando a lua estava cheia a se refletir, ouviam-se as vozes da mulher e dos filhos a chorar e que os mesmos, em sombras luminescentes, por ali perambulavam.

Alguns ainda sugeriram, estes mais condescendentes, que a mulher face à brutalidade dele, o abandonara fugindo com os filhos enquanto ele arava o campo.
Quanta imaginação, quanta maldade!

Na realidade a história era bem outra.
Este homem que gostava tanto de ler fora educado fora deste povoado e ali só e voltara quando adulto para cuidar de seus pais que já estavam velhinhos e não podiam mais cuidar de sua casa e de suas terras. Ali morreram e foram sepultados no cemitério da cidade vizinha, onde ele costumava comprar os livros.
De sua família ele tinha notícias sempre, porque recebia cartas dos mesmos que lhe contavam de seus progressos nos estudos, de sua vida junto a sua mãe e como estavam bem acomodados e gozavam de ótima saúde todos eles.

E isso tudo se devia a ele que abriu mão de tê-los junto a si – em um povoado de pessoas praticamente analfabetas – para enviá-los a sua casa na capital, onde poderiam usufruir de conforto e de uma boa educação.
E era para lá que se dirigia quando por alguns dias desaparecia do povoado, não sem antes deixar plenamente racionados e com água seus animais de criação.

Sempre voltava feliz e intimamente sorria ao ver os olhares desconfiados e maldosos que lhe eram dirigidos, inclusive pelo pároco local, que se diga de passagem, era um velho rabugento que ali fora esquecido pela Igreja, sem nunca ter sido reconhecido ou elevado a uma paróquia maior e mais moderna.

E assim escrevendo para seus netos a vovó foi encontrada sentada em sua cadeira de balanço, quando os mesmos chegaram da capital para visita-la, a cabeça branca recostada no espaldar, o braço caído sobre as pernas, a caneta e o caderno ao solo, completamente adormecida, não os ouviu dizerem:
- Olá vovó!

O assassinato do médico de Cespedosa de Tormes

O

Pedro Rivera Jaro 

Traduzido ao portugués por Silvia C.S.P. Martinson

A vila de Cespedosa deTormes está situada sobre a antiquíssima fronteira de Castilha e de Leon, entre as províncias de Avila e Salamanca, na zona conhecida como Alto Tormes, em referência ao dito afluente do Doro.

A maioria de seus moradores são gente humilde que se dedica ao cultivo da terra e à criação de seus animais.

No dia 10 de julho de 1912, Don Leopoldo Soler, médico titular de Cespedosa, viúvo e pai de uma menina de tão somente quatro anos de idade, apareceu no lugar onde se encontram as ruas de Pablo Prieto e a praça Doutor Ramon Martin Frutos, dessangrado pelo corte que sofria nas veias e artérias do pescoço. Ali o deixaram sentado, qualquer que queria que executasse seu assassinato.

Don Leopoldo procedia de uma boa família da capital de Salamanca. Foi um estudante brilhante e se destacou também em todas as atividades sociais. Reuniões, comícios, algazarras contavam com sua assinalada presença.

Casou-se com Basilia Cáceres, filha de um renomado e bem considerado advogado e posteriormente em 1906 obteve o lugar de médico em Cereceda, de onde em pouco tempo passou a Cespedosa de Tormes.
Muito rapidamente se converteu em um personagem relevante no povoado, junto ao prefeito, ao sacerdote, ao juiz, ao farmacêutico e aos professores. Caiu na graça do povoado, ao menos no princípio, porém em pouco tempo isso mudou porque a se saber, segundo o rumor que corria no povoado, quando visitava suas pacientes femininas, parece abusava delas e para maior delito quando via o noivo ou o marido, não se recatava em dizer: “tu jogando a partida, entretanto eu, na cama com tua mulher.”

Os varões do povoado começaram a variar sua opinião do doutor, já que sua estendida fama de Don Juan, foi motivo de despeito e ciúmes entre os homens.

A atitude do médico se agravou ao falecer sua jovem esposa Basilia, por trás de uma curta enfermidade que a levou para a tumba.
Três meses depois de enviuvar, uma menina encontrou seu corpo degolado e sem vida, sentado na rua Pablo Prieto.
Avisou ao irmão do médico, que residia na mesma casa de seu irmão e este avisou a Guarda Civil.

Um repórter do diário El Adelanto de Salamanca a quem chamavam El Timbalero, José Sanchez, com experiência em outros crimes anteriores, tentou obter informação, porém se encontrou com um muro de silêncio, como já havia ocorrido antes ao juiz instrutor Don José de la Concha.

Aparentemente o doutor era um homem muito querido e respeitado. Lamentavam muito sua morte, porém ninguém colaborava no esclarecimento do crime.

O juiz optou por deter nove homens e duas mulheres. Todos eles entraram nos calabouços com a intenção de dissuadir-lhes de romper seu silêncio. Depois dos interrogatórios por parte da Guarda Civil ficaram três suspeitos principais presos.

O primeiro deles Ciriaco Hernández, apelidado O Brucho, era o matador do povoado que por seu ofício sacrificava ovelhas, cabras e porcos, cada dia de a matança com sua hábil mão manejando as facas e conhecia a perfeição veias e artérias, assim como sua localização para uma morte rápida e segura. Tudo isto unido a uma má relação com o médico, motivada pelos comentários que corriam pelo povoado e que falavam de que a mulher do O Brucho, Gaspara, mantinha com o médico uma relação a escondidas do marido, porém é sabido que estas coisas nos povoados são conhecidas e comentadas, o que constitui motivo de ridículo e fofoca às costas do suposto cornudo.

Como diz um conhecido dito castelhano: “ Não sinto que me ponham as guampas, senão a risadinha que lhes entra quando passo.”

O Brucho havia exigido esclarecimentos chamando a acareação a Gaspara e a Don Leopoldo parece, no entanto, que não se convenceu com as explicações recebidas.

O segundo suspeito, Pablo Vallejo, Pablines, em lugar de sua esposa se tratava de sua filha, porém neste caso parece que o médico tinha a intenção de casar-se com ela ao ficar viúvo.

O terceiro suspeito era Santiago Hernández, Chaguete, como costumavam em Salamanca a chamar aos Santiagos.

Uma testemunha o localizou na última noite com vida do médico em uma taberna do povoado dizendo a dois vizinhos que havia de matar o médico.

Ainda que os interrogatórios fossem aplicados com muita dureza, os detidos negaram sua implicação uma e outra vez. Ao final foram postos em liberdade. Todo o assunto acabou sendo considerado um crime coletivo, como ocorreu na famosa obra de Fuenteovejuna, onde mataram ao Comendador todos a uma.

Durante muitos anos os médicos procuravam permanecer o menor tempo possível naquele povoado, até que foi sendo esquecida a virulência do crime e da memória coletiva.
Nunca se chegou saber pela Justiça a realidade do ocorrido, porém sim, existem comentários de alguns naturais de Cespedosa de Tormes, que falavam de que alguma família do povoado seguiu guardando um importante segredo durante várias gerações, porque um de seus membros havia abandonado o povoado na mesma noite do crime no lombo de sua mula e nunca revelou seu destino real, ainda que parece viajou até Tucuman na Argentina e ali permaneceu até a hora de sua morte, amparado no silêncio do povoado, que considerava justo o que aconteceu aquele senhorzinho que não se privava de satisfazer seu capricho à custa da honra dos demais habitantes.

Hoje em dia as condições e direitos são muito diferentes, porém então as mulheres estavam mais desprotegidas e igualmente seus familiares, quando se tratava pessoas humildes.

Um conto de inverno em Santiago de Compostela

U

Silvia C.S.P. Martinson 

O dia estava gris. Acinzentado.

No céu as nuvens corriam soltas de cor cinza quase negras, carregadas de água e prontas a despejarem-se nas calçadas.

Não havia trânsito.

Parecia que o tempo e os homens haviam parado, sumido.

Na tarde quase noite as ruas estavam desertas.

Ele caminhava só, lentamente, aspirando o ar húmido do entardecer.

Os pensamentos fluíam em seu cérebro com a lentidão de como fora sua vida e que por incrível se passara tão rapidamente ao que, tampouco, a ele, houvesse percebido.

Lutara muito, trabalhara muito, sonhara muito.

E dos sonhos? Ah! Dos sonhos seus? Pouco realizara.

Ajudara a tantos. Às suas custas outros cresceram intelectual e financeiramente. Fora professor de idiomas.

A muitos distribuiu o seu saber.

Alguns tantos o aproveitaram.

E nesta tarde gris, caminhando se perguntava: e para mim o que fiz?

Tivera amores. Tivera-os alguns. No entanto, tão fugazes e passageiros, porque aquela que havia querido junto a si  conquistara, sim, por algum tempo e agora, definitivamente a perdera.

Descobriu que ela nunca o amara. Somente o admirara por sua capacidade intelectual, porém para si ambicionava mais.

Ele queria conforto, lazer, viagens, coisas que como mero professor não lhe podia oferecer.

Tiveram filhos.

Ela os criara a seu modo e maneira de pensar. Não havia afinidade entre eles somente o interesse financeiro os movia.

Um dia ele finalmente caiu em si e se deu conta de quanto estava perdendo tempo em ser feliz face aos seus preconceitos e uma ética que a ninguém importava, muito menos à sua família.

Entendeu que o mundo, os conceitos de felicidade e responsabilidade mudam também. E que apesar de sua rigidez, acima de tudo, tinha o dever de amar a si mesmo em primeiro lugar.

Constatando tudo isso e do tempo que havia gasto em provar aos outros que era uma pessoa rígida em seus conceitos morais, entrou em profundo sentimento de perda.

Naquele dia saiu a caminhar em profunda introspecção e ao passar na frente de um bar resolveu entrar e tomar um copo de vinho para, quem sabe, aliviar a sua dor.

E assim o fez.

No entanto, os copos se sucederam um após o outro.

Embebedou-se. E semiconsciente saiu a caminhar cambaleante para sua casa. Ali chegando ninguém prestou atenção ao seu estado, somente lhes preocupou o dinheiro que havia gasto no bar.

Mesmo bêbado ele verificou com profunda tristeza a atitude de seus familiares.

No dia seguinte, já em seu estado normal tomou uma decisão. Saiu, foi ao banco, retirou todo o dinheiro da conta que tinha em conjunto com a mulher.

Voltou à casa, escreveu uma carta deixando à família seus bens materiais, pegou seu relógio que havia esquecido sobre a mesa de cabeceira, no armário do quarto tomou de uma mochila e colocou dentro dela algumas roupas necessárias ao que resolvera fazer e mais ainda todos os seus documentos.

Assim fazendo, abriu a porta da casa, saiu e fechou-a com algum estrondo.

Caminhando chegou a uma estrada onde outros caminhantes ali já se encontravam a andar, solitários como ele.

Resolveu enfim ser livre e dirigir-se ao lugar com que sempre sonhara conhecer, uma cidade aonde as pessoas costumavam ir para meditar e buscar em si mesmas a harmonia, a felicidade.

Seguiu aliviado e exultante.

A carga que carregara a tantos anos sobre os ombros definitivamente se esvaia em cada kilometro conquistado ao caminho.

Enfim era feliz.

Na casa ninguém lhe sentiu ou notou a ausência. 

Protecção contra pombos

P

Pedro Rivera Jaro 

Traduzido ao portugués por Silvia C.S.P. Martinson

Há cerca de vinte anos, aproximadamente em 2002, devido à minha situação laboral, ou melhor, devido à minha incapacidade de encontrar emprego como Economista, provavelmente por ter 52 anos e apenas três mestrados, aceitei dedicar-me ao trabalho de venda porta a porta. A venda por porta fria significava tocar à campainha das empresas e das casas particulares e oferecer os produtos da carteira.

Nessa altura, oferecia redes invisíveis e varas de 40 centímetros de comprimento com uma dupla fila de fios eretos. Ambos os produtos destinavam-se a evitar que os pombos se empoleirassem e fizessem ninhos nos edifícios que se pretendiam proteger contra os excrementos dos pombos e os danos causados nas fachadas e telhados pela acidez dos excrementos desses animais.

Um dia, quando estava de visita na rua Toledo, em Madrid, entrei numa igreja e comecei a falar com a sacristã, que me disse que eu devia explicar isto a Don Jesús, que era o pároco da igreja. Disse-me que esperasse, porque ia ver se Dom Jesus me podia receber para eu lhe explicar pessoalmente.

Dez minutos depois, regressou acompanhada pelo padre, que ouviu com muita amabilidade todo o meu repertório comercial para convencer-lhe a tirar os pobres pombos da igreja.

Depois de ter escutado todas as minhas explicações, Don Jesús, com um sorriso de comiseração, perguntou-me: "Sabe em que igreja estamos? E sem me dar tempo para responder, acrescentou: "Esta é a igreja da Virgem das Pombas".

Pensei imediatamente que tinha metido os pés pelas mãos, mas até esse dia não sabia que esta igreja tinha duas entradas, uma na rua Toledo, que era onde eu estava, e outra que eu conhecia, que se situa na rua de La Paloma, na esquina da rua Isabel Tintero.

O bom padre não podia admitir, no seu íntimo, eliminar os pombos que davam nome à igreja, por mais benefícios que pudesse obter para melhorar o seu aspecto exterior.
Mais uma vez vi que a vida nos dá lições quando menos esperamos.

Marilu

M

Silvia C.S.P. Martinson 

 Belo domingo de sol.

Vinha ela pela praça - cheia de gente, crianças a correr,alguns sentados ao sol, proseando, tomando chimarrão, confabulando, trocando beijos e juras de amor eterno – andar descontraído, de quem está acostumado a caminhar.

Vestia légs brancas e blusa azul soltinha, era do tipo baixinha, bem produzida, cabelos castanhos, profusos.

Quem a visse de longe diria tratar-se de uma jovenzinha. Não era.

Sentou-se ao meu lado no banco da praça e logo entabulou conversa:

- Tudo bem? Belo dia!

- Realmente! Bastante quente para a época!

Fiquei pensando: lá vem outra mala puxando conversa só para bisbilhotar da minha vida. Se sou casada, se tenho filhos, netos, moro aonde e até se sou mal amada... Ledo engano o meu.

Nós aqui do Sul somos muito reservados e até desconfiados com estranhos, apesar da tão propalada hospitalidade sulista. O gaúcho é um ser solitário por natureza, observador e vigilante quanto às novas amizades e às pessoas muito espontâneas.

Tipo maneiro ela, não era a jovem que pensara eu. Talvez beirava os 70 anos. Mas que setenta! Aja Deus!

E foi discorrendo com intimidade:

- Sabes, eu tenho uma filha morando lá em Natal. Sabes onde é? É casada. Filha única.
Tenho uma neta com 16 anos.
Fui recentemente morar lá, minha filha insistiu... Fiquei uns seis meses e voltei.
Não gostei do clima, não gostei do povo. Coitados! Aqui tenho muitas amigas com quem saio e me divirto. Sou separada... Tive quatro maridos ou companheiros, alguns amores, não deu certo, vá lá!. Agora tenho um companheiro. Ele não gosta de sair ou viajar que nem eu.

Nestas alturas eu já estava interessada na história dela, com a curiosidade aguçada e lhe fiz uma pergunta a fim de dar seqüência à narrativa.

- E aí como é que você faz? Perguntei!

- Ora, ele até é legal, cuida bem dos meus gatos. Tenho sete. Adoro gatos! O coitado, o nome – o nome de dele é Airton – não quer me acompanhar nas viagens, gosta mais da casa e cuida bem dela, quando não estou cozinha, lava e passa. É um amor de criatura!
Adoro viajar! Não me prendo a lugar nenhum por muito tempo, nem a ninguém, sou e sempre fui assim, andarilha. Ele sabe...
Ainda bem que não fiquei em Natal pois que minha filha arranjou serviço também em São Paulo juntamente com meu genro. Eles têm uma rede de lojas que precisam administrar.
Aí eu teria que ficar lá sozinha cuidando da neta. Vê só se pode! Longe do meu apartamento!. Tenho uma bela cobertura! Dos meus gatos, de minhas amigas, do coitado do Airton!. Ainda bem que levei pouca bagagem, não fiz a mudança completa.

Indaguei:

- Mas aqui o que você faz?

- Quando estou enjoada do Airton, de casa, ligo para as minhas amigas e saímos para nos divertir. Vamos beber, dançar, ir ao cinema, shoppings e praças. Depende do dia e da disposição.

Continuei a encorajá-la dizendo:

- Ah... A propósito nem nos apresentamos. O meu nome é Fênix e o seu?

- Marilu é como me chamam. Na realidade é Maria Luiza, mas não gosto, é complicado... Prefiro Marilu.

- Ok. Marilu. Prazer...

E ela segue:

- Olha tá vendo aquele senhor que passou? É meu conhecido. Ele está voltando. Espera...

- Oi! Tudo bom?

- Tudo bem!

Cumprimentam-se. Ele a olhou com intensidade.

- Viu! Ele faz parte da minha turma, mas contigo aqui ficou indeciso de chegar. Ele é um amor! Sozinho como eu!

Ah! Eu digo:

- E daí?

 

- Mas como te dizia o Airton é um pouco mais jovem do que eu, mas isso não tem importância não é?

Ela não espera resposta e segue:

- O que vale são as afinidades certo?

- Realmente Marilu!

Seus muitos colares, pulseiras, anéis e brincos cheios de pedrarias – até uma gargantilha com borboleta ela tinha – rebrilhavam ao sol da manhã enquanto se movia gesticulando as bijuterias.

Os óculos grandes de sombra lhe escondiam os olhos e parte das muitas rugas que lhe vincavam o rosto, devidamente disfarçadas por uma camada de base e pó. O sorriso era bonito, dentes bem cuidados. Teria sido uma mulher muito atraente e bonita quando jovem.

Seu espírito era vivaz, transpirava alegria e temperamento determinado quando falava.

Eu a ouvia.

- Olha lá! Disse ela.
Lá vem o pobre do Airton Ele chega, senta-se ao lado dela, sorri. Os dentes manchados de nicotina e falhados. A barba por fazer. Desalinhado. Mais jovem que ela, talvez uns 50 anos. Cochicham e riem.

Ela me apresenta.

- Airton esta é Fênix!

- Prazer.

- Prazer...

Senti-me naquele instante demais ali. O universo naquele momento girava somente em torno dos dois. Então lhes disse;

- Marilu, agora deixo vocês. Tenho um compromisso, preciso ir.

Prazer em lhes conhecer, felicidades...

- Prazer Fênix!

Deixei-os e quando me voltei não estavam mais lá. Iam ao longe, ela de calças brancas bem ajustadas, uma garota...

Ele de mãos dadas com ela, abrigo surrado, tênis cambaio.

Pareciam felizes! Afinal ele cuidava bem dos gatos dela e isso é o que importava.

De resto...

Figura ímpar aquela Marilu.

Valeu a pena conhece-la.

O domingo estava salvo!

O sol brilhava e segui meu caminho. Quem sabe alguma nova reunião interessante surgiria, pensei, quem sabe…

Um marido infiel

U

Pedro Rivera Jaro 

Traduzido ao portugués por Silvia C.S.P. Martinson

Minha amiga Alicia é Diretora Executiva de uma importante empresa multinacional do setor têxtil. Dentro de suas obrigações laborais tinha que planificar a implantação e desenvolvimento da rede comercial em outros países estrangeiros. Para isto tinha que viajar a estes países durante prazos de tempo que se prolongavam até três meses. E durante esses meses ela queria que sua mãe se encarregasse de vir cuidar do genro em suas ausências.

Seu marido, o genro da senhora, não tinha uma relação amistosa com a sogra e seu pretexto é de que não daria tanto trabalho, porque já era uma senhora bastante idosa, convenceu a esposa de que mais proveitoso seria contratar uma empregada interna para seu serviço e manutenção da casa.

Um par de semanas depois da saída de Alicia sua mãe se apresentou na casa do casal para comer. Quando a conheceu observou que era uma senhorita jovem, muito bonita e não lhe pareceu muito acertada a escolha.
Quando terminada a comida a sogra deu por terminada a visita e se foi a sua casa.

A criada recolheu os pratos, cobertas e demais utensílios de cozinha e os pôs na lavadora de louças.

No dia seguinte se pôs a coloca-los em suas estantes correspondentes e observou que faltava uma concha de prata com a qual havia servido a sopa no dia anterior.

Ao dia seguinte a buscou pela casa sem a encontrar e comunicou a falta ao dono da residência, que lhe recomendou que voltasse a procurar no outro dia, porque seguramente apareceria em qualquer lugar debaixo de algum móvel o assim.

No próximo dia a esteve buscando novamente e com o mesmo resultado.

Voltou a dizer ao dono e este pensou em perguntar a sua sogra se o havia visto. O fez e ela lhe respondeu que a havia deixado no quarto da criada debaixo do travesseiro.
E em ato seguinte perguntou a seu genro: Onde havia dormido todas estas noites a criada?

Meu tio Mete

M

Pedro Rivera Jaro 

Traduzido ao portugués por Silvia C.S.P. Martinson
Narrado por Emeterio Rivera

Minha família paterna é oriunda de um povoado de Toledo chamado Gerindote.

Meu avô Apolonio quando muito jovem foi levado pelo exército espanhol à guerra de Mellila no Marrocos.

Em outro momento os contarei este episódio da vida de meu avô, porém agora quero falar-lhes de meu tio Emeterio, que era o terceiro por ordem de nascimento dos cinco que tiveram meu avô Apolonio e minha avó Isabel.

Lucia, Luis, Emeterio, Felix meu pai e Victor cujo verdadeiro nome era Julian, porém chamado Victor por ser este o nome de seu padrinho.

A seguinte narração está escrita por um dos netos de meu tio Emeterio, sobre um bloco manuscrito por ele. Seu neto lhe chamava Tello,  o avô Tello.

É uma estória de um homem sensível que me foi dada, a mim, seu sobrinho Pedro.

Neste momento me embarga a emoção pela recordação de um dos meus muito queridos tios. 

Que Deus te tenha em sua gloria tio querido.

Ainda recordo quando, com um lápis me desenhava um pato sobre uma folha de papel quadriculado de um pequeno bloco.

Agora, o faço eu mesmo para minha bisneta Makenna, minha americanazinha querida de 5 anos  que vive nos Estados Unidos.

Quero que vocês saibam que em minhas histórias, não faço distinção entre esquerda e direita, porque entre outras razões, acredito firmemente que pessoas boas podem ser encontradas em todas as crenças políticas, assim como pessoas más.

Temos que nos colocar no início dos anos quarenta, conhecidos como os anos da fome na Espanha. Após uma sangrenta guerra civil, na qual os espanhóis foram colocados contra os espanhóis, a Espanha foi devastada, seus campos tornaram-se improdutivos, a nata de seu povo havia morrido, sido mutilada ou forçada a fugir para fora da Espanha, por medo de represálias por parte dos vencedores contra os vencidos. Toda a Espanha se tornou um imenso campo de prisioneiros, no qual cada prisioneiro era investigado sem pressa sobre seus antecedentes e com todas as informações que as pessoas que o conheciam podiam fornecer. Mais tarde as democracias europeias, uma vez terminada a Segunda Guerra Mundial com a derrota dos nacional-socialista alemães e dos fascistas italianos, decretaram o isolamento da Espanha, motivadas pelo fato de que o lado vencedor do exército espanhol deveria estar alinhado com os vencidos na Europa. O maná que o Plano Marshall trouxe para a Europa não deixou um único dólar na Espanha, portanto o dano foi feito, não aos nossos governantes, mas ao povo espanhol, cujas classes mais pobres sofreram o flagelo da fome e doenças como a tuberculose, com milhares de mortes entre seus habitantes.
Meu tio Emeterio, a quem sua família inteira chamou de Mete e que, quando ele se tornou avô, um de seus netos chamava-o de Tello enquanto era um menino, era o terceiro de cinco irmãos que ficaram sem mãe em 1928. Minha avó Isabel, nascida em um pequeno vilarejo de Toledo perto de Torrijos, chamado Gerindote, de onde seu marido Apolonio e seus cinco filhos também eram originários .

Ela contava que se mudou para viver em um bairro muito humilde no sul de Madri, com seu marido e filhos, onde morreu no início dos anos trinta. Meu avô Apolonio nunca quis se casar novamente e permaneceu viúvo até sua morte, trabalhando com a família Ferrando, proprietários de terras no sul de Madri (Pradolongo, San Fermín, Ciudad de los Ángeles, Orcasitas, etc.), e de um Parador de Ganados, onde os fazendeiros que traziam os animais para o matadouro de Madri e os colocavam na noite anterior à sua chegada para abate.

Meu tio Mete obsequiou-me com uma história que ele viveu quando tinha 19 ou 20 anos de idade e trabalhou em uma oficina de reparação de carruagens, de propriedade do Sr. Diego Hurtado, escrita à mão por ele, e datilografada por um de seus netos. Este relato é a maior parte do traje que eu confeccionei, cortando aqui e acrescentando ali, e que diz o seguinte:
O trabalho de conserto de carroças foi muito difícil, muito diferente do de um carpinteiro ou marceneiro. Neste ofício, foi utilizada madeira de carvalho para os raios e para os fusos das rodas, choupo preto para os cubos, também para as rodas, as vigas e toda a estrutura da carruagem. As cinzas também foram utilizadas para as pernas. O ferro também foi usado extensivamente na fabricação de um carrinho, na fabricação dos pneus e aros dos cubos das rodas, barras laterais e placas de reforço. Todo este ferro teve que ser preparado e forjado na forja à mão, usando martelos e tornos. Na forja eles tinham um fole para acender o carvão e para fazer furos no ferro, eles tinham uma furadeira com um volante que tinha que ser movido manualmente, porque naquela época eles não tinham outro meio mais conveniente de fazê-los.

A oficina estava localizada no sul de Madri, no bairro de Las Carolinas, perto da antiga estrada da Andaluzia, agora chamada Calle de Antonio López, em cuja estrada uma linha ferroviária atravessava, com uma passagem de nível com barreiras, onde os veículos que viajavam ao longo dela, quando um trem se aproximava abaixava as barreiras, paravam até terminar de passar e depois retomavam sua viagem.

Numa tarde muito fria de dezembro, quando estavam trabalhando na oficina, chegou um homem com uma carroça puxada por uma mula. Era uma carroça muito bonita, do tipo valenciano, com seu toldo e cortinas, bem pintados, e com uma arca no fundo, onde os motoristas da carroça carregavam seus pertences pessoais, além da carga de mercadorias que estavam transportando.

Este senhor entrou na oficina dizendo que tinha sido atingido na lateral da carroça que havia se quebrado, então ele precisava consertá-la. O mestre da oficina lhe disse para deixá-la por mais um dia, pois naquela época não havia espaço interno para trazer a carroça para dentro, e estava muito frio lá fora para poder trabalhar. Mas o homem insistiu tanto que finalmente convenceu o mestre, que disse a Emeterio para ir lá fora e consertá-lo. Emeterio o fez, pegando as ferramentas e saindo para a rua, onde o vento norte soprava e estava gelado.

O proprietário da carroça ficou dentro da oficina e começou a conversar com o mestre ao lado da forja. Enquanto meu tio Mete reparava a carroça, a certa altura ele ficou curioso para ver o que estava dentro da arca e levantou a tampa de madeira que a fechava. Entre outras coisas, havia muitos pequenos fardos de paus com cerca de 10 centímetros de comprimento e um saco de pano com dois pães redondos dentro, cada um com cerca de 35 centímetros de diâmetro. Os olhos de Emeterio foram atraídos por aqueles dois pães, pois já havia muito tempo que ele não via um pão assim. Além dos pães, junto a eles, havia duas salsichas, cada uma medindo cerca de 50 centímetros quando esticadas. Havia também uma panela de barro novinha em folha cheia de fatias de coelho com chouriço em óleo.

Embora estivesse com muita fome, Emeterio colocou a tampa de volta no baú e a deixou exatamente como a havia encontrado no início. Para lhes dar uma ideia de como meu tio Mete estava com fome naquela época, lhes direi que todas as tardes, quando saíam da oficina, ele e seu parceiro Diego, que tinha a mesma idade que ele, e filho do Mestre, iam ao Mercado Central de Frutas e Vegetais em Legazpi, que ficava perto da oficina, lá descarregavam laranjas dos caminhões e para este trabalho lhes davam e cada um deles um bom saco de laranjas e algumas beterrabas que, uma vez fatiadas e assadas, pareciam tão saborosas e enganavam a fome maldita pela qual estavam passando.

Emeterio prosseguiu com seu trabalho, preparou duas placas de ferro e entrou na oficina para fazer alguns furos nelas. Naquele momento, o dono da carroça estava sendo engraçado, dizendo ao Mestre algo que o fazia rir alto, referindo-se aos feixes de palitos de dentes que ele havia armazenado na arca da carroça. Ele disse que alguns dias antes, quando estava chegando ao longo da estrada, viu uma acácia deitada no chão, que havia sido arrastada pelo vento. Ele parou junto a ela e carregou dois braços cheios de galhos da árvore na carroça e fez fardos de quatro paus cada um, sentado na carroça enquanto a mula o levava para o próximo vilarejo na província de Toledo. Quando entrou na aldeia, com os fardos já feitos, colocados em uma cesta, começou a proclamar: "Bastões de ouro para curar a diarreia das crianças" (naqueles dias muitas crianças morriam de diarreia). As mães da aldeia compraram todos os cachos que ele tinha na cesta, a dois reais por cacho. O Mestre e seu filho Diego não riram da venda dos pedaços de ouro, porque o nome da aldeia onde o vigarista os havia vendido era Gerindote, onde meu pai, meu tio Mete e todos os membros de minha família paterna haviam nascido. Meu tio Emeterio percebeu que o vigarista ganhava a vida enganando pessoas humildes e isso lhe causava um profundo desejo de vingança, pelo mal que estava fazendo ao brincar com a dor de outras pessoas. Ele saiu da oficina para terminar de consertar o carro e chamou Diego com a desculpa de que precisava dele e mostrou-lhe o conteúdo da arca, que quando o viu disse a Emeterio: "vamos tirar um pedaço de pão dele", porque se os olhos do meu tio Mete estavam indo, as mãos de Diego já estavam vindo. Meu tio lhe disse que tudo era por sua própria conta. Entrarei na oficina e se você ver que ele vai sair, bata duas vezes com o martelo na grande bigorna duas vezes para me avisar. Eu cuidarei do resto, meu tio lhe disse.

Na rua, naquela tarde fria, ninguém passava por ali. Em frente à oficina havia um terreno onde eles iam construir um galpão e tinham descarregado uma carga de blocos para fazê-lo. Meu tio subiu na pilha de blocos e retirou três deles para um lado, colocou o saco com o pão, as salsichas e o guisado no buraco que ficou, e colocou os blocos de volta em cima para cobrir tudo.

Então ele entrou na oficina e disse a seu mestre que a carroça estava consertada. O Mestre e o motorista da carroça foram para a rua e, após pagar pelos reparos, o dono da mesma convidou o Mestre para tomar uma bebida em um bar perto da estrada, onde ambos entraram no veículo.

Depois de um tempo o Maestro voltou à oficina e cerca de uma hora depois o motorista da carroça voltou à oficina e nos disse que eles haviam levado parte da comida que ele carregava. Emeterio perguntou-lhe onde ele havia deixado a carroça quando entraram no bar, porque se a tivessem deixado do lado de fora, a teriam tirado dele, e disse ainda que: como os veículos pararam na passagem de nível, havia muitos ladrões por perto para roubar deles. O mestre reforçou esta explicação e o proprietário do carro teve que sair resignado à sua perda.

No final do dia de trabalho, o mestre foi para casa e depois Diego e Emeterio, que ficaram para limpar a oficina, saíram à procura de seu tesouro escondido.

Eles o levaram para a oficina, onde o esconderam no que acharam ser o lugar mais seguro, mas não sem antes recolher uma ração para cada um deles. Depois foram para Legazpi, mas não para trabalhar no mercado e sim entraram em um cinema que existia lá, ao lado da entrada do Metrô. Uma vez dentro do cinema, ambos começaram a comer avidamente. Naquele dia eles estavam assistindo o filme La Salvaora, de Lola Flores e Manolo Caracol, mas as pessoas ao seu redor estavam mais interessadas no que estavam comendo do que em assistir ao filme. Durante 5 dias eles estavam comendo do conteúdo do baú da carroça. Em um dos dias eles convidaram um menino de mais ou menos de sua idade com um pedaço de pão e um pedaço de linguiça, porque os olhos do pobre não paravam de vaguear atrás da comida e a eles lhes deu um pouco de compaixão.

Durante aqueles cinco dias, quando minha tia Lucía, sua irmã mais velha que estava encarregada de criar e cuidar de todos os irmãos, lhe serviu o mingau que comiam todas as noites para o jantar, porque não tinham nada melhor, Emeterio não estava com fome. Isso era bom para os outros irmãos, que eram mais capazes de satisfazer seu apetite, mas ela estava preocupada com a falta de apetite de Emeterio, que não ousava explicar a ela por que estava tão relutante.

Meu tio Mete lamentava ter jogado fora aquela nova panela de barro e a deixou no pátio da casa da família, o que muito estranhou a minha tia Lucía que se fartou de perguntar a todos os seus irmãos de onde tinha vindo a panela. Foi um esforço inutil porque ninguém sabia, exceto o tio Mete, que não abriu a boca e fingiu não saber de nada.

Depois de um ano, Diego e Emeterio, ao acabar-se a comida voltaram ao mercado todas as tardes para descarregar caminhões e contaram ao Mestre o que havia acontecido, mas ele não gostou. Depois de um tempo ele os desculpou, percebendo que a maldade do motorista da carroça mais do que merecia o comportamento dos dois meninos, posto que não hesitasse em abusar do desespero das mães de Gerindote em tempos tão difíceis como aqueles.

Crecemos con a rádio

C

Pedro Rivera Jaro 

Traduzido ao portugués por Silvia C.S.P. Martinson

Nos anos cinquenta minha mãe comprou um receptor de rádio da marca Telefunken.

Aquele aparelho era caríssimo para a época, quinhentas pesetas. Era um aparelho de válvulas muito bonito e potente receptor, que recebia emissoras de muitas cidades de toda Europa. Uma de essas emissoras me ficou gravada pela raridade do nome que não era outro senão HILVERSUN. Aquele receptor o comprou minha mãe em uma loja que se chamava El Ojo Mágico na rua Toledo 45 de Madri, onde trabalhava como dependente Elena Palomino, irmã de Paco, o marido da prima Carmen e que era lindíssima, ao menos me parecia. Elena se casou anos depois com um farmacêutico um tanto mais velho que ela e que tinha a farmácia na Rua Mayor, muito perto da praça de mesmo nome de Madri.

Meu pai encomendou a Saturnino, meu vizinho que era carpinteiro de ofício, um suporte quadrado de madeira envernizada e o fixou na parede da cozinha de nossa casa, justamente em cima da mesa, na qual comíamos os seis membros da família, à altura de 1,80 metros. Sobre este suporte se manteve o aparelho de rádio anos e anos. Eu passava muitíssimo tempo escutando e aprendendo de tudo que emitiam pela querida rádio. Recordo que meu pai na hora da comida nos exigia silencio, porque lhe gostava escutar o PARTE.

O PARTE eram as notícias do que vemos na televisão e que chamamos Telediário. Isto provinha de Parte da Guerra que emitia a Radio Nacional nos tempos da Guerra Civil Espanhola.

Todos temos na memória a última parte da guerra do dia um de abril de 1939, porém, creio, será preferível não voltar a recordá-lo. Foram tempos muito duros para os vencedores e mais duros para os vencidos. Eu nasci em 1950 e minhas recordações não incluem aqueles primeiros anos do pós guerra, graças a Deus, porém sim os conheci através de terceiras pessoas que viveram aqueles tristes anos. Embora não gostassem de recordar as privações, as perseguições, os encarceramentos, sempre captava conversações, retalhos do que haviam vivido.

Crescemos com o Rádio, porém o rádio nos transportava a outros mundos muito mais bonitos. Minha mãe escutava as séries irradiadas de Guillermo Sautier Casaseca por exemplo. Recordo Ama Rosa. El Derecho de Nacer. Também recordo da série Dos Hombres Buenos.

Porém como menino que era, o que mais desfrutei foram os contos que contavam cada dia, como por exemplo La Tabla de Multiplicar, Galgos o Podencos, que nos preparavam para a vida de adultos com suas correspondentes moralidades. Aqueles dois coelhos que entretidos em discutir se os cachorros que os perseguiam eram galgos ou eram cães de caça se esqueceram de continuar fugindo e caíram em seus dentes.

Este conto me ensinou que não podemos distrair-nos do que é importante para discutir o acessório.

Outros contos que não esqueço são: La ratita Sabia, La Gallina Marcelina,(que era uma galinha com muita tradição, visto que era de sua avó o Ovo de Colombo), Garbancito, El Gallo Kiriko (a quem ninguém queria limpar o bico para ir ao casamento de seu tio Perico) e El Enano Saltarin.

Todas as manhãs, às 10 horas começava um programa chamado Conozca a Sus Vecinos, aonde aqueles que tivessem preocupações artísticas iam cantar nos microfones da rádio para chegarem a ser conhecidos pelo grande público. Os patrocinadores dos programas anunciam seus produtos através de suas canções comerciais, que meninos aprendíamos e cantávamos em voz alta. Cola Cao ( eu sou aquele negrinho), Okal Almacenes Ruiz (se me queres ver feliz é preciso que me leves aos Armazéns Ruiz, de Hortaleza 19) e Muebles Cabezón.

Nos fins de semana os locutores Bobby Deglané e José Luis Pecker nos convidavam a Cabalgata Fin de Semana e domingo de tarde Carrusel, com seu seguimento de futebol, permitia a meu querido pai comprovar os resultados das partidas e checar os resultados dos pools com a ilusão de acertar os quatorze e fazer-se milionário da noite para o dia. Matilde Vilariño, Pedro Pablo Ayuso, Juana Ginzo, se convertiam em divertidos personagens como: Matilde, Perico e Periquin. As cinco da tarde, La Portera y sus Vecinos, faziam rir a audiência com suas graciosas ocorrências e igualmente sucedia ao meio-dia com La Saga de Los Porretas.

Grandes profissionais que ganhavam os Premios Ondas e Antena de Oro, dirigiam programas de grandes audiências, como por exemplo , Joaquin Prats e Alberto Oliveiras com Ustedes Son Formidables. Havia programas que aparentemente eram para as tardes das damas, porém eram seguidos por inumeráveis varões, como era o caso do Consultorio de Elena Francis, que seguia na antena oitenta.

Recordo de programas solidários tais como a Operación Clavel o qual dirigia o grande Boby Deglané e que recolhia ajudas para os afetados pela inundações de 1961, sofridas pelos sevilhanos.

Mais tarde houve outro programa quando das inundações de Vallés na Catalunha.
Outro grandíssimo profissional do radio, Joaquin Peláez dirigiu a Operación Plus Ultra que selecionava autênticos heróis infantis para que espalhassem seu magnifico exemplo entre os demais meninos.

Humoristas como Gila e Pepe Iglesias El Zorro me fizeram rir sem parar com suas noites hilariantes.

Não acabaria nunca de contar minhas recordações do rádio, tendo em conta que até 1964 não chegou o primeiro televisor a minha casa e assumiu os cuidados da atenção familiar, porém não quero terminar este fio sem mostrar meu agradecimento ao que se chama Peticiones del Oyente, aonde a pedido de familiares e amigos nos chegava <a felicitação de aniversário, mediante as canções em moda, interpretadas pelos cantores mais famosos do momento. Juanito Valderrama cantava El Emigrante, dedicada a aquele filho que estava trabalhando na Alemanha, ou Su Primera Comunión se se tratava do mês de maio e da celebração das comunhões, que então eram grandes celebrações. Antonio Molina nos cantava Soy minero, Angelillo nos levava por seu Camino Verde e tantos outros músicos que com suas composições alegravam nossas vidas.

Quero expressar meu agradecimento a todos os profissionais do radio que com seu esforço, como continuam fazendo-o hoje em dia, nos ajudaram a superar aquela Espanha que tutava contra a desigualdade que nos diferenciava do resto da Europa.

Houve anos em que a gente pensava que a televisão acabaria destruindo o radio, porém o correr do tempo demonstrou que o radio, por sua própria constituição, por seu imediatismo, supera em muitos aspectos a televisão.

Tudo que aprendi de menino escutando aquela Telefunken de válvulas me serviu ao largo de minha vida, de igual modo que me serviram, os ensinamentos de meus pais e de meus mestres.

Durante as noites de meus muitos anos trabalhando como taxista noturno, meu querido radio esteve me acompanhando e há conseguido que as horas transcorressem com presteza

Hoje aos meus 73 anos sigo, escutando cada manhã, o radio e nos fins de semana escuto a Pepa y su No es um día Cualquiera, fazendo-me sentir como se estivesse entre grandes amigos.

Espero não haver vos entediado com minhas recordações. Desejo-vos, a vós outros, que sua vida transcorra com a maior placidez.

O descabeçado

O

Silvia C.S.P. Martinson 

Um lugar. Um planeta. Ano, 3.145.

As cidades são enormes, não há prédios altos, edifícios como os que conhecemos hoje. São casas de dois ou três pisos, adequadas às necessidades populacionais, que possuem luz própria e refulgem nos mais diferentes tons, quando, sobre elas, refletem os raios dos dois sóis que abastecem de energia este planeta gigantesco.

Tais casas são transparentes à visão interna podendo-se observar plenamente o que se passa em seu exterior sem que a privacidade de seus habitantes seja perturbada por olhares porventura curiosos.
Aliás, o povo deste planeta não é nem um pouco curioso.

Falemos agora, sobre o povo residente para, posteriormente, narrarmos a estória propriamente dita.

Povo estranho para nossas atuais concepções, tanto física quanto psiquicamente.
Seus corpos não se deterioram quando são deixados. E deixados, como veremos mais adiante, é literalmente o termo mais correto.

São criaturas fisicamente quase iguais. Mesma textura, mesma altura – por sinal, extremamente altos e belos – cabelos ou pretos ou louros, olhos castanhos ou azuis, pele de cor amorenada, segundo nossos atuais parâmetros de cor. Os homens têm o mesmo porte altivo e são sexualmente bem dotados. As mulheres, portadoras de fartas cabeleiras, têm seios avantajados e torso e nádegas e pernas bem torneados. Sexualmente, todas elas, especialmente atraentes

Nestas cidades tudo é programado. Como as criaturas não necessitam alimentar-se da forma tradicional, basta-lhes aspirar aos eflúvios vindos dos “alimentos” – oriundos das formas básicas milenares – processados e altamente energéticos. Não há produção e trabalho braçais. Não há campos a lavrar.

Portanto, os seres executam somente serviços de ordem intelectual, destinados a manutenção e conservação da governabilidade e da paz e isto acontece em pequenos períodos do dia, que dura, em média, 36 horas.

Todos os cidadãos obedecem à ordem programada; as segundas-feiras é o dia do afeto-sexual, as terças são dedicadas à alimentação, as quartas se encontram e confraternizam com os habitantes do mesmo bairro, as quintas reúnem-se em um grande anfiteatro da cidade para ouvir música e aumentarem seu “acervo de sons”, as sextas saem a caminhar, quando então, as calçadas e as ruas rolantes são paradas para tal mister. Aos sábados todos ficam em suas casas, tratando de suas roupas e utensílios, pondo-os em ordem. Neste dia circulam os únicos veículos, chamados RECOLHEDORES, pela cidade. Mais tarde falaremos especificamente sobre eles. Aos domingos todos dormem.
Como se vê são cidades super organizadas.
A propósito as criaturas, seus habitantes, são chamados e conhecidos por números e não por nomes.

Um Bilhão e Quinze Mil era o nome dele. Sua mulher chamava-se Um Bilhão e Vinte Mil. Intimamente apelidaram-se de Biquin ele e Bevin ela. Estavam acostumados.
É aqui que começa a nossa estória.
Biquin após ter dormido com sua mulher Bevin todo o domingo, acordou segunda-feira sentindo-se estranho, não estava como sempre tão disposto ao “afeto-sexual.”

Ela como sempre nestes dias (segundas-feiras) chegou-se a ele com os grandes e rijos seios semi a mostra, o corpo aquecido e úmido, as nádegas quase vibrantes e encostou-se, pressionou-se a ele, ao seu corpo, fazendo com que a sentisse inflamada e disposta ao coito.

Como lhe percebesse certa frieza, coisa até então nunca sentida, por parte dele, pegou sua mão e conduziu-a lentamente sobre seus seios fazendo-a deslocar-se até sua genitália, que nestas alturas já vibrava aquecida e umidificada, exalando o perfume que lá colocara antecipadamente. Semicerrou os olhos e entreabriu a boca para receber-lhe a língua poderosa.Ele cedeu. Um frêmito passou-lhe por todo o corpo acendendo seu desejo. Copularam o dia todo, das mais diferentes e ousadas maneiras.
É necessário que se diga: As mulheres destas cidades as segundas-feiras, sempre, sem exceção, recebiam e procuravam seus maridos seminuas, de olhos semicerrados e bocas entreabertas, corpo excessivamente quente, levemente molhado e perfumado.

Terça-feira – Dia da alimentação.
Biquin colocou as pílulas energizantes, dele e dela, em recipientes próprios e separados. Borrifou-os com um líquido especial. Imediatamente vapores começaram a sair daquelas, sendo aspirados individualmente por cada qual. Isto por várias horas. Ao fim do dia estavam energizados.

Quarta-feira. Biquin ainda com uma impressão estranha de incompletude, como se algo estivesse a lhe escapar do controle, um sentimento vago e inquietante de ausência – coisa que nunca sentira desde que se dera conta de si, isso há tanto tempo que já não sabia mais precisar – dirigiu-se com sua mulher, meio-contrafeito, à reunião do bairro para conversar, trocar idéias com seus confrades, aos quais, no entanto, não expôs suas atuais sensações.
Na quinta-feira, como sempre, todo o povo dirigiu-se ao anfiteatro para ouvir música e aumentar o seu “acervo de sons”. Biquin e Bivin, inevitavelmente, também foram.
Sentados em confortáveis cadeiras, em silêncio, preparavam-se para a audição.
A música, que era transmitida por enormes e complexos aparelhos, se espalhou no ar. Era como sempre calmante. Acrescida, no entanto, de novos sons, que, paulatinamente, iam sendo registrados em seus cérebros, incorporando-se ao seu “acervo”.

Foi neste exato momento, mais propriamente naquele dia que Biquin começou a compreender o que lhe ocorria e então se fez algumas perguntas que não soube responder:
- Por que necessitamos de ouvir música e aumentar nossos “acervos”?
- Por que ouvir música se já a temos registrada em nossos cérebros?! Podendo ouvi-la intimamente sempre e quando quisermos.
- Por que todo o povo necessita reunir-se no anfiteatro?
Terminou o dia, a audição e todos retornaram aos seus lares.

Amanheceu, os sóis brilhavam, as casas resplandeciam. Era sexta-feira.

As perguntas feitas a si próprio, inquietantemente, continuavam a martelar na cabeça de Biquin.

As ruas e calçadas rolantes estavam paradas.
As criaturas andavam aos pares caminhando sem pressa por muitos quilômetros, circundando parques, ruas, avenidas. Era necessário movimentar-se, como se engrenagens novas, recentemente lubrificadas, fossem postas em ação para ajustar-se e melhor desempenharem suas funções. Era obrigatório o movimentar-se.

Biquin sentou-se em um banco de praça, estava inexplicavelmente cansado, nunca isto lhe ocorrera. Fez sinal a Bevin para que seguisse sozinha à caminhada obrigatória. Ela o olhou longamente, uma lágrima, uma única, correu-lhe pela face, disfarçou, disse-lhe adeus e seguiu.

O desânimo era grande demais nele. As perguntas não respondidas assomavam insistentemente ao seu cérebro. E aos poucos uma idéia estranha, inusitada, começou a envolvê-lo, obstinadamente, retirando-lhe toda lógica e entregando-o somente a um desejo violento de:
Desenroscar do corpo a cabeça. Seria isto possível?

Sozinho na praça, já entardecia, ele iniciou sua tentativa. Por incrível que pareça acreditou ser possível. E, lentamente, começou a desenroscar sua cabeça. No início ocorreram alguns estalos, como se as peças por falta de uso estivessem emperradas. Mas com um pouquinho mais de força e um estalo maior ela começou a mover-se. Primeiramente em ângulo de vinte e cinco graus, após quarenta e cinco, passou rapidamente aos cento e oitenta e finalmente aos trezentos e sessenta graus. Já não se surpreendia, ao contrário, uma grande sensação de alívio o acometeu. Só faltava, agora, retirá-la do pescoço.
Foi o que fez. Colocou-a delicadamente ao seu lado no banco. Já não sabia se era corpo ou se era cabeça. Mas o que importava agora?!
Ao seu redor as coisas, as imagens, os sons foram se desvanecendo e desapareceram por completo.

Só restou um corpo e uma cabeça que, naquele planeta, não se deterioravam.
Por sua vez Bivin, em seu lar, sentou em um sofá e desligou-se de todos os seus sentidos. Para sempre.

Na sala de Controle de População do grande complexo governamental, onde se decidiam da criação ou extinção de “criaturas programadas”, na frente de uma enorme tela televisiva Tresbieum (Três bilhões e um milhão) diz a Tresbiedois (Três bilhões e dois milhões), esses eram seus nomes:
- Finalmente desligados Biquin e ela! Tudo ocorreu como o programado. Estavam velhos e obsoletos, só ocupavam espaço. Sua tecnologia estava ultrapassada, não havia conserto nem reparos a serem feitos. As peças não existem mais.
Agora haverá um lar a mais para os futuros pares.
- Realmente, mas você Trisbieum há de concordar comigo em alguma coisa, já que somos tão diferentes...
Como eram bonitos e perfeitos, para a época em que foram criados, os nossos pais, você não acha?
- Sim, nossos pais!

Mas isto já não importa, amanhã é sábado e os caminhões RECOLHEDORES os levarão para a reciclagem de materiais. É sempre assim...
- Ainda bem que domingo dormiremos.

É necessário, ainda, que se explique que neste planeta quando um dos cônjuges era desativado o outro, inevitavelmente, o seguia em sua sina.

Amor paternofilial

A

Pedro Rivera Jaro 

Traduzido ao portugués por Silvia C.S.P. Martinson
Fotografía: Makkena, bisnieta del autor. Album familiar de Pedro Rivera Jaro

Eu posso compreender muitas coisas porque tenha lógica e porque sucedem comumente a muitas pessoas. Por exemplo: a ruptura de casais que antes sentiram grande amor entre eles, porém as circunstancias da vida o esgotaram.

O que não entendo e não poderei entender nunca, é que se esqueçam dos filhos que foram fruto desse amor, que é justamente o caso ocorrido nos anos trinta com meu primo Joselin e logo se há repetido, fazem 6 anos com minha bisneta Makenna.

Os obstetras advertiram a minha tia Santa, irmã mais velha de minha mãe, e a meu tio José, seu esposo, no parto de Joselin, que não tivesse mais gravidez porque lhes custaria a vida da mãe e do bebê.

Dois anos depois se cumpriu a predição do médico e minha tia Santa perdeu sua vida assim como a vida do bebê em seu seguinte parto

Em pouco tempo o tio José desapareceu da vida de seu filho Joselin ao emparelhar-se com outra mulher, com a qual teve dois filhos. Ao primeiro deles voltou a pôr o nome José, algo muito criticado pela nossa família, cujos membros (meu avô Pedro, meus tios, minhas tias y minha mãe) se ocuparam de criar com todo carinho a meu primo.

Quis o destino que aquele segundo filho que teve por nome José, falecesse esmagado contra uma parede por um caminhão quando o próprio pai o estava estacionando. Houve algum membro de nossa família que manifestou que se tratava de um castigo de Deus, porém eu sempre havia pensado que Deus não podia participar em um ato de castigo a um mau pai, que terminasse com o falecimento de um menino inocente.

Aquele mau pai voltou a fazer parte da vida de Joselin quando este se casou na idade de vinte e tantos anos.

Minha mãe lhe jogou na cara o esquecimento em que ele havia mantido a seu filho primogênito e o bom senhor deu por desculpa que, seu filho quando o via pela rua lhe apedrejava. Cada um que opine o que prefere.
Graças a Deus o menino teve o carinho e os mimos de toda a família e principalmente de minha mãe e de meu avô Pedro e não sentiu a terrível falta de seus pais.

Muitos anos depois voltei a viver um caso similar nos Estados Unidos na pessoa de3 minha querida bisneta Makenna, que cumprirá 7 anos no próximo mês de Janeiro de 2024.

Ela é filha mais velha de Nicole minha neta mis velha a qual enamorada de Devan, um companheiro de seu colégio, e seu primeiro noivo, formou um casal com ele sendo muito jovens, e com 18 anos trouxe a menina a este mundo.

Como em dois anos depois do nascimento da menina, seu pai Devan se enamorou de outra mulher que já tinha três meninos de outras relações anteriores, saiu da casa matrimonial e começou a viver com ela e seus 3 filhos.
Na atualidade tem 2 meninos mais, fruto desta nova relação de Devan.

Até aqui tudo normal com o arranjo e os costumes da sociedade em que vivem. O que já não acho normal é que Devan se tenha esquecido de que Makenna está no mundo.
Nunca vem vê-la, nunca lhe presenteia, nunca em um aniversário, nenhum São Klaus, nenhum fim de semana...
Que tristeza! Que pena!

Afortunadamente é uma preciosa menina que vive com sua avó Diana, minha filha e com seu esposo Jessie e que a todos queremos muitíssimo e que é espertíssima e cheia de vitalidade.

Não lhe faltam jogos, não lhe faltam presentes, não lhe falta carinho e nem sequer lhe falta amor de seu Daddy, que é como Makenna chama a seu autêntico papai Jessie, que sente por ela a mesma paixão que a menina sente por ele.

Quem perde neste caso é Devan, seu pai genético, que nunca saberá a preciosa menina que Deus lhe presenteou e que há esquecido.
Os filhos não pedem para vir ao mundo, somos os adultos que os trazemos e somente os miseráveis esquecem que eles também foram crianças e que necessitaram do carinho de meus mais velhos para amadurecer sem carências afetivas nem materiais.

Síguenos