Autor/aSilvia Cristina Preissler Martinson

Nasceu em Porto Alegre, é advogada e reside atualmente no El Campello (Alicante, Espanha). Já publicou suas poesias em coletâneas: VOZES DO PARTENON LITERÁRIO lV (Editora Revolução Cultural Porto Alegre, 2012), publicação oficial da Sociedade Partenon Literário, associação a que pertence, em ESCRITOS IV, publicação oficial da Academia de Letras de Porto Alegre em parceria com o Clube Literário Jardim Ipiranga (coletânea) que reúne diversos autores; Escritos IV ( Edicões Caravela Porto Alegre, 2011); Escritos 5 (Editora IPSDP, 2013) y en español Versos en el Aire (Editora Diversidad Literaria, 2022) Participou de concursos nacionais de contos, bem como do GRUPO DE ARTISTAS E ESCRITORES DO GUARUJA — SP, onde teve seus poemas publicados na coletânea ARAUTOS DO ATLANTICO em encontros Culturais do Guarujá.

O gringo

O

Silvia C.S.P. Martinson

 O conheci quando era eu ainda muito jovem.
Era vizinho de meus tios e primos.
Viviam em, casas situadas uma ao lado da outra e somente separadas por uma cerca que isolava os jardins contidos em cada uma delas.
O bairro era simples porém muito habitado e bem localizado dentro da cidade então, até hoje, a capital do Estado do Rio Grande do Sul – Brasil. A cidade chamava-se e ainda se chama Porto Alegre.
 
Pois bem, nesta rua e numa destas casas nasceram meus primos Pedro e Margarida. Eram seus pais, minha tia Luiza e seu marido Oscar.
 
Pedro e Margarida, que era a menor dos dois, ali creceram, se educaram e casaram.
Já o vizinho ao lado que se chamava Genaro, de origem italiana, como bem o demonstra seu nome, era uma pessoa muito extrovertida.
 
Como todo italiano, até aonde se sabe, tinha uma voz potente e quando estava em casa de volta de seu trabalho, no verão, ficava de bermudas e uma camiseta sem mangas que mostrava toda sua enorme barriga pois que, geralmente, como todos de sua raça, gostava de comer boas e suculentas comidas.
 
Pois assim era Genaro naqueles tempos.
Ele ia ao quintal de sua casa e ali ficava, em alta voz, a cantar as músicas de que gostava em italiano.
 
A mulher de Genaro chamava-se Yolanda e como ele, também, era de origem italiana. Os dois tinham duas filhas, muito educadas que, com o passar dos anos e o estudo, se tornaram professoras, o que para a época significava, para as mulheres, quase o máximo de educação que poderiam alcançar as filhas de operários se não se tornassem dependentes de maridos e mães de família.
 
Estas senhoritas chamavam-se respectivamente Andréa e Sofia. Nasceram, cresceram e casaram-se naquela rua.
Junto com meus primos passaram toda a infância ali, brincando, brigando e discutindo, todavia apoiando-se mutuamente quando necessário.
 
E assim a vida seguiu seu ritmo normal até a adolescência e maioridade deles, quando então, cada um de acordo com sua vocação foi trabalhar.
 
Voltemos então a Genaro.
Genaro era um homem muito alegre e um grande contador de histórias e anedotas a que todos os vizinhos gostavam de ouvir e rir muito quando ele assim as narrava, o que acontecia frequentemente.
 
Outra mania que se conhecia de Genaro era de que aos domingos ele se arrumava com suas melhores roupas e ia ao Prado para apostar nos cavalos de corrida.
 
Quando perguntado aonde ia tão elegante ele, entre risos e chacotas, dizia que ia visitar sua amante favorita. E ante a sua maneira de ser todos ficavam a rir de sua forma jocosa de falar dos cavalos. Inclusive sua mulher e filhas.
E assim os anos se passaram saindo Genaro todos os domingos à tarde para ir ao Prado, sempre sozinho.
 
Acontece que por ser muito comilão e já ter uma idade mais ou menos avançada, em um fim de semana, mais precisamente em um domingo, ao final da tarde, depois de voltar do “Prado”, Genaro sofreu um infarto fulminante e morreu.
 
Minha família foi avisada e compareceu ao féretro. No dia do enterro, mais precisamente no velório, na capela, quando ali se encontrava o morto, a família e os amigos, chegou uma senhora acompanhada de três filhos a quem ninguém conhecia.
 
Ela se aproximou do caixão, chorava muito e exclamava: Genaro! Genaro! Amor de minha vida! Aqui estou com nossos filhos para dar-te a despedida! Porque te vais e deixas a mim tua Prado? Sim, tua Prado! A mulher de toda tua vida!
 
Os amigos se benzeram, o padre suspendeu as orações pelo morto, as filhas ficaram perplexas se estarrecidas.
 
A viúva Iolanda arregalou os olhos, foi ao caixão, fechou a tampa com um estrondo e caiu, ao chão, desfalecida.
 
Os amigos e a família se retiraram e somente restou ao lado do morto Genaro sua sempre e querida Prado.

O pão nosso de cada dia

O

SIlvia C.S.P. Martinson 

“Como cresce uma rosa entre paralelepípedos.
Como floresce um cacto no deserto.
Assim resiste a alegria entre explosões.
Assim triunfa a vida entre os mortos.”
 
Caminhando pela manhã, como normalmente faço, observando a Natureza e os homens e mulheres que passam, muitas vezes alheios a tanta beleza que nos envolve, fiquei a ver e a pensar...
 
O Sol brilha intensamente refletindo na água seus raios, sua luz.
 
Luz esta que nos aquece, envolve e permite que a vida se manifeste em todo seu esplendor.
As gaivotas pousadas nas águas tranquilas, buscam nelas seu sustento, não se apuram, pacificamente aguardam o que a natureza lhes possa ofertar. Após o que, alçam o voo e no céu azul perdem-se em bandos, rumo a outras paragens, talvez seus ninhos, certamente seu lar.
 
Vêm-se no horizonte os barcos que seguem seu destino e nele e desaparecem. O que carregam, o que buscam? Tampouco o sabemos.
 
Pessoas caminham pela calçada que circunda a praia.
 
Praia esta onde as ondas se derramam suavemente na placidez desta manhã, emitindo sons que nos fazem sentir como que embalados nos braços de nossas mães.
 
E as pessoas continuam andando, algumas juntas outras solitárias.
 
As observo e ouço, de algumas, suas vozes, suas conversas, suas histórias.
Falam de suas vidas, de seus anseios, de suas dores, de sua saúde e de seus amores.
 
Outras seguem solitárias em seu caminhar e me pergunto: o que estarão a pensar?
 
A algumas, ainda, as vejo e as ouço a falar mal da vida e de outras pessoas, a cuidar do que estão a conversar e alheias, sem perceberem, a intenção destas  que querem envolver-se em problemas que não lhes dizem respeito.
 
Há uma grande quantidade de gente, percebo, envolvida com seus celulares (telefones) sem prestar a mínima atenção ao que se passa ao seu derredor.
 
Veio-me à cabeça a tão famosa frase: ...”O pão nosso de cada dia ganharás com o suor de teu rosto.” 
 
Todos os homens em sua grande maioria, em que lugar da Terra que se encontrem, observam o princípio acima mencionado.
Infelizmente apesar de muitas vezes o conseguirem, os homens, por incrível, através de guerras e destruição de lares, cidades e populações, causam miséria e fome. 
 
Em realidade ainda somos muito primários no conceito do que é amar.
 
Por que não levantamos o olhar para encarar frente a frente às benesses que recebemos de poder viver, experienciar e apreciar a beleza em todas as suas formas em que nos é ofertada, em cada dia que nasce e em cada dia que anoitece, quando o céu se tolda cheio de estrelas e eventualmente a Lua se mostra em seu máximo esplendor?
 
Ou quem sabe visualizar nas tormentas, que inundam as terras ressequidas, a oportunidade de voltarem plantas a renascer e florescer em toda sua magnificência?
 
Este é o pão nosso de cada dia que recebemos e muitas vezes não vemos e não sabemos agradecer.
 
E assim caminhando lentamente e pensando volto a minha casa, ao meu lar, ao meu mundo.
 
Lentamente. Lentamente...

Fugir

F

Silvia C.S.P. Martinson

À longe vou caminhar
e ninguém me vai encontrar,
porque vou andar
por estrelas e galáxias
nos céus acima daqui.
E por lugares distantes
a alegria e a paz acharei.
A esquecer e apagar
da Terra e de meu lar,
do meu coração o farei,
de um amor desmedido
que quis ofertar,
desprezado por medo,
medo de voltar a renascer.
Vou a muito longe andar
em busca da noite, do luar,
das estrelas, que sobre a tundra
sua luz deixam, ao escurecer,
até que que um novo dia;
a termine por romper.

A avó

A

Silvia C.S.P. Martinson 

Ela estava sentada em uma cadeira de balanço e pensava em escrever e contar uma história a seus netos.

Cogitou começá-la assim: “era uma vez”...
Pegou sua caneta e um caderno onde costumava anotar seus pensamentos e começou a escrever.
Antes, porém pensou:
- Será que eles vão gostar?
Sacudiu a cabeça levemente, onde os cabelos brancos de há muito se faziam notar e um pensamento cruzou rapidamente seu cérebro como se fora um raio em dia chuvoso e lhe ocorreu:
- O que importa! O que vale é contar-lhes...
Então começou a escrever.

...Era uma vez, em uma terra distante... Nela existia um homem a que todos temiam e que não sabiam bem o por que de assim fazê-lo.
Ele era alto, loiro e forte. Vivia em uma casa simples a beira de uma estrada que se dirigia a um antigo povoado de trabalhadores rurais.

Ali já viviam poucas pessoas uma vez que as máquinas substituíram pouco a pouco o trabalho braçal e os mais jovens migraram para outras cidades onde aprenderam novas profissões e lá se estabeleceram.
Este homem, de meia idade, no entanto, ali permaneceu na casa onde havia nascido, se criado e constituído sua família.

Tinha por hábito ler muito, o que fazia amiúde, sempre que podia comprar um livro quando ia à cidade adquirir víveres ou ração para os animais que criava.

Não ia nunca à igreja local. Talvez por isso o temessem, considerando-o um herege e quem sabe até chegado aos anjos maus.
As pestes locais nunca abalaram sua casa, suas plantações ou sua criação.
Seus campos eram férteis e seus animais gozavam de bom aspecto e eram saudáveis.
Não dependia de ajuda braçal a suas lides campeiras haja vista ser extraordinariamente forte.

De sua família, mulher e filhos, contavam no povoado; que o haviam abandonado e nunca mais foram vistos.

No entanto, esta não era a verdadeira história.
A ignorância e as más línguas do povo, de ali, criaram, ao alvedrio da verdade, as mais diversas histórias, de conformidade com suas mentes distorcidas e falazes.

Uns diziam que ele matara a mulher e os filhos e os enterrara em seus campos e por isso ali a terra era tão fértil.

Outros diziam que os familiares se afogaram em um lago de água muito azul que havia nas terras dele e que nas noites, quando a lua estava cheia a se refletir, ouviam-se as vozes da mulher e dos filhos a chorar e que os mesmos, em sombras luminescentes, por ali perambulavam.

Alguns ainda sugeriram, estes mais condescendentes, que a mulher face à brutalidade dele, o abandonara fugindo com os filhos enquanto ele arava o campo.
Quanta imaginação, quanta maldade!

Na realidade a história era bem outra.
Este homem que gostava tanto de ler fora educado fora deste povoado e ali só e voltara quando adulto para cuidar de seus pais que já estavam velhinhos e não podiam mais cuidar de sua casa e de suas terras. Ali morreram e foram sepultados no cemitério da cidade vizinha, onde ele costumava comprar os livros.
De sua família ele tinha notícias sempre, porque recebia cartas dos mesmos que lhe contavam de seus progressos nos estudos, de sua vida junto a sua mãe e como estavam bem acomodados e gozavam de ótima saúde todos eles.

E isso tudo se devia a ele que abriu mão de tê-los junto a si – em um povoado de pessoas praticamente analfabetas – para enviá-los a sua casa na capital, onde poderiam usufruir de conforto e de uma boa educação.
E era para lá que se dirigia quando por alguns dias desaparecia do povoado, não sem antes deixar plenamente racionados e com água seus animais de criação.

Sempre voltava feliz e intimamente sorria ao ver os olhares desconfiados e maldosos que lhe eram dirigidos, inclusive pelo pároco local, que se diga de passagem, era um velho rabugento que ali fora esquecido pela Igreja, sem nunca ter sido reconhecido ou elevado a uma paróquia maior e mais moderna.

E assim escrevendo para seus netos a vovó foi encontrada sentada em sua cadeira de balanço, quando os mesmos chegaram da capital para visita-la, a cabeça branca recostada no espaldar, o braço caído sobre as pernas, a caneta e o caderno ao solo, completamente adormecida, não os ouviu dizerem:
- Olá vovó!

Eu sei

E

Silvia C.S.P. Martinson

Sei que lembrarás de mim,
no vento que passa,
na flor que se abre,
na primavera que chega,
na chuva que se vai.
Lembrarás eu sei,
na saudade que fica,
no verde do mar,
no profundo sentido,
da onda que se esvai,
no ciclo dos tempos
e na lágrima que cai.
Sei que lembrarás, eu sei,
em cada dia que nasce,
em cada tarde que morre,
na noite que chega silente,
como a gota,
compassada, dolente,
nas águas mansas que seguem,
na palmeira que se debruça
e na sombra dos pinheirais.
Na tristeza de mais um sonho,
teu, que na bruma se esvai.
Eu... Sei.

Um conto de inverno em Santiago de Compostela

U

Silvia C.S.P. Martinson 

O dia estava gris. Acinzentado.

No céu as nuvens corriam soltas de cor cinza quase negras, carregadas de água e prontas a despejarem-se nas calçadas.

Não havia trânsito.

Parecia que o tempo e os homens haviam parado, sumido.

Na tarde quase noite as ruas estavam desertas.

Ele caminhava só, lentamente, aspirando o ar húmido do entardecer.

Os pensamentos fluíam em seu cérebro com a lentidão de como fora sua vida e que por incrível se passara tão rapidamente ao que, tampouco, a ele, houvesse percebido.

Lutara muito, trabalhara muito, sonhara muito.

E dos sonhos? Ah! Dos sonhos seus? Pouco realizara.

Ajudara a tantos. Às suas custas outros cresceram intelectual e financeiramente. Fora professor de idiomas.

A muitos distribuiu o seu saber.

Alguns tantos o aproveitaram.

E nesta tarde gris, caminhando se perguntava: e para mim o que fiz?

Tivera amores. Tivera-os alguns. No entanto, tão fugazes e passageiros, porque aquela que havia querido junto a si  conquistara, sim, por algum tempo e agora, definitivamente a perdera.

Descobriu que ela nunca o amara. Somente o admirara por sua capacidade intelectual, porém para si ambicionava mais.

Ele queria conforto, lazer, viagens, coisas que como mero professor não lhe podia oferecer.

Tiveram filhos.

Ela os criara a seu modo e maneira de pensar. Não havia afinidade entre eles somente o interesse financeiro os movia.

Um dia ele finalmente caiu em si e se deu conta de quanto estava perdendo tempo em ser feliz face aos seus preconceitos e uma ética que a ninguém importava, muito menos à sua família.

Entendeu que o mundo, os conceitos de felicidade e responsabilidade mudam também. E que apesar de sua rigidez, acima de tudo, tinha o dever de amar a si mesmo em primeiro lugar.

Constatando tudo isso e do tempo que havia gasto em provar aos outros que era uma pessoa rígida em seus conceitos morais, entrou em profundo sentimento de perda.

Naquele dia saiu a caminhar em profunda introspecção e ao passar na frente de um bar resolveu entrar e tomar um copo de vinho para, quem sabe, aliviar a sua dor.

E assim o fez.

No entanto, os copos se sucederam um após o outro.

Embebedou-se. E semiconsciente saiu a caminhar cambaleante para sua casa. Ali chegando ninguém prestou atenção ao seu estado, somente lhes preocupou o dinheiro que havia gasto no bar.

Mesmo bêbado ele verificou com profunda tristeza a atitude de seus familiares.

No dia seguinte, já em seu estado normal tomou uma decisão. Saiu, foi ao banco, retirou todo o dinheiro da conta que tinha em conjunto com a mulher.

Voltou à casa, escreveu uma carta deixando à família seus bens materiais, pegou seu relógio que havia esquecido sobre a mesa de cabeceira, no armário do quarto tomou de uma mochila e colocou dentro dela algumas roupas necessárias ao que resolvera fazer e mais ainda todos os seus documentos.

Assim fazendo, abriu a porta da casa, saiu e fechou-a com algum estrondo.

Caminhando chegou a uma estrada onde outros caminhantes ali já se encontravam a andar, solitários como ele.

Resolveu enfim ser livre e dirigir-se ao lugar com que sempre sonhara conhecer, uma cidade aonde as pessoas costumavam ir para meditar e buscar em si mesmas a harmonia, a felicidade.

Seguiu aliviado e exultante.

A carga que carregara a tantos anos sobre os ombros definitivamente se esvaia em cada kilometro conquistado ao caminho.

Enfim era feliz.

Na casa ninguém lhe sentiu ou notou a ausência. 

Convite

C

Silvia C.S.P. Martinson 

Leva-me a caminhar pelas estradas.
Faz-me esquecer do que não quero,
daquilo que junto a mim
ainda resta e perdura,
desta solidão, toda a amargura
daquela ausência tão tua.

Quero andar junto a ti, loucuras
as minhas, querer-te tanto assim
que como o perfume do jasmim
em meu corpo, tu, ainda perduras.

E me perderei em teus braços,
em mil beijos e abraços
a noite nos verá entrelaçados
de tudo e todos esquecidos.

Deixa-me ouvir-te? Não me canso,
tua voz a mim é remanso
quando aceitas o convite feito,
embalas os meus sonhos.

E em teu peito, enfim, descanso.

Marilu

M

Silvia C.S.P. Martinson 

 Belo domingo de sol.

Vinha ela pela praça - cheia de gente, crianças a correr,alguns sentados ao sol, proseando, tomando chimarrão, confabulando, trocando beijos e juras de amor eterno – andar descontraído, de quem está acostumado a caminhar.

Vestia légs brancas e blusa azul soltinha, era do tipo baixinha, bem produzida, cabelos castanhos, profusos.

Quem a visse de longe diria tratar-se de uma jovenzinha. Não era.

Sentou-se ao meu lado no banco da praça e logo entabulou conversa:

- Tudo bem? Belo dia!

- Realmente! Bastante quente para a época!

Fiquei pensando: lá vem outra mala puxando conversa só para bisbilhotar da minha vida. Se sou casada, se tenho filhos, netos, moro aonde e até se sou mal amada... Ledo engano o meu.

Nós aqui do Sul somos muito reservados e até desconfiados com estranhos, apesar da tão propalada hospitalidade sulista. O gaúcho é um ser solitário por natureza, observador e vigilante quanto às novas amizades e às pessoas muito espontâneas.

Tipo maneiro ela, não era a jovem que pensara eu. Talvez beirava os 70 anos. Mas que setenta! Aja Deus!

E foi discorrendo com intimidade:

- Sabes, eu tenho uma filha morando lá em Natal. Sabes onde é? É casada. Filha única.
Tenho uma neta com 16 anos.
Fui recentemente morar lá, minha filha insistiu... Fiquei uns seis meses e voltei.
Não gostei do clima, não gostei do povo. Coitados! Aqui tenho muitas amigas com quem saio e me divirto. Sou separada... Tive quatro maridos ou companheiros, alguns amores, não deu certo, vá lá!. Agora tenho um companheiro. Ele não gosta de sair ou viajar que nem eu.

Nestas alturas eu já estava interessada na história dela, com a curiosidade aguçada e lhe fiz uma pergunta a fim de dar seqüência à narrativa.

- E aí como é que você faz? Perguntei!

- Ora, ele até é legal, cuida bem dos meus gatos. Tenho sete. Adoro gatos! O coitado, o nome – o nome de dele é Airton – não quer me acompanhar nas viagens, gosta mais da casa e cuida bem dela, quando não estou cozinha, lava e passa. É um amor de criatura!
Adoro viajar! Não me prendo a lugar nenhum por muito tempo, nem a ninguém, sou e sempre fui assim, andarilha. Ele sabe...
Ainda bem que não fiquei em Natal pois que minha filha arranjou serviço também em São Paulo juntamente com meu genro. Eles têm uma rede de lojas que precisam administrar.
Aí eu teria que ficar lá sozinha cuidando da neta. Vê só se pode! Longe do meu apartamento!. Tenho uma bela cobertura! Dos meus gatos, de minhas amigas, do coitado do Airton!. Ainda bem que levei pouca bagagem, não fiz a mudança completa.

Indaguei:

- Mas aqui o que você faz?

- Quando estou enjoada do Airton, de casa, ligo para as minhas amigas e saímos para nos divertir. Vamos beber, dançar, ir ao cinema, shoppings e praças. Depende do dia e da disposição.

Continuei a encorajá-la dizendo:

- Ah... A propósito nem nos apresentamos. O meu nome é Fênix e o seu?

- Marilu é como me chamam. Na realidade é Maria Luiza, mas não gosto, é complicado... Prefiro Marilu.

- Ok. Marilu. Prazer...

E ela segue:

- Olha tá vendo aquele senhor que passou? É meu conhecido. Ele está voltando. Espera...

- Oi! Tudo bom?

- Tudo bem!

Cumprimentam-se. Ele a olhou com intensidade.

- Viu! Ele faz parte da minha turma, mas contigo aqui ficou indeciso de chegar. Ele é um amor! Sozinho como eu!

Ah! Eu digo:

- E daí?

 

- Mas como te dizia o Airton é um pouco mais jovem do que eu, mas isso não tem importância não é?

Ela não espera resposta e segue:

- O que vale são as afinidades certo?

- Realmente Marilu!

Seus muitos colares, pulseiras, anéis e brincos cheios de pedrarias – até uma gargantilha com borboleta ela tinha – rebrilhavam ao sol da manhã enquanto se movia gesticulando as bijuterias.

Os óculos grandes de sombra lhe escondiam os olhos e parte das muitas rugas que lhe vincavam o rosto, devidamente disfarçadas por uma camada de base e pó. O sorriso era bonito, dentes bem cuidados. Teria sido uma mulher muito atraente e bonita quando jovem.

Seu espírito era vivaz, transpirava alegria e temperamento determinado quando falava.

Eu a ouvia.

- Olha lá! Disse ela.
Lá vem o pobre do Airton Ele chega, senta-se ao lado dela, sorri. Os dentes manchados de nicotina e falhados. A barba por fazer. Desalinhado. Mais jovem que ela, talvez uns 50 anos. Cochicham e riem.

Ela me apresenta.

- Airton esta é Fênix!

- Prazer.

- Prazer...

Senti-me naquele instante demais ali. O universo naquele momento girava somente em torno dos dois. Então lhes disse;

- Marilu, agora deixo vocês. Tenho um compromisso, preciso ir.

Prazer em lhes conhecer, felicidades...

- Prazer Fênix!

Deixei-os e quando me voltei não estavam mais lá. Iam ao longe, ela de calças brancas bem ajustadas, uma garota...

Ele de mãos dadas com ela, abrigo surrado, tênis cambaio.

Pareciam felizes! Afinal ele cuidava bem dos gatos dela e isso é o que importava.

De resto...

Figura ímpar aquela Marilu.

Valeu a pena conhece-la.

O domingo estava salvo!

O sol brilhava e segui meu caminho. Quem sabe alguma nova reunião interessante surgiria, pensei, quem sabe…

Uma caçada perdida

U

Silvia C.S.P. Martinson 

 Seu nome Louis Frederico Guilherme. Vivia em uma pequena cidade chamada Ijuí, no estado do Rio Grande do Sul-Brasil, localizada na serra gaúcha.

Meus avós juntamente com outros colonos vindos da Europa ali se estabeleceram, compraram suas terras porque naquela época não havia o costume de doarem-se terras aos imigrantes.
Mas, como estou lhes contando neste inicio de estória, os imigrantes ali se estabeleceram, fundando uma nova cidade e trazendo com eles seus costumes, aptidões de trabalho, idiomas e religiões.

Meus avós eram alemães, pelos menos assim se diziam e até porque, era o único idioma falado na casa. Os conheci pouco, já eram bastante idosos quando eu nasci. Meu pai era o mais novo de 10 irmãos e filho de um segundo casamento de meu avô que ficara viúvo.

Meus pais viviam na capital longe da cidade de Ijuí.

As viagens à casa de meus avós somente se davam ao final do ano, nas férias de verão.
Lembro-me que levávamos um dia inteiro de viagem, no carro de meu pai, por estradas de terra vermelha e muita poeira somente para chegarmos, à noite, muito sujos e com as caras tapadas por aquele pó, ou ao contrário se minha mãe conseguisse que parássemos em um posto de gasolina, aberto, lavávamos as mãos e o rosto.

De qualquer forma esta viagem era sempre, para nós, motivo de alegria e nos parecia comumente uma grande aventura.
Louis F. Guilherme, pelos íntimos e amigos era chamado de Willy, assim me lembro. Ele era casado com a irmã de meu pai chamada Martha e viviam em uma das casas de meus avós.

Casa esta ocupava, em sua totalidade, incluindo jardins e a garagem que se situava fora da casa, quase cem metros. Estava muito bem localizada em uma esquina em pleno centro da cidade, cerca da praça central, da igreja luterana e da estação de rádio local.
Meu avô tinha um grande açougue que abastecia com seus produtos boa parte da população de então.

Nesta cidade o idioma predominante era o alemão que meus avós, assim como meu pai e seus irmãos falavam fluentemente e escreviam com perfeição.

Meu tio Willy era um homem bonito e inteligente, tinha cultura e também muita soberba. Havia sido professor de matemáticas.
Quando o conheci teria eu talvez uns seis ou sete anos, porém lembro-me dele perfeitamente por vários motivos.

Trajava bem, sempre com camisas brancas impecáveis as quais trocava duas vezes ao dia, face à terra vermelha que havia ali e que em tudo se entranhava. Era um homem muito rígido em seus costumes e nós crianças lhe tínhamos certo medo.

Quando ele chegava à casa do trabalho, pois àquela época já era um grande negociante do ramo de exportação de trigo, o qual consistia na grande produção daquele município e região, todos tratavam de obedecer-lhe.

Meus primos tratavam então de apresentar-lhe seus trabalhos da escola e executar ao piano, que havia na casa, as músicas que haviam aprendido e que a ele lhe gostava. Meus primos tocavam muito bem piano. Educação musical em nossa família era uma das prioridades.

Bem, continuando, tio Willy era adepto das caçadas, o que fazia amiúde com seus amigos.
Tinha várias armas de caça que guardava sempre bem fechadas, lubrificadas e cuidadas em um armário da casa onde somente ele tinha acesso e cuja chave trazia sempre com ele.

Também possuía três cachorros perdigueiros os quais havia treinado para suas caçadas.
Um dos cachorros, o mais bonito que me lembro, chamava-se Pacha. Pacha era um perdigueiro de raça pura, branco e marrom-claro, com longas orelhas, dócil com nós outros crianças, porém muito obediente a qualquer ordem dada por meu tio.

Quando o conheci já estava quase cego, seus olhos lacrimejavam constantemente e vivia deitado à porta da casa. Passados alguns anos fiquei sabendo o que acontecera com ele.

Em uma caçada em que meu tio e outros homens participavam, os cachorros saíram a perseguir a caça com latidos cada vez mais fortes até o ponto em que estancaram e pararam de latir.

Meu tio deu ordem a Pacha que avançasse o que a princípio este não obedeceu.
Então ele, com ênfase gritou: Avança Pacha! Avança Pacha! Avança Pacha!

Esta era a ordem a que Pacha estava acostumado, sem titubear, a obedecer para pegar a caça entre seus dentes e trazê-la até seu dono.

Soube que Pacha obedeceu, porém o que trouxe ao seu dono foi uma cobra cascavel, altamente venenosa, que lhe havia picado no peito.

Pacha a havia matado, porém ali mesmo tombou quase morto pelo veneno.
Meu tio desesperado lhe aplicou o soro antiofídico que sempre levava nas caçadas e voltou imediatamente à cidade a procura de um veterinário.

Dizem que neste dia, pela primeira vez na vida, os amigos viram Willy chorar. Ele amava aquele cachorro.

O tempo passou, meu tio não mudou sua maneira de ser e hábito de dominar as demais pessoas, o que por suposto, futuramente, lhe trouxe muitos desgostos com sua família.
Pacha se recuperou, porém nunca mais foi caçar, foi ficando cada vez mais cego – sequelas do veneno da serpente – e um cachorro triste e velho.

Soube muito tempo depois que ele se escondeu debaixo de uma escada em um canto escuro para morrer. Como um amigo fiel e para não dar trabalho a ninguém assim o fez Pacha.

Morreu só.

O descabeçado

O

Silvia C.S.P. Martinson 

Um lugar. Um planeta. Ano, 3.145.

As cidades são enormes, não há prédios altos, edifícios como os que conhecemos hoje. São casas de dois ou três pisos, adequadas às necessidades populacionais, que possuem luz própria e refulgem nos mais diferentes tons, quando, sobre elas, refletem os raios dos dois sóis que abastecem de energia este planeta gigantesco.

Tais casas são transparentes à visão interna podendo-se observar plenamente o que se passa em seu exterior sem que a privacidade de seus habitantes seja perturbada por olhares porventura curiosos.
Aliás, o povo deste planeta não é nem um pouco curioso.

Falemos agora, sobre o povo residente para, posteriormente, narrarmos a estória propriamente dita.

Povo estranho para nossas atuais concepções, tanto física quanto psiquicamente.
Seus corpos não se deterioram quando são deixados. E deixados, como veremos mais adiante, é literalmente o termo mais correto.

São criaturas fisicamente quase iguais. Mesma textura, mesma altura – por sinal, extremamente altos e belos – cabelos ou pretos ou louros, olhos castanhos ou azuis, pele de cor amorenada, segundo nossos atuais parâmetros de cor. Os homens têm o mesmo porte altivo e são sexualmente bem dotados. As mulheres, portadoras de fartas cabeleiras, têm seios avantajados e torso e nádegas e pernas bem torneados. Sexualmente, todas elas, especialmente atraentes

Nestas cidades tudo é programado. Como as criaturas não necessitam alimentar-se da forma tradicional, basta-lhes aspirar aos eflúvios vindos dos “alimentos” – oriundos das formas básicas milenares – processados e altamente energéticos. Não há produção e trabalho braçais. Não há campos a lavrar.

Portanto, os seres executam somente serviços de ordem intelectual, destinados a manutenção e conservação da governabilidade e da paz e isto acontece em pequenos períodos do dia, que dura, em média, 36 horas.

Todos os cidadãos obedecem à ordem programada; as segundas-feiras é o dia do afeto-sexual, as terças são dedicadas à alimentação, as quartas se encontram e confraternizam com os habitantes do mesmo bairro, as quintas reúnem-se em um grande anfiteatro da cidade para ouvir música e aumentarem seu “acervo de sons”, as sextas saem a caminhar, quando então, as calçadas e as ruas rolantes são paradas para tal mister. Aos sábados todos ficam em suas casas, tratando de suas roupas e utensílios, pondo-os em ordem. Neste dia circulam os únicos veículos, chamados RECOLHEDORES, pela cidade. Mais tarde falaremos especificamente sobre eles. Aos domingos todos dormem.
Como se vê são cidades super organizadas.
A propósito as criaturas, seus habitantes, são chamados e conhecidos por números e não por nomes.

Um Bilhão e Quinze Mil era o nome dele. Sua mulher chamava-se Um Bilhão e Vinte Mil. Intimamente apelidaram-se de Biquin ele e Bevin ela. Estavam acostumados.
É aqui que começa a nossa estória.
Biquin após ter dormido com sua mulher Bevin todo o domingo, acordou segunda-feira sentindo-se estranho, não estava como sempre tão disposto ao “afeto-sexual.”

Ela como sempre nestes dias (segundas-feiras) chegou-se a ele com os grandes e rijos seios semi a mostra, o corpo aquecido e úmido, as nádegas quase vibrantes e encostou-se, pressionou-se a ele, ao seu corpo, fazendo com que a sentisse inflamada e disposta ao coito.

Como lhe percebesse certa frieza, coisa até então nunca sentida, por parte dele, pegou sua mão e conduziu-a lentamente sobre seus seios fazendo-a deslocar-se até sua genitália, que nestas alturas já vibrava aquecida e umidificada, exalando o perfume que lá colocara antecipadamente. Semicerrou os olhos e entreabriu a boca para receber-lhe a língua poderosa.Ele cedeu. Um frêmito passou-lhe por todo o corpo acendendo seu desejo. Copularam o dia todo, das mais diferentes e ousadas maneiras.
É necessário que se diga: As mulheres destas cidades as segundas-feiras, sempre, sem exceção, recebiam e procuravam seus maridos seminuas, de olhos semicerrados e bocas entreabertas, corpo excessivamente quente, levemente molhado e perfumado.

Terça-feira – Dia da alimentação.
Biquin colocou as pílulas energizantes, dele e dela, em recipientes próprios e separados. Borrifou-os com um líquido especial. Imediatamente vapores começaram a sair daquelas, sendo aspirados individualmente por cada qual. Isto por várias horas. Ao fim do dia estavam energizados.

Quarta-feira. Biquin ainda com uma impressão estranha de incompletude, como se algo estivesse a lhe escapar do controle, um sentimento vago e inquietante de ausência – coisa que nunca sentira desde que se dera conta de si, isso há tanto tempo que já não sabia mais precisar – dirigiu-se com sua mulher, meio-contrafeito, à reunião do bairro para conversar, trocar idéias com seus confrades, aos quais, no entanto, não expôs suas atuais sensações.
Na quinta-feira, como sempre, todo o povo dirigiu-se ao anfiteatro para ouvir música e aumentar o seu “acervo de sons”. Biquin e Bivin, inevitavelmente, também foram.
Sentados em confortáveis cadeiras, em silêncio, preparavam-se para a audição.
A música, que era transmitida por enormes e complexos aparelhos, se espalhou no ar. Era como sempre calmante. Acrescida, no entanto, de novos sons, que, paulatinamente, iam sendo registrados em seus cérebros, incorporando-se ao seu “acervo”.

Foi neste exato momento, mais propriamente naquele dia que Biquin começou a compreender o que lhe ocorria e então se fez algumas perguntas que não soube responder:
- Por que necessitamos de ouvir música e aumentar nossos “acervos”?
- Por que ouvir música se já a temos registrada em nossos cérebros?! Podendo ouvi-la intimamente sempre e quando quisermos.
- Por que todo o povo necessita reunir-se no anfiteatro?
Terminou o dia, a audição e todos retornaram aos seus lares.

Amanheceu, os sóis brilhavam, as casas resplandeciam. Era sexta-feira.

As perguntas feitas a si próprio, inquietantemente, continuavam a martelar na cabeça de Biquin.

As ruas e calçadas rolantes estavam paradas.
As criaturas andavam aos pares caminhando sem pressa por muitos quilômetros, circundando parques, ruas, avenidas. Era necessário movimentar-se, como se engrenagens novas, recentemente lubrificadas, fossem postas em ação para ajustar-se e melhor desempenharem suas funções. Era obrigatório o movimentar-se.

Biquin sentou-se em um banco de praça, estava inexplicavelmente cansado, nunca isto lhe ocorrera. Fez sinal a Bevin para que seguisse sozinha à caminhada obrigatória. Ela o olhou longamente, uma lágrima, uma única, correu-lhe pela face, disfarçou, disse-lhe adeus e seguiu.

O desânimo era grande demais nele. As perguntas não respondidas assomavam insistentemente ao seu cérebro. E aos poucos uma idéia estranha, inusitada, começou a envolvê-lo, obstinadamente, retirando-lhe toda lógica e entregando-o somente a um desejo violento de:
Desenroscar do corpo a cabeça. Seria isto possível?

Sozinho na praça, já entardecia, ele iniciou sua tentativa. Por incrível que pareça acreditou ser possível. E, lentamente, começou a desenroscar sua cabeça. No início ocorreram alguns estalos, como se as peças por falta de uso estivessem emperradas. Mas com um pouquinho mais de força e um estalo maior ela começou a mover-se. Primeiramente em ângulo de vinte e cinco graus, após quarenta e cinco, passou rapidamente aos cento e oitenta e finalmente aos trezentos e sessenta graus. Já não se surpreendia, ao contrário, uma grande sensação de alívio o acometeu. Só faltava, agora, retirá-la do pescoço.
Foi o que fez. Colocou-a delicadamente ao seu lado no banco. Já não sabia se era corpo ou se era cabeça. Mas o que importava agora?!
Ao seu redor as coisas, as imagens, os sons foram se desvanecendo e desapareceram por completo.

Só restou um corpo e uma cabeça que, naquele planeta, não se deterioravam.
Por sua vez Bivin, em seu lar, sentou em um sofá e desligou-se de todos os seus sentidos. Para sempre.

Na sala de Controle de População do grande complexo governamental, onde se decidiam da criação ou extinção de “criaturas programadas”, na frente de uma enorme tela televisiva Tresbieum (Três bilhões e um milhão) diz a Tresbiedois (Três bilhões e dois milhões), esses eram seus nomes:
- Finalmente desligados Biquin e ela! Tudo ocorreu como o programado. Estavam velhos e obsoletos, só ocupavam espaço. Sua tecnologia estava ultrapassada, não havia conserto nem reparos a serem feitos. As peças não existem mais.
Agora haverá um lar a mais para os futuros pares.
- Realmente, mas você Trisbieum há de concordar comigo em alguma coisa, já que somos tão diferentes...
Como eram bonitos e perfeitos, para a época em que foram criados, os nossos pais, você não acha?
- Sim, nossos pais!

Mas isto já não importa, amanhã é sábado e os caminhões RECOLHEDORES os levarão para a reciclagem de materiais. É sempre assim...
- Ainda bem que domingo dormiremos.

É necessário, ainda, que se explique que neste planeta quando um dos cônjuges era desativado o outro, inevitavelmente, o seguia em sua sina.

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